Fundado há 54 anos, Pontal Country Clube busca alternativas para ser moderno, num espaço ainda ligado aos anos 70 e 80
Um clube rústico. Assim pode ser definido o Pontal Country Clube, que há 54 anos se localiza na Estrada do Pacuí, nº 200, em Vargem Grande. Fundado em 16 de julho de 1963, ele carrega laços da tradição dos anos 70 e 80 e tenta, por meio da liderança de Ulisses Bonfim, acompanhar os traços da modernidade.
Presidente desde 2015, Ulisses já fez bastante mudança no clube, mas sabe que ainda tem trabalho pela frente.
- Estou desde 1º de janeiro de 2015 e o mandato termina no fim do ano. Nesses dois anos e oito meses de gestão, busquei e ainda busco tirar o clube de onde estava, parado na década de 80, e trazer ele para o século XXI. Trabalho está sendo muito árduo, ainda mais com essa crise, porque administração de clube fica difícil, muita inadimplência, já que é encarado como supérfluo – explica Ulisses.
Mesmo com esse percalço financeiro, ele fez progressos. Firmou parceria com o Flavio Trivella para reformar os campos de futebol e implementar uma escolinha no local, reformou a academia, comprando aparelhos de primeira linha e está construindo um novo vestiário, já que o antigo foi derrubado por uma árvore centenária.
- Dentro disso, mesmo com essa crise, a gestão conseguiu fazer avanços. O Pontal sempre foi um clube muito familiar e o forte dele sempre foi o fim de semana. Estou querendo resgatar o clube para atrair gente durante a semana. Então, ele guarda essa tradição, mas ele precisa também se adequar a modernidade, pois a minha geração se afastou um pouco dele e, consequentemente, as outras também – disse o presidente.
Para conseguir atingir essa meta, Ulisses prepara para divulgar, em breve, uma campanha para atrair novos sócios. A meta dele é ousada, mas a considera possível.
- Estamos entrando em campanha de novos sócios, de renovação de quadro, já que muitos dos nossos antigos estão indo para o clube do céu. Hoje o quadro é composto de 300 sócios, mas minha meta é chegar a 1000 em questão de um ano. Só que isso depende muito da economia – afirma.
Além das reformas na infraestrutura para angariar e ampliar o número de frequentadores, Ulisses também busca crescer em outras esferas. Conhecido por carnavais épicos, o Pontal foi deixando o tempo passar, sem acompanhar o ritmo das mudanças. Consequentemente, ficou paralisado, com atividades obsoletas para os dias atuais.
- A intenção é resgatar o período áureo dele. Dos grandes carnavais, das festas juninas, quando isso aqui ficava cheio, com mais de 10 mil pessoas. Era um dos melhores carnavais da região. Vinham blocos de várias regiões, inclusive o daqui, que hoje é uma escola de samba do grupo B, a Unidos das Vargens. Uma cria do Pontal. Precisa valorizar isso, tanto que estou projetando para ela voltar a ensaiar aqui, integrando o bairro. Porque, antigamente, vinha muita gente de fora para ficar aqui, e um dos nossos avanços é trazer o pessoal daqui para o clube – disse Ulisses, que tem uma teoria sobre essa estagnação do Pontal:
- Porque os bairros cresceram no entorno dos clubes, casos do Tijuca, Municipal. Então, a intenção é essa. Trazer o sócio para ficar aqui durante a semana também, pois o fim de semana já é natural.
Além disso, explica Ulisses, a própria mudança comportamental das crianças colabora para isso. Se antes os condomínios não tinham tanto atrativos e as brincadeiras eram mais na rua, hoje tudo acontece no entorno da própria casa.
- Os jogos eletrônicos tiraram um pouco as crianças das ruas e das brincadeiras de pique esconde, pique pega. Elas ficam mais trancadas dentro de casa. Com isso, elas prenderam também os pais dentro de casa, dificultando uma vinda para o clube. E naquele tempo era justamente o contrário, elas vinham para curtir o clube. Os novos condomínios também prendem a família neles pelos atrativos. E o Pontal não se atualizou com todas essas mudanças, então, a intenção é atualizar e contar a história – indaga Ulisses.
Situado numa área de muito verde, o Pontal prima por atividades campestres, como o tiro com arco. Além das tradicionais “peladas e rachões” de fim de semana, o clube tem uma sala exclusiva para jogos de sinuca e bilhar. Tanto que Ulisses aproveitou isso para inscrever o Pontal em torneios locais.
- Estou colocando o clube para disputar o Interclubes da Federação de Sinuca e Bilhar do Rio, enfrentando outros como Marina, AABB, Municipal. Estou tentando integrar. O Pontal também disputa o Campeonato Carioca de Fut 7, numa parceria com o Bangu. Tanto que a intenção nossa, com esse novo campo, construído a partir da parceria com o Flavio Trivella, é trazer jogos do Carioca, da Copa do Brasil, para o Pontal, para ver se cresce o movimento – disse.
Morador da Barra desde 1978, Zico foi frequentador assíduo do Pontal. Sua família vinha passar todos os domingos no clube. Inclusive, foi no antigo campo, de grama natural, que ele deu os primeiros passos com a bola.
- Os mais jovens nem sabem, mas a criação do Zico vem daqui. Toda a família dele vinha para o clube e passava o domingo todo aqui. Sócios mais antigos contam que o Zico, com 12 anos, jogava no time do irmão, José Antunes - que da nome ao estádio do CFZ - para se acostumar com contato físico. Com 14 anos foi para o Flamengo e depois todo mundo conhece a carreira dele. Teve um jogo, dizem, que ele marcou 10 gols – recorda Ulisses.
Um clube que fica entre o mar e a montanha. Rodeado pela natureza e próximo das praias mais preservadas do Rio de Janeiro. Um espaço literalmente rústico, que precisa passar por mudanças para atrair novos adeptos, sem deixar de lado a história e a tradição de mais de cinco décadas de existência. Assim é o Pontal Country Clube, de Vargem Grande.