Funcionários de diferentes setores relatam atrasos e falta de pagamento enquanto proprietário admite dívidas em live

 

 

 

Por: Lucas Costa

A cena noturna do Rio de Janeiro está em polvorosa com uma série de denúncias feitas por produtores e DJs contra a boate Street Lapa e seu proprietário, Jorge Nascimento. Profissionais do meio relatam atrasos e não pagamentos por serviços prestados ao estabelecimento, levantando um debate sobre a falta de profissionalismo e compromisso financeiro no setor.

Jorge Nascimento, dono do antigo Street Lapa. (Foto: Reprodução/Internet)

As acusações vieram a público por meio das redes sociais, onde artistas começaram a expor suas experiências com a casa noturna. Um dos relatos mais contundentes foi o do produtor e DJ Vitor Mencarelli, que publicou um desabafo afirmando estar há quase um ano sem receber um pagamento de mais de 3 mil reais pelos serviços prestados ao projeto. Em tom irônico, Mencarelli escreveu: “Espero que os próximos passos do projeto incluam pagar os R$ 3.400 reais de serviços que prestei há quase um ano atrás pra casa”, acompanhado de um emoji de coração apaixonado.

Vitor usou suas redes sociais para expor o caso. (Foto: Reprodução/X)

Mencarelli ainda detalhou que os problemas com Jorge Nascimento começaram em 2021, quando os pagamentos de seus cachês passaram a atrasar com frequência. Inicialmente, os valores eram pagos com duas ou três semanas de atraso, mas, com o tempo, os débitos foram se acumulando. “Já cheguei a ficar com 14 cachês acumulados no Street, e ele na maioria das vezes era estúpido nas respostas quando era cobrado. Isso foi gerando um desgaste enorme na minha saúde mental. Ele sempre enrolava e alegava uma desculpa diferente”, relatou o DJ. Além disso, Mencarelli também trabalhou na produção de projeções para os telões da boate por três anos, mas deixou de receber pelos serviços e, quando finalmente foi pago, o valor veio com anos de atraso. Atualmente, ele está há nove meses sem receber seu cachê e sem qualquer resposta por parte de Jorge.

Outro profissional da cena, Juan Facury, também utilizou suas redes sociais para cobrar Jorge Nascimento e revelou conversas privadas com o empresário. No print divulgado, Facury insiste na necessidade de uma resposta sobre o pagamento devido. Em resposta, Jorge questiona: “Minha casa te incomoda?”. O produtor de eventos rebate afirmando que sempre foi um dos poucos que nunca atacaram Jorge publicamente, mas que a falta de consideração e os constantes atrasos levaram à exposição do problema.

Juan postou prints das suas conversas com Jorge nos stories do Instagram. (Foto: Reprodução/Instagram)

O DJ Mello, que também trabalhou com Jorge Nascimento, reforçou as acusações contra o empresário. Segundo ele, no início, havia cumplicidade e parceria na produção dos eventos, mas com o tempo, Jorge se perdeu em meio a problemas financeiros e mudanças de comportamento. Mello afirmou que, após longos atrasos nos pagamentos, ficou meses sem receber por shows realizados na Street Lapa. Ele chegou a ser colocado na “geladeira” da casa após cobrar valores devidos e só conseguiu receber parte do que lhe era devido após insistentes tentativas de contato. “Ele debochava das pessoas que cobravam pagamento, enquanto gastava dinheiro em festas e eventos. Tudo o que ele tem hoje foi construído com base no trabalho de outras pessoas que ficaram sem receber”, desabafou.

Além desses relatos, o DJ Luk, que trabalhou por cinco anos na casa, também compartilhou sua experiência. Ele afirma que teve pouco contato pessoal com Jorge Nascimento, já que o empresário raramente estava presente no local. No entanto, pode testemunhar o impacto da mudança de comportamento do dono da casa a partir de 2023, quando a boate passou por uma fase de crescimento. Segundo Luk, diversos funcionários relataram ter sido tratados de forma desrespeitosa e até humilhante. Frases como “se vocês saírem daqui, vocês – incluindo os DJs – não sobrevivem à cena, pois a minha casa é a maior do RJ” e “vocês são ingratos a esse ponto” eram comuns, mesmo quando Jorge ainda devia salários e cachês para a equipe.

Luk destaca que os DJs tinham uma conexão especial com a casa Street Lapa e faziam de tudo para que o funcionamento da casa ocorresse sem problemas. Muitos enxergavam ali uma oportunidade para o crescimento profissional, e alguns realmente conseguiram abrir novos caminhos a partir dali. No entanto, a administração da boate os deixava constantemente de lado enquanto Jorge desfrutava do luxo, chegando a justificar em uma live no Instagram que suas viagens eram financiadas por pontos acumulados no cartão da boate, sem custo pessoal.

Foto: Reprodução/Internet

O último contato de Jorge com Luk ocorreu em 29 de outubro, quando o empresário perguntou se poderia contar com o DJ para a abertura de um novo bar. Luk respondeu que poderia participar, desde que ao menos três cachês atrasados fossem pagos, pois acumulava contas e estava enfrentando dificuldades financeiras. Segundo ele, foi a ajuda de sua família que o manteve nesse período de incerteza, pois os custos com transporte e alimentação para trabalhar no Street Lapa se tornaram insustentáveis. Em 6 de setembro, Jorge havia feito um adiantamento de três cachês, mas os atrasos voltaram a se acumular com o tempo, sempre com a justificativa de que a situação seria resolvida em breve. Ao todo, Luk estima que tem cerca de 5 mil reais em pagamentos não recebidos.

Na noite desta quinta-feira (13 de março), Jorge foi às redes sociais para falar sobre sua situação em uma live no Instagram. Ele alegou que querem tirar tudo o que é dele e até se tornar ele, além de admitir que deve dinheiro a muitas pessoas e sentir vergonha disso. No entanto, as acusações continuaram. Juan Facury, em resposta, abriu uma live paralela expondo mais detalhes sobre o empresário. Segundo Juan, há prints que comprovam que Jorge era abusivo com funcionários em grupos de trabalho e que, quando o modelo Suede Oliveira, de 44 anos, faleceu ao cair do mezanino da boate, Jorge viajou para a Grécia e ficou enviando fotos e vídeos do local para ele. Juan também afirmou que aconselhou Jorge a não expandir seus negócios comprando outros espaços e selos, pois considerava a decisão arriscada.

Foto: Reprodução/Internet

A Street Lapa está fechada desde que Suede Oliveira faleceu ao cair do mezanino da casa. Desde então, a boate tentou reabrir, mas sempre enfrentando problemas administrativos e operacionais, como o cancelamento de eventos devido a questões internas.

Além de Mencarelli, Facury, Mello e Luk, outros profissionais também aguardam o pagamento de cachês e salários que Jorge Nascimento deve a eles. As denúncias seguem se acumulando, com artistas reforçando os relatos de descaso financeiro por parte da Street Lapa. A boate, que recentemente anunciou o encerramento de suas atividades no local onde funcionava, ainda não se pronunciou oficialmente sobre as acusações e os próximos passos.

Enquanto isso, a comunidade artística carioca se mobiliza para expor e pressionar Jorge Nascimento, exigindo não apenas os pagamentos devidos, mas também maior respeito e compromisso com os profissionais que fazem a cena noturna da cidade pulsar. O caso segue repercutindo e levantando questionamentos sobre as práticas empresariais na noite carioca.