Uma em cada 36 crianças tem autismo; Entenda mais sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), desafios das famílias atípicas e alternativas de inclusão 

 

Por: Déborah Gama 

No mês de abril, a conscientização sobre o autismo é um dos temas centrais de discussões. A campanha foi estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de conscientizar e dar visibilidade ao Transtorno do Espectro Autista (TEA).

 

O que é o Transtorno do Espectro Autista?

O TEA, amplamente conhecido como autismo, pode ser identificado ainda nos primeiros anos de vida da criança, embora o diagnóstico profissional seja feito apenas entre os 4 e 5 anos de idade. 

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5, que é referência mundial de critérios para diagnósticos, as pessoas dentro do espectro podem apresentar déficit na comunicação social ou interação social (como nas linguagens verbal ou não verbal e na reciprocidade sócio emocional), assim como padrões restritos e repetitivos de comportamentos, como movimentos contínuos, interesses fixos, hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais, atraso na fala, não responder aos chamados (nem o próprio nome) e angústia ao enfrentar mudanças.  

Todos os indivíduos diagnosticados com autismo partilham destas mesmas dificuldades, mas cada um será afetado em intensidades diferentes, o que gera um resultado específico para cada situação. 

 

Níveis de suporte no TEA

O autismo funciona em níveis. Ele pode se manifestar de forma branda até a mais severa, e o diagnóstico detalhado deve ser apresentado apenas por um profissional da saúde. Como um espectro, os níveis de suporte podem variar ao longo da vida, mas são destacados em três níveis de suporte: 

Nível 1: Popularmente conhecido como "leve", quando o indivíduo precisa de pouco suporte. Desafios sociais são destaque, como a dificuldade em iniciar conversas com outras pessoas ou responder perguntas. Com isso, pode ser difícil fazer amigos, especialmente sem o apoio de especialistas.

Nível 2: O nível "moderado", quando a pessoa precisa de uma quantidade razoável de suporte. Assim, é difícil manter conversas, é comum falar pouco e sentir dificuldade com a comunicação facial e em reconhecer expressões faciais. 

Nível 3: Conhecido como "autismo severo", pessoas nesta condição necessitam de muito suporte, pois apresentam dificuldades severas na comunicação verbal e não verbal. São muito limitados para interagir com outras pessoas. 

Carlla Rodrigues conta que, quando o filho tinha 11 meses de idade, ela e o marido, Sérgio Rodrigues, perceberam sinais curiosos, como o fato de Heitor não bater palmas, não apontar, manter-se em "outro mundo" e não atender a chamados. A partir da consulta com um neurologista, sinais de autismo foram identificados e Heitor foi encaminhado para sessões de terapia, integração social na creche e diversos tratamentos multidisciplinares. 

 

É possível migrar de nível? 

Com seis anos, Heitor encontra-se no Nível 1 de suporte e tem diagnóstico de TDAH. Carlla ressalta que o menino já esteve no Nível 2. "Como o autismo é um espectro, é comum que a pessoa caminhe entre os níveis, através de terapias e formas de desenvolver o indivíduo", conta.

Além disso, a mãe também conta que o menino tem hiperfoco em números, letras e língua inglesa. Heitor também apresenta sensibilidade auditiva e sensorial - para alimentos com casca, como maçãs, milhos e outros. 

O TEA é uma condição que afeta o neurodesenvolvimento dos indivíduos, através do diagnóstico de um profissional, e existem muitos tratamentos possíveis de acordo com o nível de suporte. 

Entre os tratamentos e caminhos possíveis, algumas opções são: Fazer acompanhamento com profissionais para melhorar os sintomas do autismo, como fonoaudiólogos, psicólogos e psiquiatras; Utilizar metodologias dinâmicas de tratamento, como a ludoterapia; Fazer uso de medicamentos para tratar questões específicas ocasionadas pelo autismo. 

Mesmo que o transtorno não tenha cura, é possível evoluir e desenvolver habilidades através do tratamento correto e apoio multidisciplinar de profissionais. 

 

Aumento de casos diagnosticados de autismo 

Em 2000, os Estados Unidos registraram um caso de autismo a cada 150 crianças de oito anos observadas. Vinte anos depois, um grande salto foi observado: um caso do transtorno a cada 36 crianças. Os dados foram registrados pelo órgão de saúde Centers for Disease Control and Prevention (CDC). 

Mesmo que a estatística apresente o histórico do território estadunidense, no Brasil o aumento de casos de autismo não é uma realidade distante. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que existam cerca de 2 milhões de autistas no Brasil. 

 

Mediação escolar e inclusão 

Com foco na educação, os profissionais da mediação escolar atuam apoiando alunos com necessidades específicas, garantindo o ensino inclusivo e igualitário, para que os alunos possam desenvolver e potencializar habilidades da melhor forma. 

A Lei 12.764/12 institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, também conhecida como Lei Berenice Piana, que indica o direito ao acompanhante especializado para a pessoa TEA na sala de aula regular, caso a necessidade for comprovada. Para completar, a Lei 13.146/2015, ou Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, assegura a presença do profissional de apoio escolar cuja função norteia-se por duas vias, tanto em atividades como alimentação, higiene e locomoção, quanto nas demais atividades escolares. 

Higor Silva atua como mediador de crianças com TEA no Instituto Marcos Freitas, localizado no Recreio dos Bandeirantes, e explica que a paciência é o elemento essencial do atendimento. "Tem dias que vamos precisar lidar com crises e precisaremos de auxílio. É importante lembrar que somos facilitadores do futuro deles, e essa missão foi entregue em nossas mãos, só precisamos cumprir", diz o estudante de psicologia. 

O jovem conta que os especialistas de psicologia da instituição acompanham o desenvolvimento das crianças com TEA e contribuem em instruções na mediação. "Quando as crianças estão em crise, as levamos para a Sala de Recursos, onde os materiais pedagógicos e sensoriais ajudam a controlar seus sentimentos e melhorar o desenvolvimento", explica. 

 

Importância da conscientização

Carlla Rodrigues destaca que o aumento de informações e espaços de discussões acerca do autismo tem impactado positivamente a vida de seu filho e bem-estar. "A gente se sente mais incluído e acolhido quando as pessoas sabem lidar com uma criança autista", explica a mãe. 

Para uma sociedade mais igualitária em todos os âmbitos, é essencial que o Transtorno do Espectro Autista seja cada vez mais discutido.