Técnico do Instituto Reação, Geraldo Bernardes guarda as maiores histórias do judô brasileiro

Descobridor da medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos, Rafaela Silva, uma das principais figuras do projeto social “Instituto Reação”, técnico por anos da seleção brasileira e um os pioneiros do Judô no Brasil, Geraldo Bernardes encontrou para o JORNAL DA BARRA toda sua trajetória de vida e como nasceu sua paixão pelo esporte. Ele também ressalta toda força de seu programa social ao lado de Flávio Canto. Sem medir palavras Geraldo declara participar de um projeto importante para transformação de pessoas.

 Conte-nos um pouco sobre como surgiu o amor pelo judô?

Eu comecei a fazer judô aos 15 anos de idade, procurei o judô, pois eu era muito agressivo e queria saber bater, porque eu brigava todo dia, a minha surpresa foi que o judô fez uma transformação grande no meu caráter e na minha personalidade. E assim aos 22 anos eu comecei a dar aulas de judô no Sport Club Mackenzie no Méier, na mesma época em que eu trabalhava como gerente de um banco.

Quando você decidiu trocar o banco pelos tatames?

Aos poucos eu fui tomando gosto em ser técnico, a minha equipe lá do Mackenzie foi tri campeã do benemérito a maior competição que tinha em São Paulo e então eu recebi um convite da universidade Gama Filho que estava começando os trabalhos em um ginásio na piedade, foi quando professor Pedro Gama Filho me procurou. Então eu resolvi modificar, sair do banco e abraçar a carreira de técnico.

 Quando começou a se aprofundar na carreira?

 Comecei em 1973 na universidade, em 1978 eu me formei em educação física e fiz pós-graduação em 1979, em ciência e treinamento esportivo, achei que poderia dar um pulo mais alto, visando ser técnico um dia da seleção brasileira de judô. Para isso eu vendi tudo que eu tinha e fui morar quatro meses no Japão, quando voltei fui convidado pela confederação brasileira de judô no final de 1979, para ser o técnico da equipe do Brasil no campeonato mundial em Paris, aonde o primeiro brasileiro nato Walter Carmona foi medalhista de bronze.

Quanto tempo você ficou à frente da seleção?

Eu treinei a seleção em 1980 e 1984, mas acabei não indo em nenhuma das duas por problemas políticos, finalmente em 1988 eu fui para Seul, como técnico da equipe, onde Aurélio Miguel foi o primeiro brasileiro a ganhar uma medalha de ouro em olímpiadas e a primeira medalha de judô. Em 1992 eu fui com Rogério Sampaio, outra medalha de ouro, 1996 eu fui novamente a Atlanta, com o Aurélio Miguel e o Henrique Guimarães sendo bronze e finalmente em 2000, fui novamente à olímpiada de Sidney, onde o Brasil ganhou duas medalhas de prata, uma delas foi o Thiago Camilo e o outro foi Carlos Honorato. Logo após houve outro problema político, uma eleição, e o presidente resolveu que eu não seria mais o técnico, que é cargo de confiança de presidência e disse para mim que eu não continuaria.

Todo esse problema político o desanimou para seguir com seu trabalho?

Eu tinha três coisas para fazer: falar mal das pessoas que me tiraram, por que eu tenho acesso à imprensa, botar o pijama, porque já eram seis medalhas olímpicas que o Brasil conquistou com minha ajuda, ou então fazer um novo trabalho, foi ai quando apareceu a oportunidade de eu ser um personal trainer do Carlos Araújo, um empresário famoso no ramo das construtoras. Comentei com ele que estaria saindo da seleção, logo após ele me perguntou o que eu iria fazer. Respondi que gostaria de trabalhar com comunidades. Foi quando ele me disse que estaria montando uma academia, que se chama “Academia Body planet” em Jacarepaguá.

Como foi o processo para criar o projeto social?

O Carlos Araújo disse: “vou falar com minha família para eles deixarem eu te dar um espaço lá para você desenvolver seu trabalho”.  Ele comunicou a família, mas disseram que não, porém 15 dias depois ele voltou atrás dizendo que eu podia fazer este trabalho sim, que ele ia montar uma sala para mim. Meus primeiros clientes foram os alunos das escolas municipais, da Barra, Recreio e Jacarepaguá.  Eu tive autorização da 7ª CRE para que eu pudesse fazer esses trabalhos com as escolas municipais, isso em 2000, e em 2003 nos ganhamos as primeiras medalhas em campeonatos do Rio de Janeiro, e por ai em diante.

Você foi quem descobriu a Rafaela Silva, campeã dos Jogos Olímpicos 2016 realizados aqui na Barra. Como foi isso?

A Rafaela começou em 2000, quando comecei o projeto na Cidade de Deus, aos 8 anos de idade, foi quando vi que ela tinha um grande potencial, porque ela tinha uma excelente coordenação, uma agressividade natural, das pessoas que são de comunidade, porque as pessoas de comunidade estão ali sempre impondo a sua personalidade.“ a bola é minha, ninguém pega, a pipa é minha”, a coordenação natural de pular muro e subir em árvore, e com essas valências que eu acho que são importantes para o judô eu vi que ela tinha um grande potencial, eu vi que eu tinha um diamante bruto nas mãos.

Como é para você ver hoje a sua aluna como campeã mundial?

Desde os oito anos de idade, quando ela entrou, eu chamei o pai dela e disse “eu um dia vou por suas filhas na seleção brasileira”, e foi o que aconteceu, ela e a irmã (Raquel Silva) foram para seleção brasileira. Rafaela aos 16 foi campeã mundial júnior, depois foi vice-campeã mundial sênior, depois campeã mundial sênior em 2013, e depois a desilusão que ela teve em 2012 em Londres, ela se tornou uma medalhista olímpica no Rio 2016.