Nos 20 anos da Lei da Aprendizagem, jovens falam sobre transformação e crescimento profissional

Crise humanitária e revolução tecnológica tornam o futuro do mercado de trabalho incerto. Como assegurar que os trabalhadores tenham as habilidades e o suporte necessários para a empregabilidade? A implementação da Lei da Aprendizagem, que completou 20 anos em 2020, atua ampliando a oferta de postos de trabalho para jovens. Uma vez alocados, essa parcela da população passa a contribuir para a renda familiar, ao mesmo tempo em permite às empresas capacitar mão de obra de acordo com suas necessidades.

Segundo dados do IBGE, o desemprego atingiu 31,4% dos jovens no Brasil. Essa é a maior taxa da série histórica. Jovens com menor grau de instrução enfrentam ainda mais dificuldades para encontrar emprego. Por essa razão, programas de aprendizagem profissional, voltados para a preparação e inserção de jovens no mundo do trabalho, apoiam-se na

Lei da Aprendizagem, instituída no ano de 2000, e são, por vezes, a porta de entrada única, na atual conjuntura, para essa parcela da população mais vulnerável ao solavanco das taxas de desemprego. Há, no Brasil, entidades qualificadas em formação técnico-profissional metódica que seguem as normas fixadas pelo Ministério da Economia para realizar programas de aprendizagem.

Thiago da Silva Lopes, com a finalidade de entrar no mercado de trabalho, dedicou-se ao programa de aprendizagem profissional em uma das instituições formadoras, o CampCentro.

Hoje, trabalha há quase 10 anos, na mesma empresa, a Elevadores Otis, que o acolheu como Jovem Aprendiz durante a aprendizagem. Hoje, com 25 anos de idade, Thiago ocupa o cargo de consultor comercial e líder de diversidade e inclusão. Ele confessa que nada foi tão fácil quanto parece e que as chaves do sucesso foram força de vontade e paciência. Thiago é um exemplo de quem dedicou energia, tempo e paciência para fazer valer a pena.

“Minha história do programa de aprendizagem até o emprego efetivo daria um livro. Eu fui o primeiro homem no departamento administrativo e também o primeiro efetivado, mas esperei muito pela vaga. Quando a vaga saiu, eu tinha apenas 17 anos. Faltavam nove meses para completar 18. Minha chefe esperou por minha maioridade, mas o serviço obrigatório do Exército pediu mais seis meses para minha liberação e juramento de bandeira. Caso o aprendiz seja afastado para o serviço militar obrigatório, o contrato do Jovem Aprendiz fica suspenso até o retorno. Não foi fácil. Quase perdi meu emprego”, relembra.

Os programas de aprendizagem profissional são organizados e desenvolvidos sob orientação e responsabilidade de instituições formadoras qualificadas. O aprendiz, com idade entre 14 e 24 anos, matriculado nesses programas pode ser admitido por empresas e instituições que possuam empregados regidos pela CLT.

O contrato do aprendiz é de natureza especial, e sua duração está vinculada ao tempo dedicado ao programa de aprendizagem, cujo conteúdo é organizado em grau de complexidade progressiva, com estrutura previamente elaborada pela entidade formadora. “A gente também busca desenvolver as habilidades, as potencialidades, para o jovem entender que a vulnerabilidade dele não é só financeira. Muitas vezes, ele tem uma vulnerabilidade emocional que também influencia”, relata Suellen Malumbres, líder de Comunicação,

Relacionamento e Parcerias da instituição formadora CampCentro.

O objetivo é proporcionar ao aprendiz uma formação profissional básica. Ao mesmo tempo em que proporciona a jovens uma formação na sua vida profissional permite às empresas capacitar mão de obra de acordo com suas necessidades administrativas. Ao relembrar a experiência no curso de aprendizagem, Thiago reconhece que foi um divisor de águas.
“Conheço um Thiago antes e outro Thiago depois. O impacto na minha vida foi não apenas a disciplina profissional. É a prova de que um jovem de periferia, criado por mãe solteira, pobre e homossexual pode furar a bolha do sistema e mudar a sua vida e de toda a sua família”, afirma.

INCLUSÃO SOCIAL
Os resultados são importantes, contribuindo para minorar o desemprego e promover inclusão social, o que significa muito em tempos atuais de instabilidade econômica e pandemia.

Segundo estudo do Unicef, 55% dos entrevistados declararam que o rendimento de seu domicílio diminuiu desde o início da pandemia. Entre as pessoas que residem com crianças ou adolescentes, 61% declararam que a renda da família diminuiu. Dos entrevistados com renda de até um salário mínimo, 69% afirmaram que tiveram cortes em sua renda.

Outro caso de sucesso dos cursos de aprendizagem profissional é o de Cleibson Gonçalves cuja trajetória foi semelhante à de Thiago. Cleibson, durante a aprendizagem, atuou como assistente administrativo na empresa Pneuac, do grupo Pirelli. Hoje, aos 24 anos, reconhece o impacto positivo de ter sido Jovem Aprendiz.

“Foi primordial na minha vida. Fiz o programa de aprendizagem que me alocou na vaga na época. A oportunidade garantiu o meu desenvolvimento para que eu assumisse um cargo de engenheiro na mesma empresa onde comecei. Foi essencial”, garante.

Ser Jovem Aprendiz garante, para muitos, o emprego efetivo do futuro. Ao término do contrato de aprendizagem, havendo continuidade do vínculo, o contrato passa a valer como contrato por prazo indeterminado, com todos os direitos dele decorrentes, bastando serem promovidas as alterações contratuais e demais adequações quanto às obrigações trabalhistas.