Projeto mostra que é possível abraçar todas as formas de expressão
Desde outubro de 2017, a Taquara possui um evento onde encontram-se as sete artes: música, artes cênicas, pintura, escultura, arquitetura, literatura e cinema. Todas elas podem ser vistas dentro do Cine Taquara, ao lado da estação do BRT que leva o nome do bairro. O projeto, apesar de hoje ser itinerante, realiza um cineclube no local, todo segundo sábado do mês.
A ideia de fazer o evento multicultural surgiu da Gleyser Ferreira, 21 anos, quando ela tentava movimentar artisticamente e trazer debates sobre questões importantes para a sua região: “eu vendia doces com poesias nas ruas com o meu amigo Lucas França. Sempre fiz questão de colocar não só poetas consagrados, mas também os que não são tão conhecidos. Chegou um momento que eu reparei que muitas pessoas não queriam as poesias, então comecei a perguntar o motivo. A maioria me falava que não gostava de ler. A partir de então, vi que precisava fazer algo para melhorar isso”, conta a fundadora do projeto.
O início foi difícil, pois Gleyser não tinha os equipamentos para fazer as sessões de cinema e a princípio, não tinha tantas mãos voluntárias para o evento acontecer. Depois de algumas publicações na internet, ela recebeu um projetor da amiga, Tabata Isabbor, além de algumas pessoas que se colocaram à disposição para ajudar. O projeto ganhou vida com a primeira edição tendo como assunto “Infância e sustentabilidade”. Para o evento, foram exibidos os filmes “Ilha das flores” e “O homem”, além de uma oficina de plantio em garrafas pet, com embalagens coletadas do lixo e mudas orgânicas cedidas pela UFRJ.
Após pouco mais de um ano de trabalho, a equipe já conseguiu realizar o projeto em escolas públicas, DEGASE e até na Bahia, na favela de San Martins. Sempre abordando temas importantes para a sociedade, como questões raciais e sustentabilidade, o Cine Taquara vai além de exibições de filmes e apresentações artísticas: “o encontro e as redes que são formadas, pessoas que se conhecem durante o evento e a autoestima da população. Acreditamos na arte como forma de transformação social, na criação de um senso crítico, através dos debates e no lazer como ação política, sendo reação ao sistema de opressão”, disse Nelson Neto, responsável pelas partes técnica e gráfica.
Sonhando e resistindo
Os objetivos do trabalho a longo prazo são estabelecidos coletivamente. Além de continuar realizando os eventos multiculturais, a equipe busca construir uma horta orgânica e conseguir fazer com que o evento não utilize itens descartáveis. Porém, estes objetivos estão mais distantes, já que o projeto não conta com investimentos público ou privado e se mantém através do trabalho voluntário: “o Cine Taquara é toda a comunidade, cada pessoa que se engaja e busca ajudar para o evento acontecer. Nós poderíamos estar muito além, mas sofremos com a falta de material. Som, microfone, iluminador, câmera... não temos investimento para ter nossos próprios materiais e isso dificulta o nosso avanço. Mas, mesmo assim, seguimos lutando”, afirma Gleyser.
A base do Cine Taquara é trazer elementos de entretenimento diferentes dos habituais na comunidade, diversificando culturalmente e transformando a realidade das pessoas que experimentam essa experiência.