Rio Pride Cup 2022 aconteceu nos dias 10 e 11 de dezembro, no Velódromo do Parque Olímpico

 

 

*Lucas Costa*

No último fim de semana, nos dias 10 e 11, o Velódromo do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, recebeu o Rio Pride Cup 2022, um campeonato de handebol para clubes LGBTQIAP+. O evento era aberto ao público, com entrada gratuita. Na competição, clubes de quatro estados participaram da disputa pelo título de campeão.

Na sua segunda edição, o Rio Pride Cup teve disputas entre 6 clubes de handebol, sendo 8 equipes, que representavam quatro estados: Lendários, além de ser o clube organizador do evento, veio representando o Rio de Janeiro, e trouxe duas equipes: Gloria Groove e Pabllo Vittar. Ainda representando o Rio, os Alligaytors, também fizeram parte da competição; Fadas e Bulls eram as duas equipes que representavam São Paulo. Para representar Minas Gerais, as equipes Bharbixas e Monas da Mata estiveram presentes. A equipe Vale veio de Goiânia direto para o Rio de Janeiro, para participar da disputa. A ideia é que nas próximas edições, o campeonato consiga ampliar ainda mais o número de modalidades e clubes. 

Os Bharbixas levaram a melhor e saíram vitoriosos da disputa.

A Rio Pride Cup existe para que atletas LGBTQIAP+ se sintam livres e seguros para performar o seu melhor “eu” e seu melhor jogo. Trata-se de um evento esportivo, mas também de um ato político, uma vez que a proposta é evidenciar para a sociedade as questões sociais que permeiam as existências de pessoas LGBTQIAP+.

O atleta da equipe Lendários, Eduardo Bianchi, falou sobre a importância de um evento como este, voltado para a comunidade LGBTQIAP+: “Os clubes contarão com muita diversidade dentro e fora de quadra, os atletas poderão jogar handebol com total liberdade, longe de preconceitos que muitas vezes são marcados pela ideia de virilidade no esporte. É incrível que atletas LGBTQIAP+ possam ocupar os mesmos espaços que os atletas olímpicos já ocuparam um dia. Os campeonatos LGBTQIAP+ existem para mostrar a diversidade humana e dar visibilidade a causa esportiva e sociopolítica”. 

Ele contou também sobre de onde veio a ideia da criação do campeonato: “Surgiu com a ideia de que era pra ser um amistoso, a gente tinha saído da pandemia, e queríamos participar de algum jogo. A gente tem um grupo de amigos, que são os Fadas, que vieram participar também, ano passado e esse ano. E só a gente tava treinando depois da pandemia, e tivemos a ideia de fazer um amistoso. Eu pedi para ser aqui no Rio de Janeiro, e aí eu fui pedir ajuda para a Secretaria de Esporte, e o Guilherme Schleder que é o secretário de esportes, nos ajudou. Ele gostou da ideia do amistoso, aí a gente cresceu, virou um campeonato. Ai esse ano, a gente decidiu fazer a segunda edição, e foi muito legal porque ela ficou ainda maior. A gente tem mais clubes, foram dois dias de competição, no ano passado foi um dia só. E a nossa expectativa é que ele cresça mais. Começou com uma ideia tola de ser um amistoso, e virou um campeonato entre clubes amigos”, contou ele.

O Ponta Esquerda, Alison Neves falou sobre o acolhimento que o Lendários faz com as pessoas que se interessam pelo esporte: “O Lendários é um clube que tem modalidades de handebol e vôlei. É um clube LGBTQIAP+, e a gente vai acolhendo pessoas que tem o interesse de praticar o esporte, e a gente acaba virando amigos dentro do time”. 

Ele também falou sobre a importância que um time LGBTQIAP+ tem para quem se interessa pelos esportes e não se via representado: “Eu acho que a principal ideia do Lendários é acolher pessoas LGBTs, que gostam de praticar esportes. Muitos não praticavam porque se sentiam desconfortáveis em outros ambientes para praticar esportes. Eu mesmo sou um desses que deixei de praticar a minha vida toda, porque eu entrava em quadra e era xingado, eu ouvia deboches, então isso foi me travando. O Lendários me acolheu e dentro dele aprendi a jogar handebol. Hoje eu me sinto confortável em praticar o esporte e participar de um campeonato como a Rio Pride Cup. Acho que essa ideia de acolher, não ficou somente no clube, a gente trouxe isso para o campeonato também. Óbvio que tem a disputa, mas a ideia é a gente celebrar, é conquistar espaços, é a gente ser visto e ser ouvidos também”.

Os paulistas da equipe Bulls ficaram em segundo lugar.

Quando questionados sobre o handebol ser um esporte acolhedor para a comunidade LGBT, Eduardo respondeu: “O esporte na verdade não é LGBTfóbico, mas as estruturas são. Ele faz parte de um sistema. Estar dentro de um sistema, uma cultura homofóbica, transfóbica, lgtbfobica, isso reverbera consequentemente no handebol, como no futebol, no vôlei”. Ele pontuou sobre a importância de se ter atletas assumidos em relação a sua sexualidade, para poder gerar identidade: “Quando um grande atleta, dentro de um grande clube, assume seu desvio de norma, isso cria um certo alvoroço, mas ao mesmo tempo é muito importante para outras pessoas, de alguma forma, se sentirem representadas”.

“O handebol, assim como outros esportes, ele é um que aparentemente só pode ter uma perspectiva da virilidade. Como se ela fosse apenas para os heterossexuais, para gêneros normativos, o que não é verdade. O esporte é para qualquer pessoa que queira performar e jogar o esporte. Mas a violência e a cultura homofobica, a cultura transfobica reverbera também no handebol, assim como no futebol, e por isso a Rio Pride Cup é tão importante. Para a gente ter esses espaços para que a população LGBT possa praticar seus esportes”, disse Eduardo Bianchi.

O Armador Direito do Lendários, Raphael Carneiro falou sobre o que o público pode esperar da próxima edição do Rio Pride Cup: “A ideia é que a gente multiplique, como o Lendários trouxe dois times esse ano, pela questão da quantidade de atletas. A gente espera que outras equipes surjam. Esse ano surgiram três equipes novas, que não vieram ano passado e vieram esse ano. A gente tem conhecimento de outras equipes que existem no Brasil, e a gente tem a ideia de que eles venham somar com a gente. Não só na Rio Pride Cup, mas em outras competições pelo Brasil”.

Alison Neves completou o companheiro de equipe, falando sobre o desejo de equipes internacionais de participarem do campeonato: “E tem times internacionais interessados também. Tem um time espanhol que já tomou conhecimento do campeonato. Esse ano eles não puderam vir, mas eles tem interesse de estarem aqui na próxima edição”.

As equipes Bulls, Alligaytors e Bharbixas se reuniram para foto dos campeões, junto dos árbitros da partida.

Apesar de serem os organizadores da competição, o Lendários ficou de fora do pódio. A equipe carioca perdeu a disputa pelo bronze, para o time Alligaytors, também do Rio de Janeiro. Sobre a derrota, a auxiliar técnica, Monique Corte disse: “A gente cresce na derrota, a gente cresce quando a gente quebra a cara, a gente cresce quando a gente fica decepcionado e é isso que está acontecendo agora. Aprendemos muito com o esporte, para quando a gente viver outras situações. Então agora a gente vai acertar tudo que errou, para na próxima vez a gente conquistar tudo que vier pela frente”. Ela destacou sobre o desempenho obtido pela equipe durante o campeonato e ao longo do ano: “Nossa evolução no último campeonato para esse, foi algo absurdo. Primeiro conseguimos ter duas equipes. Isso é muito importante. E as duas equipes foram bem, dentro do que a gente já se planejava para fazer. Claro que, a outra equipe, não se classificou para a semifinal, e a gente precisa replanejar algumas coisas, mas aquela outra equipe é formada de muitas pessoas que começaram a jogar no Lendários, que estavam afastadas do esporte há muito tempo, que agregaram muito ao grupo e que estão se construindo ainda mais. Então a gente entende o não passar para semifinal, pensando que eles têm ainda muito que crescer… E com certeza, a gente evoluiu muito, do caminho que a gente fez esse ano, nas últimas semanas mais ainda do que a gente esperava. Então podem esperar, que no próximo ano o Lendários vem ainda mais forte. Cada dia mais a gente vai se fortalecendo”.

A prata ficou com a equipe paulista Bulls, enquanto os mineiros dos Bharbixas levaram a melhor na disputa, conquistando o ouro e o título de campeões da edição de 2022.

A Rio Pride Cup 2022 contou com apoio da Secretaria Municipal de Esporte, Coordenadoria Executiva da Diversidade Sexual da cidade do Rio de Janeiro e da Confederação Brasileira de Handebol (CBHB).