Iphan lançou uma força-tarefa para a restauração do monumento
Um prédio que já foi moradia do barão do Rio Branco, sede da Presidência da República do Brasil e abrigou, por décadas, o Ministério das Relações Exteriores. Se os salões, os jardins e as sacadas do Palácio Itamaraty, localizado no Rio de Janeiro (RJ), testemunharam acontecimentos marcantes para a memória nacional, o acervo do imóvel centenário confere ao Palácio uma projeção mundial.
Com o intuito de valorizar a edificação, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) lançou uma força-tarefa voltada a reunir esforços para a restauração do monumento. A proposta pioneira se inicia com a parceria entre a superintendência do Iphan no Rio de Janeiro e o Escritório de Representação do Ministério das Relações Exteriores. Além destas instituições, o Ministério do Turismo e a Secretaria Especial de Cultura endossam a iniciativa.
O primeiro passo já foi dado: o Instituto cedeu ao Itamaraty uma arquiteta do quadro da Autarquia com expertise em gestão e acompanhamento de projetos, bem como em obras de conservação e restauro. Ao longo de dois anos, a profissional viabilizará a interface entre três iniciativas – com recursos que totalizam 12,5 milhões – dedicadas a produzir projetos executivos de restauro e a efetivar as obras em si.
Outro propósito da parceria Iphan-Itamaraty consiste em buscar novos modelos de gestão dos monumentos, que priorizem a sustentabilidade econômica do Patrimônio Cultural, promovam o turismo, se integrem ao cotidiano da sociedade e atendam às necessidades dos cidadãos no campo do lazer, da cultura e da educação.
Viabilizada pela Lei Rouanet, a primeira fonte de recursos tem origem em um termo de cooperação com o Instituto Pedra. São R$ 6,6 milhões voltados ao projeto executivo de restauração de três edificações que compõem o complexo do Palácio Itamaraty: a construção original, a biblioteca e o prédio da antiga cavalariça. Já emenda parlamentar disponibilizou R$ 2 milhões para o projeto executivo da edificação que abriga a parte administrativa do Itamaraty.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por sua vez, concedeu R$ 3,9 milhões para implementar o projeto de prevenção, combate a incêndio e segurança do Museu Histórico Diplomático (MHD), localizado no prédio original; bem como do imóvel que abriga a Biblioteca, onde também se encontram a Mapoteca e o Arquivo do Itamaraty.
Na última sexta-feira, 18 de setembro, uma pequena solenidade no Palácio celebrou o início da força-tarefa. O evento, que contou com representantes do Iphan e do Itamaraty, adotou medidas de combate ao novo coronavírus (covid-19). A ocasião inaugurou um novo momento para o Palácio, que há décadas não passa por obras de restauração de grande porte.
História
Uma das primeiras edificações a ser tombadas pelo Iphan, em 1938, o palácio foi inscrito nos Livros do Tombo Histórico e das Belas Artes. Construído na década de 1850, o imóvel foi encomendado pelo barão e depois conde de Itamaraty. O projeto de construção é atribuído a José Maria Jacinto Rabello.
A fachada sóbria apresenta composição neoclássica francesa de fundo italiano. O interior revela características dos grandes solares do século XIX: saguão de acesso e salões nobres decorados se sobressaem no prédio de dois pavimentos.
Quando lá morava, o barão do Rio Branco – diplomata e estadista célebre no período do Império – esboçou no Palácio as principais medidas da política externa brasileira da época, como a anexação do Acre ao território nacional. De 1889 a 1897, o prédio foi sede do Governo Republicano: os três primeiros presidentes do Brasil trabalharam no local antes da presidência ser deslocada para o Palácio do Catete, quando o Rio de Janeiro ainda era a capital do país. Depois, abrigou o Ministério das Relações Exteriores até 1960, quando este foi transferido para Brasília.
Atualmente, o MHD encontra-se instalado na edificação. Além de apresentar vasto acervo da política externa brasileira, este equipamento cultural dispõe de peças raras. É o caso do manuscrito do projeto de lei para a abolição gradual da escravatura em 1871, também conhecida como Lei do Ventre Livre; de mobiliário que pertenceu a Napoleão Bonaparte; e de uma das únicas pinturas que retratam a transferência da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, que conta com a representação de Dom João VI.
Complexo
Quem avista apenas a fachada do Palácio nem sempre imagina o vasto conjunto de atrativos que habitam o interior das paredes centenárias. Logo na entrada, os jardins e o prédio original cativam a atenção dos visitantes, mas o cenário mais marcante do monumento se encontra na parte de trás desta construção.
Um longo espelho d’água com cisnes é rodeado por altas palmeiras imperiais. Às margens do lago se distribuem as edificações da antiga cavalariça, que atualmente é usada pela Organização das Nações Unidas (ONU); o prédio administrativo do Escritório de Representação do Ministério das Relações Exteriores no Rio de Janeiro; e a Biblioteca, instituição de referência na América do Sul que possui expressiva coleção na área de relações internacionais.
Aos valores históricos e artísticos do monumento se somam a singularidade e dimensão dos acervos museológico, bibliográfico e documental. O complexo dispõe de acervo bibliográfico com cerca de 70 mil itens e de vasto acervo da mapas, considerado o mais importante da América Latina no gênero, com aproximadamente 30 mil itens.