Por: Douglas Gavras e Gilvan Marques

Tomar café da manhã ficou mais caro para o brasileiro, já que itens como pão francês, margarina e leite subiram acima da inflação oficial do país, medida pelo IPCA (Índice Geral de Preços ao Consumidor - Amplo), em 12 meses até abril.

A inflação dos itens da cesta básica bateu em 28,9% em 12 meses até abril -patamar recorde desde que o acompanhamento começou a ser feito, em setembro do ano passado, segundo estudo mensal feito por economistas da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

No caso dos produtos do café da manhã, a alta de preços foi de 32,16% -bem acima do registrado no IPCA de 12 meses até abril (12,13%).

O Índice de Inflação da Cesta Básica de abril aponta que as maiores altas desse conjunto de alimentos foram do tomate (103,26%), do café em pó (67,53%) e da batata-inglesa (63,4%). No período, apenas um item apresentou queda de preço: o arroz, que ficou 11,53% mais barato.

Em um mês, o único item que apresentou queda foi a banana-prata, de 3,18%. O cálculo teve como base de ponderação as despesas de consumo das famílias residentes nas áreas urbanas, com rendimentos entre 1 e 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte de rendimentos, obtidos a partir da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2017-2018.

Servindo pão, bebida quente, biscoitos e bolos para o café da manhã de cerca de 700 pessoas em sua paróquia, na zona leste de São Paulo, o padre Julio Lancellotti conta que os aumentos de preços de alimentos reduziram as doações de cestas básicas em cerca de 70%.

"Usamos muitos alimentos para conseguirmos dar conta da demanda das famílias, mas as doações caíram muito. Tivemos de reduzir a distribuição de complementos para o café da manhã, como bolos e achocolatado", diz o padre.

A procura por alimentos tem flutuado nos últimos meses, mas nos meses de inverno a procura por comida tende a ser maior. "Desde a pandemia, aumentou o número de pessoas que precisam escolher entre alimentação ou moradia. Não são apenas pessoas em situação de rua, recebemos muitos aposentados, que não conseguem mais se manter com o que ganham."

O pão servido no projeto é de fabricação própria, mas os insumos usados na padaria para a fabricação de 1.200 pães por dia subiram consideravelmente nos últimos meses, conta ele. A meta é servir ao menos um pão a cada pessoa, mas o religioso diz que nem sempre tem todos os itens para doar. "Depende do dia. O pão que a gente prepara já é feito de uma forma que não precisa de recheio."

"Sem dúvida a inflação afeta muito mais as pessoas de rendimentos mais baixos, mas na atual conjuntura ela tornou os preços dos itens da cesta básica inacessíveis para muitos brasileiros", diz o professor Jackson Bittencourt, da PUC-PR.

Em maio, a prévia da inflação, medida pelo IPCA-15, subiu 0,59% -a alta foi mais leve do que a registrada em abril (1,73%), mas acima do que previam os analistas. No acumulado de 12 meses, o IPCA-15 bateu em 12,20% -a maior taxa para o índice desde novembro de 2003, quando o acumulado foi de 12,69%.

Nesse cenário, o consumidor tem precisado fazer malabarismos para conseguir ir ao supermercado.

Um outro estudo, da CVA Solutions, mostra que a busca por preços menores provocou várias mudanças nas compras em supermercados. O consumidor passou a ir mais vezes por semana ao supermercado do que ia no ano passado (aumento de 0,5 ponto).

Além disso, a procura por descontos, prêmios e promoções inflou os programas de fidelidade. O número de consumidores que participam desses benefícios aumentou de 28,3% para 30,5%.

Na busca por melhores preços e ofertas, o brasileiro também aderiu mais às marcas próprias dos supermercados: 54% compram e 62% desses consideram que a qualidade é comparável com as marcas mais famosas. Em 2021, esses percentuais eram de 52% e 58%, respectivamente.

"Conquistar o consumidor com programas de fidelidade, incentivar o uso de aplicativos com descontos e acúmulos de pontos são medidas muito eficientes. Os hipermercados e supermercados são mais ativos no mundo digital, mas os atacarejos ainda precisam melhorar", observa Sandro Cimatti, sócio-diretor da CVA.

O levantamento ouviu 5.512 pessoas de todo o país e foi finalizada no início de maio.

A cidade do Rio recuperou todos os mais de 118 mil empregos formais perdidos durante a pandemia de Covid-19 e apresenta um saldo positivo de 5,8 mil novos postos de trabalho. Os dados estão na quarta edição deste ano do Boletim Econômico do Rio, publicação mensal da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS).

Os empregos foram fechados no início da crise sanitária, entre março e agosto de 2020. A cidade começou a se recuperar em setembro, fechando o ano com um déficit de 92,3 mil vagas formais. Em 2021, com a vacinação avançando e a implementação de medidas de estímulo pelo Município, a economia reagiu, resultando na geração de 82,5 mil novas vagas Os sinais de recuperação continuaram, tendo fevereiro encerrado com saldo positivo de 15,8 mil postos de trabalho. O mês de março inicia com 5,8 mil empregos a mais em relação ao período pré-pandêmico.

– Sabíamos que o maior desafio do Poder Público seria atenuar os impactos econômicos da pandemia. Por isso, implementamos medidas como o Crédito Carioca, Auxílio Empresa Carioca e Auxílio Ambulante do Carnaval de Rua, que buscaram sobretudo evitar a perda dos meios de subsistência do trabalhador carioca. Em paralelo, procuramos assegurar que investimentos seguissem sendo feitos na Cidade, formulamos políticas públicas como o Licenciamento Integrado (Licin), Porto Maravalley, Programadores Cariocas, Bolsa Verde Rio e a Lei de Liberdade Econômica. O nosso foco sempre foi de fortalecer a economia e gerar empregos – explicou o secretário Thiago Dias.

 

O setor de serviços, após atingir o pico de empregos perdidos em setembro de 2020 (-81,5 mil), apresentou uma geração positiva de 1,8 mil novos empregos em fevereiro de 2022. Já o comércio recuperou todos os empregos perdidos em novembro de 2021, enquanto a indústria recuperou em outubro do mesmo ano.

Na análise por gênero, as mulheres recuperaram todos os empregos formais perdidos, após o pico em agosto de 2020 (-44,5 mil), e acumulam uma geração positiva de 18,9 mil vagas. Já os homens, que chegaram a perder 74,1 mil empregos entre março e agosto de 2020, ainda não recuperaram todas as vagas. Em fevereiro de 2022, o resultado ainda era de -13,1 mil, no acumulado desde março de 2020.

Na análise por nível de escolaridade, os empregos formais com ensino médio completo e superior incompleto, já recuperaram todos os empregos perdidos com a pandemia. Assim como as microempresas.

Nos últimos 12 meses terminados em fevereiro de 2022, o Indicador de Atividade Econômica do Rio (IAE-Rio), índice oficial desenvolvido pela SMDEIS, refletiu um crescimento, em termos reais, de 5,7%, mostrando a recuperação da economia carioca ao longo dos últimos meses. A taxa de inflação no Rio nos últimos 12 meses terminados em março de 2022 foi de 11,0%, próximo da inflação brasileira (11,3%).