"Começamos com 90 horas de musica. Em 2019 serão mais de 600!"

Claudio Magnavita: qual a maior motivação que o Rock in Rio traz para o morador da Barra?

Roberto Medina: Em 2017 tivemos uma Cidade do Rock nova, em que tivemos espaço para realizar o sonho que a gente queria e resolvi esse ano aumentar mais 70 mil m². Serão 450 mil m². Dessa vez você tem as quatro arenas em um projeto simultâneo. Você tem o Força Bruta, com cinco sessões, que é um projeto argentino espetacular, que é de graça. Tem também as arenas de game e a arena Natura, que é a que tem a maior quantidade de projetores que já teve na América Latina ao mesmo tempo. Você entra em um local que parece Marte e aí vira mar. Tem música, holografia, palestra holograficas...

Virou um parque de diversões que você trouxe para a Barra...

No primeiro evento eu não queria fazer algo comercial. Naquela época, em 1984, não tinha capital nem financeiro, nem pessoal para isso. Então, tive que me ancorar em números... Mas não era isso: eu tinha um sonho! Passei maus momentos com a minha família na ditadura e a gente estava naquele momento especial no Brasil, de colocar a cara da juventude para fora, era um momento de atrevimento, de ruptura. Isso remete ao conceito do Rock in Rio, que não é rock por causa da música, era uma bandeira de comportamento, não um estilo de música. É até engraçado porque até hoje as pessoas falam: “hoje em dia tem muito pop”, mas o primeiro festival foi o que menos teve rock. Teve Alceu Valença, Elba Ramalho, Jorge Benson, New Wave... Eu queria fazer uma festa onde o pai e o filho pudessem se encontrar e debater, que é o que acontece até hoje.

Hoje é pai, filho e neto...

Verdade. É engraçado que o cara que foi em 1985 se acha totalmente diferente. Eles me abordam na rua e dizem que os festivais de hoje não são os que eles foram. Todo mundo tem uma questão afetuosa daquele momento.

Você tem a noção que você foi um indutor na Barra da Tijuca? Porque tirando a edição no Maracanã, o festival foi Barra da Tijuca 100%.

Tenho sim, porque me lembro da obra do primeiro Rock in Rio, em que eu largava meu carro no meio da rua e ia trabalhar no terreno que era do Carlos Carvalho, da Carvalho Hosken, um amigo querido que me impulsionou. E foi bom para os dois, porque para ele acelerou o crescimento da Barra. A Barra da Tijuca, hoje, e o Rio de Janeiro por consequência, é a melhor estrutura do mundo para se fazer evento. Eu já fiz evento nos Estados Unidos e na Espanha, e nada se compara. Você tem dentro da cidade um espaço como aquele, que não devia ser provisório, mas sim assumido pelo poder público para fazer eventos permanentes. Se você voltar atrás na Olimpíada (2016), como as coisas deram errado antes, estávamos com um sentimento de vira-latas, mas na festa de abertura, nos sentimos como países de primeiro mundo, ou seja, veja a importância no interior de cada um de ter orgulho do que está se fazendo. Acho que o carnaval, mesmo precisando de muitas melhorias, o réveillon e o Rock in Rio fazem isso. O Rock in Rio, eu vou falar, não como Roberto, mas como um brasileiro: esse projeto é, de longe, o melhor do mundo, porque geralmente a gente importa as coisas, mas agora a gente exporta. Nós não tínhamos nada, o Brasil era uma terra arrasada, e fizemos um evento profissional.

Quando você pega a vídeo biografia do Freddie Mercury e você vê a importância que eles tratam o Rock in Rio, isso arrepia?

Arrepiou! Quando eu saí do filme eu fiquei uns dois dias muito impactado. Eu sabia que ele achava isso. A banda foi jantar comigo em casa e o Freddie Mercury sabia que eu era fã de Dom Quixote, então ele mandou o amigo dele, o Salvador Dalí, fazer um quadro de Dom Quixote e entregar na minha casa antes do show. Mas ali eu vi o quanto foi importante. Porque sempre que acaba uma edição, eu já estou pensando no que posso fazer de diferente para a próxima. Falando da Cidade do Rock, se você chegar às 14h, mesmo sem fila, você não consegue ver tudo até 2h. É um total de mais de 600 artistas. O anuncio do Rock in Rio em 84, que era o maior do mundo, era de 90 horas de música, agora são mais de 600. E uma coisa bacana que conseguimos é a família. Isso é único no mundo. Temos 10 milhões de pessoas que já assistiram aos shows ao vivo e nunca tivemos um incidente, porque é o filho, pai e o avô. A melhor segurança é a família. E quando eu pensei era isso: um grande parque temático.

Há um sentimento de quem trabalha com o turismo de que a edição 2019 vai ser uma virada para o Rio de Janeiro...

É comum as pessoas me perguntarem porque eu luto tanto, mas na verdade, a energia do Rock in Rio é a nossa cidade. Eu acho que a gente luta para transformar isso. Estamos fazendo uma campanha grande no Brasil todo, porque uma coisa é a gente conversando há cinco anos atrás, sonhando com o Rio cheio o ano inteiro, o que não era possível, porque não tínhamos hotéis, estrutura aviaria, arenas... mas hoje não. Tem um investimento de R$25 bilhões graças as Olimpíadas, que está ai, mas que não conseguimos fazer conteúdo. Eu espero que o Rock in Rio emule isso. Não estamos falando só de festa, que já é importante, mas também de empregos. São 20 mil empregos diretos que o Rock in Rio dá, e R$ 1,7 bilhão em impacto econômico para a cidade, em dados da Fundação Getúlio Vargas.

São 55 países vindo para a Barra, para o Rock in Rio. Qual o raio-x desse evento planetário?

Não é uma coisa da América Latina, é do mundo inteiro. E eu nem tenho estrutura de venda em muitos desses países, eles é que procuram. Por isso que quando lutamos por um calendário permanente, é a luta por emprego também. Países que as pessoas nem imaginam, mas que descobriram a gente, como Emirados Árabes, Polônia, Dinamarca, Noruega... É um negócio que se espalhou pelo mundo. O Chile consome muito a gente também, antes era a Argentina, hoje, o primeiro é o Chile. Estamos falando da grande indústria do mundo que é o turismo. Até por isso, dá uma raiva danada ver o Rio sofrer tendo esse patrimônio que ninguém mais tem.

Estamos vivendo uma etapa de muito respeito ao empreendedor. Você percebe isso?

Eu percebo, mas isso tem que se materializar em um projeto efetivo. Você tem o presidente, que é um cidadão da Barra, o governador que fala disso também... Agora, eu acho que isso tudo tem que virar política pública e de incentivo. O que acontece é o seguinte. Eu não entendo isso. Para um político, você diz assim: “ah bom, eu vou investir, o que eles chamam de festa é na verdade uma indústria, R$ 100 milhões. Como é que eu posso fazer isso se eu não tenho um esparadrapo no hospital?” , é por que se não investir R$ 100 milhões, não vai ter nunca um esparadrapo. Então tem que investir.

A Coca-Cola, por exemplo, consumida no quiosque da praia está gerando emprego no subúrbio

É claro! Ou a economia vai para frente, e você só tem dois eixos pra falar: do petróleo, que temos pouco pra fazer, e do turismo, que temos tudo pra fazer.

Las Vegas fez isso né? E no Brasil, Gramado fez isso também

Las Vegas surgiu do nada. E Gramado tem números fantásticos. É claro que isso dá certo, agora, a gente (Rio de Janeiro) que é a principal entrada do Brasil, está sem política pública. O incentivo fiscal tem que acontecer. E hoje, você tem instrumento de avaliação de eventos como a Fundação Getúlio Vargas. Logo, você pode ir na certa para definir quais são os seus projetos.

Em termos de Rock in Rio, como é feito a curadoria das atrações? Pois antigamente por exemplo, você tinha o próprio Frank Sinatra te ajudando, e hoje os artistas estão batendo na porta.

Não é difícil. Repare só: os headlines, que são aqueles que encerram o evento, eles não são múltiplos. Em um show que você tem 110 mil pessoas, são poucos os artistas. Estamos falando de 20 a 30 artistas no máximo. E você tem também períodos onde eles estão de férias. Então, nunca é uma vontade própria sua. Os instrumentos, quais são? Pesquisa, todo Rock in Rio você tem lá a pesquisa do que eles querem; O segundo fator é como que esses artistas estão no Spotify, como eles estão vendendo... Aí depois desses dois fatores, você divide por várias: é o Rock, o Pop, agora o Hip-Hop. É, basicamente, dividir por áreas para atender a comunidade. Quando eu começo a tocar, eu estou fazendo Portugal agora, eu defino o meu gol...

Quer dizer, você está entregando o Rock in Rio Brazil, mas já está no planejamento de Portugal?

Pois é (risos). Ontem eu tive aqui uma reunião enorme.

E a Anitta?

Ela é uma pessoa extraordinária, no ponto de vista do trabalho. O marketing que ela faz é extraordinário. Eu acho que, uma pessoa que trabalha e tem a capacidade de promover a música dela no Brasil, tem que ser apoiada. Então, o povo disse que eu tinha que contratar, e contratei. E ela foi um sucesso agora em Portugal. Foi muito bem por lá. Acredito que ela será novamente um grande sucesso.

Está nos seus planos fazer um Rock in Rio experience, ou seja, você ter um equipamento onde a pessoa possa entrar e se ver no telão, ou vivenciar projeções 3Ds e tudo isso? Isso está no seu horizonte?

Como equipamento, eu estou fazendo este ano a Rota 85, que é uma volta ao passado. Então estou fazendo um lugar para você tirar foto, com um tênis gigante na lama; estou colocando aqueles outdoors da época, mas esse, eu quero fazer uma exposição fotográfica digital, dali e de tudo que aconteceu, por que tem cenas incríveis, principalmente do primeiro Rock in Rio. Então, ali na Rota 85 é que eu quero explorar esse saudosismo das pessoas em 34 anos.

Sobre a questão do Rio de Janeiro. Você acaba de dar uma contribuição, pilotou aí uma campanha onde você doou, via Artplan, toda a parte criativa, banco de imagens, produção de filmes... uma doação expressiva. Conseguiu junto com a Associação de hotéis, de supermercados, com shoppings, Artplan, Carvalho Hosken, uma mobilização muito grande e está aí a campanha “Rio não para”, inclusive com o apoio da Rede Globo. Isso aí é a reedição do Abraão Medina. 

Essa relação com a cidade, com o país, esse exercício permanente de cidadania que ele fazia; papai construía praça. Ele era informalmente o prefeito da cidade. Ele era tão ativo que ele fazia um calendário sozinho: corridas de automóveis na Barra. Ele era um empreendedor que eu nem sei como ele conseguia energia pra isso. Então ali naquele bastidor da minha casa, eu tive que aprender a gostar do Rio de Janeiro como eu gosto, não tinha como não. Não há hipótese pra gente desistir do Rio de Janeiro. Quando eu estava morando em Portugal e Espanha eu não era feliz. Eu me sentia covarde por não estar aqui defendendo aquilo que me deu fogo suficiente pra eu fazer o que eu fiz. Então não há a opção de não estar aqui e de não ajudar aqui. Dificil, é. Precisa de fôlego, mas a opção de não estar não existe pra gente.

Queria finalizar com uma mensagem sua. Roberto encerrando fazendo um convite a você, principalmente morador da Barra e do Rio de Janeiro para que venha ao Rock In Rio. Estamos encerrando essa conversa com o Roberto Medina, aqui na sede do Rock in Rio, na Barra da Tijuca. O Jornal da Barra a sua disposição para que você convoque o carioca, aquele que é barrista, que vive na Barra e sobretudo os vizinhos. É muito orgulho para a Barra da Tijuca receber um evento planetário que é nosso e que se realiza aqui e que tem essa dimensão mundial, que é o Rock in Rio. 

Queria convidar vocês a estarem lá com a gente, afinal são vocês que construíram esse sonho. Se vocês não acreditassem nessa primeira ideia há 34 anos, não tinha construído isso. Foi na crença de vocês que eu botei meu sonho verdadeiro. Então eu acho que vocês vão se divertir, é aquele clima de paz e harmonia. Tem muita coisa pra fazer, o dia inteiro. E aí leva avô, leva filho, leva todo mundo, porque é uma festa que vai valer a pena. Vocês que fazem a festa, a gente faz aquele espaço bonito mas a festa são vocês. Há 34 anos eu fui a primeira pessoa a iluminar a plateia no mundo, isso não se fazia. Sabe por que? Porque são vocês as estrelas. Aqueles artistas passam, mas vocês não. Vocês fazem do Rio de Janeiro uma plateia absolutamente única e a mais importante do mundo.

Agora, Roberto, para comprar o ingresso tem que correr né?

(Risos) Às sete horas da noite hoje todo mundo no computador e vamos que vamos.

Sendo um homem de turismo, não poderia deixar de fazer essa pergunta para você. 27 de setembro, Dia Mundial do Turismo pela Organização Mundial de Turismo e é o dia de abertura do Rock in Rio. Roberto, coincidência não existe né? Tem um alinhamento planetário aí. Como que pode o Rock in Rio abrir no Dia Mundial do Turismo?

Não existe. Tem uma frase do Paulo Coelho, no livro do O Alquimista que ele diz que a gente tem que perseguir a lenda pessoal de cada um e que aí o mundo conspira para que você faça. Eu acho que essa data conspirou a meu favor, poder estar fazendo a abertura de um evento dessa dimensão, tem que dar um recado pros políticos do Brasil que esse é o cam

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