No dia 07 de julho de 1980, foi criado o Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha do Brasil (CAFRM)
No dia 07 de julho de 1980 era criado o Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha do Brasil (CAFRM) e, desde então, já se vão 40 anos da trajetória das militares
na Força Naval. A iniciativa, visionária à época, do então Ministro da Marinha e hoje patrono das mulheres na Força, Almirante de Esquadra Maximiano Eduardo da Silva Fonseca, formou, em 1981, a primeira turma feminina com 512 militares. O pioneirismo da Marinha chamou a atenção de todos no país naquele momento, pois não era apenas um marco no âmbito das Forças Armadas, mas na sociedade brasileira de modo geral, pois foi aberto caminho para atuação em uma área de importância estratégica para a soberania nacional. Era o início de uma quebra de paradigmas.
Desde então, várias mulheres foram se formando no Corpo Auxiliar da Reserva com especializações que atendiam às necessidades nas áreas técnica, administrativa e
de saúde da Marinha. Mas, ao longo dos anos, as militares foram fortalecendo seu espaço, alcançando a confiança dos superiores e comprovando a disponibilidade e
competência, sendo ampliadas as possibilidades de atuação na profissão militar-naval. Em 1997, o CAFRM foi extinto, fazendo com que as militares passassem a integrar os respectivos Corpos e Quadros já existentes para o sexo masculino, de acordo com suas habilitações.
A partir dessa vitória, as mulheres foram perfeitamente incorporadas ao cenário naval, embarcando em navios, podendo ter acesso, em igualdade de condições com os homens, a promoções, cursos, comissões no exterior e cargos de direção. Na prática, já existiam inúmeras delas trabalhando em atividades operacionais, como meios navais e de Fuzileiros Navais. Mas, desde a reestruturação dos Corpos e Quadros, elas incrementaram sua participação, atuando também na Estação Antártica Comandante Ferraz e na Ilha da Trindade, além de operações de paz sob a égide da Organização das Nações Unidas (ONU).
São inúmeros exemplos na trajetória feminina na Força Naval. Na direção de Organizações militares, elas estão presentes desde 2002, quando uma mulher assumiu
interinamente a direção do Hospital Naval de Recife e, em 2006, quatro Oficiais femininas, pela primeira vez, foram designadas de forma efetiva na função de Diretoras. Merecem destaque, também, as pioneiras no setor operativo, que, em princípio, seria um ambiente exclusivamente masculino. Em 1985, ingressava, pela primeira vez, uma mulher na Base Aérea Naval de São Pedro d’Aldeia, sendo também precursora na realização de uma missão em aeronave militar. Em 1990, uma Tenente foi a primeira Oficial feminina a embarcar no submarino “Tupi”, logo após sua chegada ao Brasil, participando da avaliação operacional dos sistemas de bordo. Nos dias atuais, elas já fazem parte da tripulação de meios navais e, segundo depoimentos daquelas que vivenciaram a experiência, a convivência sempre foi baseada no respeito e igualdade, sem preconceitos.
Exemplos da inserção feminina nas atividades operativas, em 2001, duas Oficiais fizeram parte da tripulação do Navio Escola “Brasil” e, em 2018, a primeira tripulação do Porta-Helicópteros Multipropósito “Atlântico”, navio capitânia da Marinha, contava com uma mulher como Chefe do Departamento de Saúde.
Vale ressaltar também a participação das mulheres em missões no exterior, como em 2006, quando uma Oficial integrou o sexto contingente das Forças de Estabilização e Manutenção da Paz da Organização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH), tornando-se a primeira militar feminina da Marinha a exercer uma função em missões de paz.
Atualmente, existem 18 mulheres da Força servindo no exterior e como prova de que elas sempre colocam esmero em tudo que fazem, por dois anos consecutivos (2019 e 2020), militares que serviam na Missão de Paz das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA) receberam o prêmio de Defensoras Militares da Igualdade de Gênero da ONU.
Da mesma forma, na Marinha Mercante, as mulheres vivenciaram uma história de notoriedade. Em 2009, uma Oficial, formada na primeira turma feminina do Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar, da Marinha do Brasil, se tornou a primeira mulher a comandar um navio de carga e, em 2012, foi nomeada Capitão de Longo Curso, de forma inédita no Brasil, estando apta a navegar pelos mares do mundo inteiro.
Mas, a história de reconhecimento e ascensão na carreira das militares não parou por aí. Em 2012, foi a vez das mulheres chegarem ao círculo hierárquico que engloba os mais altos postos da Marinha, com a Contra-Almirante médica Dalva Maria Carvalho Mendes tornando-se a primeira Oficial-General feminina da história das Forças Armadas.
Seis anos depois, em 2018, a Contra-Almirante engenheira Luciana Mascarenhas Marroni vinha a ser a segunda militar da Marinha a ocupar este posto.
Como parte contínua desse processo de aprimoramento e atualização da administração de seu pessoal, a Marinha admitiu, no ano de 2014, a primeira turma de
Aspirantes femininas da Escola Naval, no Corpo de Intendentes. E, em 2017, as mulheres passaram a integrar qualquer quadro na Marinha, como o Corpo da Armada, para os combates navais, e o Corpo de Fuzileiros Navais, para os combates em terra, sendo a primeira turma iniciada em 2019. Esse avanço possibilita às militares femininas embarcarem em navios e unidades de Fuzileiros Navais como membros efetivos de suas tripulações, inseridas no contexto direto dos confrontos de forças em combate e não apenas nas áreas de saúde ou apoio. Essas “combatentes” poderão comandar meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais e, ainda, terão a possibilidade de alcançar o mais alto posto naval em tempos de paz: Almirante de Esquadra - extensivo aos Corpos da Armada e de Fuzileiros Navais.
É natural a evolução da participação da mulher na sociedade e isso ocorre também na Marinha. Sabemos que os desafios existirão, assim como sempre estiveram presentes ao longo da caminhada das militares na Força. Mas é justamente este o ponto-chave. Não são obstáculos, mas sim desafios que as mulheres foram superando com o tempo e sendo reconhecidas como iguais.
A expectativa é que a adaptação aos novos cargos e postos ocupados pelas mulheres passe de forma quase imperceptível, tendo em vista essa integração entre
homens e mulheres já consolidada na cultural naval. E as perspectivas são as melhores: profissionalismo, comprometimento e dedicação, como tem sido desde 1980.
Na conquista dos sonhos, para nós, mulheres militares da Marinha do Brasil, nem o oceano sem fim é o limite.
Por Isabella Caetano do Amaral