Carlos Petrocilo e Daniel E. de Castro (Folhapress)

Medalhista olímpico como jogador de vôlei em busca de repetir esse feito na posição de técnico, Renan Dal Zotto comemorou outras conquistas nas últimas semanas: acordar, sentar, andar com desenvoltura e comer gelatina estão entre elas.

Tarefas que seriam banais caso o treinador da seleção brasileira masculina não tivesse pegado Covid-19 em abril e desenvolvido uma forma gravíssima da doença. Ele ficou internado de 16 de abril a 21 de maio.

Renan, 60, conta em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo os momentos mais tensos que passou no hospital, por exemplo as vezes em que se viu morto, e comemora a evolução física desde que teve alta.

Após receber a segunda dose da vacina, nesta terça-feira (8), ele não vê a hora de voltar a trabalhar com os jogadores brasileiros, atualmente comandados pelo auxiliar Carlos Schwanke na disputa da Liga das Nações (VNL), na Itália.

A seleção voltará ao Brasil no fim de junho e embarcará no mês seguinte para os Jogos Olímpicos de Tóquio, com início marcado para 23 de julho.

Da doença à recuperação

Meu primeiro sintoma [da Covid-19] foi em Saquarema [no centro de treinamento da CBV], com febre, aí já fiquei isolado. Minha esposa, Annalisa, foi me buscar. Veio de Floripa de madrugada, alugou um carro, me pegou, e viemos para o Rio. Comecei a passar muito mal e fui para o hospital. Até ali, estava consciente. Lembro que no dia 17 [de abril] comecei a reclamar, dizendo que não estava confortável. Dia 18 foi a última mensagem que mandei para ela, dizendo que não aguentava mais, que ela falasse com os médicos, que se tivesse que intubar, então intubasse, mas eu queria acabar com aquela angústia, não suportava mais estar ali. Depois, não me lembro de mais nada.

Agora vou contar o que eu sei, não o que eu senti. A primeira grande decisão dos médicos, e agradeço muito a eles, era a amputação ou não da perna, porque deu uma trombose muito grande na altura da virilha da perna esquerda. Eles chegaram à conclusão de que eu não resistiria a essa cirurgia. Resolveram então abrir tudo, suturar, colocar telas e redes para segurar todas as outras tromboses que vieram a surgir no meio do caminho. Mas essa da virilha que foi a grande. Dia 19, fui operado, dia 25, fui extubado, até ali estava indo tudo indo bem, mas surgiu uma febre muito alta.

Dia 26, fui intubado novamente e descobriram que era uma bactéria extremamente forte [a causa da febre]. Baixava, aumentava, até que, dia 5, já estável, fiz a traqueostomia. Foi quando comecei a acordar, só que sem voz.

Sempre tive uma superprodução de cera no ouvido e, de três em três meses, vou no otorrino para limpar. Acordei sem escutar nada também. Talvez tenha havido uma superprodução. Quando acordei estavam meus dois filhos, Gianluca e Enzo, e minha esposa. Eu tentava dizer que não escutava nada, mas não conseguia falar. Comecei a soletrar, me deram o celular para escrever, mas eu não conseguia mexer os dedos, não tinha o menor movimento. Comecei [faz o movimento das sílabas com a boca]: o - tor - ri -no. Aí veio um e pá [resolveu o problema]. Caramba, estou escutando, já foi a primeira grande vitória [risos].

Volta dos movimentos

Colocaram um aparelho pra eu começar a falar, e começou o processo de recuperação física. Vinham os fisioterapeutas três vezes por dia, disseram que era muito importante conseguir sentar para depois levantar e caminhar. A primeira vez que tentei sentar, rodou tudo e deitei de novo. Começou uma dor muito forte na altura da costela. Eu falei: não vou conseguir, o ar não entrava. Tive que fazer uma intervenção bem dolorida, mas que mudou a minha vida, para tirar o ar que entrou na pleura [pneumotórax].

Em dois dias, estava zerado de dor. Consegui sentar, levantar e logo em seguida dar os primeiros passos. Foi uma vitória incrível. Mas, antes de eu fazer isso, chegou a passar na minha cabeça que eu nunca mais sairia da cama. Falava: 'Cara, não tenho condições físicas de sair, fiquei sequelado'. Não conseguia me mexer de um lado para o outro. Ficava chateado, tenso, chorava. Até me perguntavam: 'Você pensava na Olimpíada?'. Naquele momento, juro que não pensava em nada, só na minha família e que queria sair daquela cama.
Tinha medo de dormir, porque não sabia quanto tempo ficaria de novo apagado. Pedi que sempre houvesse alguém da família comigo. Em nenhum minuto fiquei sozinho e quase não dormia, eles sofreram nas minhas mãos.

Saí do hospital de cadeira de rodas e oxigênio. Comecei a fazer tratamento numa clínica com profissionais especializados em pós-Covid e recuperação cardiorrespiratória. Tem um teste em uma pista em que você tem que andar durante seis minutos. Andei 40 metros em seis minutos. Andei 20 e tive que sentar para buscar força. Aí vi, caramba, estou bem atrás
[risos].

Mas foi impressionante a melhora que começou a acontecer no dia a dia. Muita gente pergunta: 'Por que você sobreviveu e tantas pessoas morreram?'. Não vou saber dizer. Acho que um somatório de coisas: uma equipe médica extremamente competente, um pouco de sorte, minha condição física e meu modo de vida ajudaram também. Acredito demais que essa corrente de fé me trouxe de volta.

Hoje [terça, dia 8] fiz de novo esse exame de seis minutos e andei o máximo que dava ali, mil e poucos metros. Comecei a trotar, estou subindo escada, dirigindo carro, tomando banho em pé. Ainda preciso melhorar algumas coisas. Perdi mais de 20 kg, muito quadríceps, peitoral, braço. Isso quero readquirir, mas tenho tempo suficiente agora. Meu sonho é, que quando os garotos voltarem da VNL, eu esteja lá em Saquarema próximo do meu 100% para voltar às atividades.

Morto duas vezes

Acordei muito assustado porque, nesse período em que eu estava apagado, tinha a convicção de que tinha morrido. Pelo menos por dois momentos eu vivenciei isso. Falei com o Radamés Lattari [vice-presidente da CBV, intubado um pouco antes de Renan], e a primeira coisa que ele viu eu vi também: luzes diversas, pontinhos coloridos, uma coisa muito louca que confundia a cabeça. E de repente eu vi meu pai do meu lado, minha mãe, vi muito a minha avó [Maria Eva]. Eu tinha uma afinidade grande com ela. Estava jogando no exterior quando ela faleceu e não consegui chegar a tempo no enterro.

Aí vi uma matéria na televisão dizendo que eu tinha falecido, deixado esposa e dois filhos. Aquilo me impressionou e falei: estou morto. Acreditei naquilo. Mas ao mesmo tempo eu sentia minha esposa segurando minha mão o tempo todo. Depois vim a saber que, quando estava em coma, não mais na área de Covid, ela estava lá direto segurando minha mão, falando o tempo todo, colocando músicas que temos em comum.

Na outra vez, eu saí do meu corpo e me vi todo amarrado, sem conseguir me mexer. E tem explicação. Quando eu estava intubado, estava com os braços amarrados. Muito punk isso, né?

A partir do dia 8, começaram a ceder com os medicamentos e toda essa loucura começou a acabar na minha cabeça. Ficaram só as dificuldades físicas, de se recuperar, começar a comer. A primeira vez que o cara me deu gelatina na boca, pensei que estava comendo caviar. Falei: 'Meu Deus do céu, que coisa maravilhosa'. Disseram: 'Renan, tem que ser devagarzinho'. 'O quê? Vou matar esse pote aí, cara.'

Nunca na minha vida tinha ficado mais de 24 horas sem falar com a minha esposa. E, cara, fiquei quase um mês. Meus filhos tentavam levar uma vida normal, mas de uma hora para outra começavam a chorar. Dói muito mesmo não o que passei, mas o que fiz as pessoas que amo passarem.

Pensamento na Olimpíada

Quando vi que poderia ter alta, que estava melhorando, veio a questão da Olimpíada. Agora meu foco é aquilo ali. Vou melhorar, quero ficar bem porque tenho um grande compromisso. Mas o mais incrível é que, quando acordei, não tinha a mínima noção de que tinha passado um mês.

Não tiro isso [Olimpíada] da minha cabeça, estou assistindo à VNL, em contato diário com todos eles. E, hoje, virou um objetivo enorme, apesar de saber que temos várias seleções com condições de vitória, como Rússia, EUA, França, Itália, Polônia. A Argentina é extremamente perigosa, o Irã. A seleção do Japão é a melhor dos últimos 15 anos. Sei da pressão que é. Vamos chegar na melhor condição, dar o nosso máximo. O nosso grande sonho é uma medalha olímpica, de preferência de ouro.

No primeiro contato com o grupo [por vídeo], me aplaudiram. Comecei a falar com eles, o Bruninho até disse: "P..., está dando migué, poderia vir aqui". Foi muito bacana. Adoraria estar na Itália com eles, mas estou observando bastante porque vou ter quer tomar uma decisão importante [de cortes]. Só 12 vão à Olimpíada, infelizmente.

Olimpíada na pandemia

O mais importante é que não teremos contato com público algum, nem mesmo com familiares. Os protocolos na Vila Olímpica são extremantes rigorosos. Temos uma bateria incrível de testes para fazer até lá. Vai ser realizada de uma maneira brilhante por eles, porque o Japão, quando quer fazer uma competição bacana, é muito rigoroso. Claro que a gente fica atento, alguns jogam de máscara, alguns tiveram Covid, mas todos vão sair daqui vacinados com as duas doses.

Folhapress

Uma funcionária da CBF apresentou nesta sexta-feira (4) denúncia contra o presidente da entidade, Rogério Caboclo. Ela o acusa de assédio moral e sexual, e os relatos foram feitos à Comissão de Ética e Diretoria de Governança e Conformidade da instituição.

O cartola sofre pressão de dirigentes de de federação para se afastar do cargo.

A colaboradora, que trabalha como cerimonialista, detalhou os constrangimentos causados pelo mandatário. Segundo depoimento dela, publicado pelo GloboEsporte.com, o cartola estava sob a influência de álcool em todos os episódios.

De acordo com a denunciante, os abusos teriam começado em abril do ano passado. Ela afirma que alguns constrangimentos aconteceram diante de diretores da CBF. Em um deles, Caboclo teria tentado forçá-la a comer um biscoito de cachorro e a chamado de "cadela". Em outra ocasião, teria perguntado se ela se masturbava.

Caboclo, de acordo com a entidade, teria inventado relacionamentos amorosos dela com outras pessoas da confederação.

A comissão de ética pode recomendar que a denúncia seja enviada às autoridades policiais e judiciais. Esportivamente, ele pode ser banido do futebol. Há denúncia de comportamento impróprio do dirigente, agora detalhado pela vítima como assédio moral e sexual, estourou há mais de um mês. Dirigentes de federações disseram à Folha que a funcionária tinha várias provas das atitudes do mandatário, inclusive fotos íntimas enviadas por ele.

Presidentes de entidades estaduais afirmaram também à reportagem que a situação de Caboclo pode se tornar insustentável e que o momento não poderia ser pior politicamente para o cartola, que tenta desmantelar uma revolta de jogadores que pode levar ao boicote da Copa América.

Ela foi contratada pela CBF em 2012, na administração de José Maria Marin e foi levada ao departamento de cerimonial pelo seu sucessor, Marco Polo Del Nero.
A CBF e Caboclo não se manifestaram até o momento sobre a denúncia.

Folhapress

A Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) divulgou na noite de quarta-feira (2) a tabela da Copa América. Abrigada pelo Brasil depois de ser descartada por Colômbia e Argentina, a competição terá sua abertura no estádio Mané Garrincha, em Brasília, e será concluída no Maracanã, no Rio de Janeiro.
O torneio vai se desenrolar de 13 de junho a 10 de julho. No primeiro dia de disputas, a seleção brasileira enfrentará a Venezuela, na capital. Em sua caminhada no Grupo B, a equipe anfitriã atuará também no Rio de Janeiro (17/6, contra o Peru, e 23/6, contra a Colômbia) e em Goiânia (27/6, contra o Equador).
O detalhamento da tabela mostrou que o Rio de Janeiro terá duas arenas na competição continental de seleções. O Maracanã será o palco apenas da final. Os outros sete jogos programados para a capital fluminense serão realizados no Nilton Santos, o Engenhão. Em Goiânia, as partidas serão realizadas no estádio Olímpico.
O time comandado por Tite, que defende o título obtido no próprio Brasil, em 2019, só não visitará uma das quatro cidades-sedes, Cuiabá. A Arena Pantanal, em Mato Grosso, receberá apenas partidas do Grupo A, encabeçado pela Argentina, e não está na programação das quartas de final nem das semifinais.
A programação manteve as datas de início e término previstas inicialmente, quando se imaginava que Argentina e Colômbia receberiam os confrontos. A convulsão social no território colombiano e o agravamento da pandemia do novo coronavírus em cidades argentinas fez os países abrirem mão do campeonato.
Procurado pela Conmebol, o Brasil, sede do torneio em sua última edição rapidamente se prontificou a assumir a organização. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) viu a possibilidade com bons olhos, trabalhou com governadores aliados e definiu as quatro sedes. Assim, a tabela foi confeccionada de terça para quarta, menos de duas semanas antes da abertura.
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JOGOS DE CADA CIDADE
Rio de Janeiro (Nilton Santos e Maracanã)
14/6 - Argentina x Chile
17/6 - Brasil x Peru
20/6 - Venezuela x Equador
23/6 - Brasil x Colômbia
28/6 - Uruguai x Paraguai
2/7 - Quartas de final (1º B x 4º A)
5/7 - Semifinais (1º B ou 4º A x 2º B ou 3º A)
10/7 - Final

Goiânia (Olímpico)
14/6 - Paraguai x Bolívia
17/6 - Colômbia x Venezuela
20/6 - Colômbia x Peru
23/6 - Equador x Peru
27/6 - Brasil x Equador
2/7 - Quartas de final (2º B x 3º A)
3/7 - Quartas de final (1º A x 4º B)

Cuiabá (Arena Pantanal)
13/6 - Colômbia x Equador
18/6 - Chile x Bolívia
21/6 - Uruguai x Chile
24/6 - Bolívia x Uruguai
28/6 - Bolívia x Argentina

Brasília (Mané Garrincha)
13/6 - Brasil x Venezuela
18/6 - Argentina x Uruguai
21/6 - Argentina x Paraguai
24/6 - Chile x Paraguai
27/6 - Venezuela x Peru
3/7 - Quartas de final (2º A x 3º B)
6/7 - Semifinais (1º A ou 4º B x 2º A ou 3º B)
9/7 - Disputa do 3º lugar

Alex Sabino e Carlos Petrocilo (Folhapress)

Após denúncia de uma secretária que acusa Rogério Caboclo de assédio moral e sexual, o Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ) abrirá uma investigação contra a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

O MPT tomou essa decisão na sexta (4), após a repercussão da denúncia protocolada pela funcionária à Comissão de Ética e Diretoria de Governança e Conformidade da CBF. O órgão define, ainda nesta segunda (7), quem será o procurador que deverá cuidar do caso.

No domingo, Caboclo foi afastado da presidência da entidade por 30 dias, a princípio. Ele terá que se defender no Conselho de Ética da CBF e, possivelmente, no MPT-RJ. A autora da denúncia, que trabalhava como secretária do dirigente, detalhou os constrangimentos que sofreu.

De acordo com a funcionária, os abusos teriam começado em abril do ano passado. Ela afirma que algumas situações aconteceram diante de diretores da CBF. Caboclo, segundo relato da funcionária à entidade, teria inventado relacionamentos amorosos dela com outras pessoas da confederação e feito perguntas de cunho pessoal.

A crise estourou na entidade há mais de um mês, quando a secretária pediu afastamento alegando motivo de saúde, mas chegou ao seu auge após a denúncia ser feita por ela na última sexta. Dirigentes de federações disseram ao jornal Folha de S.Paulo na ocasião que a mulher tinha várias provas das atitudes do mandatário.