Escritora Alexia Road fala sobre como foi criar uma história que gira em torno sobre relacionamento abusivo
Por: Igraínne Marques
Alexia Road é sucesso. Autora de oito obras, recentemente ficou entre os três autores mais baixados na plataforma de livros gratuitos da Amazon. Com a história “Os Paradigmas de Amy” (2017), foi a escritora mais vendida da Editora Pandorga durante a Bienal do Livro do ano passado, dando o que falar por conta do enredo envolvendo relacionamentos abusivos. Feminista e batalhadora, Road recebeu nossa equipe no Rio de Janeiro para uma entrevista exclusiva sobre mercado editorial, narrativas sociais e histórias que valem a pena serem lidas.
Jornal da Barra: Como é seu processo criativo? Você fez algo especial para escrever "Os Paradigmas de Amy"?
Alexia Road: Eu tenho uma rotina de escrita. Ao menos seis horas por dia trabalho em meus livros e na divulgação deles. Dependendo da cena e da história, gosto de escutar minhas músicas favoritas ou comer um doce. Para escrever “Os Paradigmas...”, fiz alguns meses de pesquisa. Por abordar um assunto bem forte, que é o relacionamento abusivo, precisei de um tempo para me recuperar dos relatos a só então escrever as cenas. Geralmente eu escrevia no silêncio absoluto, quase sempre durante a madrugada.
Jornal da Barra: Você falou sobre ter tempo para se recuperar por conta do tema forte do livro. Por que você escolheu o relacionamento abusivo como pano de fundo?
Alexia Road: O livro foi escrito há quatro anos, quando ninguém falava muito sobre isso. Quando a Amy apareceu para mim, eu não fazia ideia da história que ela ia me contar. A princípio, ela estava apenas em um relacionamento infeliz. Conforme as cenas foram se desenrolando, no entanto, entendi que era mais obscuro do que isso, e que a Amy representava uma grande porcentagem de mulheres que estão em um relacionamento abusivo. Hoje em dia vemos constantemente o assunto nas redes sociais. Entendi a importância da personagem quando, certa vez, ouvi áudios da polícia nas redes sociais em que as mulheres ligavam para pedir socorro. Aquilo me deixou com raiva, porque ninguém falava sobre, ninguém queria ouvir e essas mulheres permaneciam silenciadas. E ainda permanecem, de certo modo. Escolhi falar e escrever sobre isso para causar reflexão sobre o assunto.
Jornal da Barra: Você acredita que seu livro pode ajudar as mulheres a saírem disso?
Alexia Road: Acredito que sim, o primeiro passo para a mudança é a reflexão e acho que o livro cumpre esse papel. Algumas mulheres já me procuraram para desabafar e isso me deixou extremamente comovida. Pouco depois do lançamento comecei a receber várias mensagens: não só de quem sofria com um relacionamento do tipo como de pessoas que eram amigas das vítimas. Elas me diziam o quanto a Amy era real e isso me deixou triste. A esperança é saber que elas foram atrás de felicidade. E que usaram o livro para presentear as amigas, ajudá-las. Sei que, ao mesmo tempo em que a Amy é uma personagem fictícia, a história dela não é muito diferente do que acontece por aí.
Jornal da Barra: Essa veia social é a sua principal referência na hora de escrever?
Alexia Road: Nem sempre. Eu respeito a história dos personagens que aparecem para mim, alguns tem vidas mais tranquilas, sem que contenham esse tipo de assunto. Mas outros vêm com essa vontade de abordar assuntos que precisam ser discutidos.
Jornal da Barra: Você é uma escritora que tem muitos livros de sucesso na internet. Qual a diferença de publicar via web e publicar um livro físico?
Alexia Road: Existe uma enorme diferença. No meio online as pessoas são mais presentes e as respostas vêm de forma mais rápida. Você posta capítulo por capítulo e vê em tempo real o que os leitores estão achando do seu trabalho. Já no modelo físico isso acontece de modo mais silencioso: uma boa parte do público que adquire o exemplar não conversa com o autor sobre. As duas maneiras são ótimas, mas o físico tende a agradar mais aos meios tradicionais e às pessoas. Na verdade, escolhi publicar o livro “Os Paradigmas...” porque era o menor entre minhas obras e também porque era mais recente entre eles. Achei que seria uma boa escolha.
Jornal da Barra: Então de certa forma foi conveniência pelo tamanho e tempo? Ou é seu livro favorito?
Alexia Road: Conveniência não, até porque eu não tinha como saber como ele seria aceito pelo público. Um dos meus maiores medos era que as pessoas não dessem uma chance para a história, não gostassem da proposta. Mas após o sucesso da Bienal do Livro de 2017, eu me convenci de que deu certo. A Amy sem dúvidas é uma das minhas personagens favoritas e eu precisava mostrá-la para o mundo.
Jornal da Barra: Você tem planos de publicar outro livro fisicamente? Se sim, qual?
Alexia Road: Sim. Acabei de escrever uma história em janeiro e a obra vai sair pela Editora Volúpia. Devemos publicar primeiro em formato e-book e depois estudaremos a possibilidade de lançar um livro físico. Não posso dizer o título por enquanto, pois é provável que ele mude. Mas posso adiantar que é um romance muito delicado e surpreendente. Conta a história da Serena, uma jovem espanhola que cedo demais teve que lidar com o luto de diversas formas: por conta da tristeza, ela acaba se perdendo em si mesma. O livro vai contar sua jornada para se reencontrar.
Jornal da Barra: Como foi a luta para conseguir se firmar no mercado editorial?
Alexia Road: Acho que se trata de trabalho de equipe. Conto com a ajuda de duas escritoras incríveis, antigas no mundo das fanfics e de muito sucesso na web: Lunah Nunes e a Camila Lima. Elas que me dão bronca se fico sem escrever (risos).