[Crítica]: 'Vitória' traz um verdadeiro show de Fernanda Montenegro
Por: Fernando Pimenta
O cinema nacional atravessa um período de grande destaque após a campanha histórica de ‘Ainda Estou Aqui’. O filme, estrelado por Fernanda Torres, tornou-se a primeira produção brasileira a vencer o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Nesse contexto, nada mais apropriado que este bastão passe para ‘Vitória’, filme protagonizado por Fernanda Montenegro, o maior nome da atuação no Brasil. Fernanda Montenegro teve uma breve participação em ‘Ainda Estou Aqui’, mas, em ‘Vitória’, o protagonismo é inteiramente seu.
O filme retrata a história real de Joana Zeferino da Paz, moradora da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, que, munida apenas de uma câmera amadora, registrou crimes ocorridos em seu bairro.
No filme, a personagem recebe o nome de Nina. E Fernanda Montenegro é fisicamente diferente da verdadeira Joana, que era uma mulher negra. Isso acontece porque a verdadeira identidade de Joana só foi revelada em 2023, após seu falecimento e a conclusão das filmagens. Até então, em razão dos crimes que documentou, sua identidade permaneceu sob sigilo pelo Programa de Proteção a Testemunhas.
Esses aspectos, no entanto, não comprometem o brilho da obra e, sobretudo, o desempenho excepcional de Fernanda Montenegro. O filme conta com diversos outros personagens, como a vizinha Bibiana, interpretada por Linn da Quebrada, e o pequeno Marcinho, papel vivido por Thawan Lucas.
Mas não se enganem, o filme é totalmente da Fernanda Montenegro. Sua atuação precisa, contida e profundamente humana transmite todas as nuances da personagem. A atriz expressa o que pensa sem necessidade de palavras, manifesta uma tristeza profunda sem derramar uma única lágrima. Aos 95 anos, Fernanda Montenegro reafirma sua maestria.
Cabe ressaltar, contudo, que o longa dificilmente alcançará o mesmo impacto e prestígio de ‘Ainda Estou Aqui’. No entanto, mãe e filha — Fernanda Montene- gro e Fernanda Torres — já demonstraram repetidas vezes que o Oscar ou qualquer outra premiação estrangeira não deve ser considerado parâmetro absoluto para o trabalho realizado no Brasil. O mais importante é celebrar a oportunidade de testemunhar duas obras tão cativantes dessa família em um intervalo tão curto de tempo.