Especialista sugere sete passos para reduzir confrontos interpessoais

Por Affonso Nunes

Em tempos de intolerância, os conflitos de ordem pessoal costumam explodir, mas nem sempre o que está por trás dos desentendimentos é a discordância. Tudo pode começar numa comunicação equivocada. “Em 90% dos casos, os conflitos entre pessoas são causados pelo modo de falar e apenas 10% por diferenças de opinião. Boa parte dos atritos acontece porque não estamos conscientes da maneira como nos expressamos e ouvimos os outros. Afinal, fomos acostumados a fazer isso de forma automática e não responsiva”, explica Marie Bendelac Ururahy, especialista em Comunicação Não-Violenta (CNV).

sem entrar no mérito da reação desproporcional do desembargador Eduardo Siqueira à multa recebida por agentes de segurança em Santos (SP), Marie viu no incidente um choque entre poderes e destacou que poderia ser evitado caso a abordagem policial fosse menos diferente. “Antes de chegar já acenando com a multa, os policiais poderiam ter perguntado ao desembargador o motivo dele estar sem máscara, desarmando os ânimos”, sugere a especialista, lembrando que abordagens agressivas despertam submissão ou uma reação de contestação.

A Comunicação Não-Violenta baseia-se em habilidades de comunicação e linguagem que ajudam a reformular a maneira pela qual ouvimos os outros e nos expressamos. E abre a possibilidade das pessoas se expressarem com honestidade e clareza, transformando as conversas em meios de aproximação, conexão e transformação.

De acordo com Marie, nos casos de conflitos, é comum aos dois lados procurar culpados sem se que se perceba que estamos lidando com seres humanos com necessidades parecidas com as nossas. “Essas necessidades, se forem bem expressadas e compreendidas, abrem caminho para relacionamentos plenos e satisfatórios”, adverte.

Com 10 anos de experiência na área, Marie desenvolveu um método próprio, o Conecta, constituído em sete passos para estabelecer a comunicação empática: curiosidade, ouvir, não julgar, empatizar, checar, transição (do “ouvir” para o “expressar”) e autenticidade. Essa metodologia é aplicada nos cursos regulares que a profissional oferece para um público amplo. “É o caso das mães que querem melhorar suas relações com seus filhos; profissionais que desejam se comunicar melhor com os chefes; pessoas que querem evitar brigas e discussões; aqueles que têm dificuldade em se fazer entender ou se fazer respeitado”, destaca.

Marie explica a importância de estabelecer um diálogo consciente e construtivo, auxiliando os alunos a lidarem com as diferenças nas relações humanas. “A conexão empática é parte fundamental dos bons relacionamentos. Cada vez mais, é preciso saber ouvir o outro para entender suas expectativas e necessidades, de forma a criar uma convivência harmônica. A curiosidade em relação ao outro, ao que ele pensa, é o início de tudo”, explica Marie.