Mesmo sem ajuda de governantes ou patrocinadores, projeto social comemora o crescimento no número de alunos e a colaboração na formação acadêmica e social dos futuros bailarinos.
Fundada em março de 2012, a Academia das Artes Carlos Laerte, localizada numa linda casa na Rua Uruçanga, 165, em Jacarepaguá, não leva o nome do cineasta, bailarino, professor e coreografo atoa. Ele é o principal responsável por um projeto social que tem mudado a vida de crianças e jovens da região em que nasceu e foi criado. A iniciativa faz parte de um sonho de Laerte, que é potencializar talentos esquecidos pelas autoridades e formar, muito mais que grandes artistas, mas grandes cidadãos.
Para o projeto acontecer, a academia trabalha de duas formas. Explica-se: além do projeto social que oferece bolsas para jovens e crianças da região interessados em arte, a casa também funciona como uma empresa fechada, que disponibiliza aulas das diversas modalidades do local, como balé, jazz e dança contemporânea, num valor de R$ 220 por estilo. “Aqui é uma empresa fechada. Tem os alunos pagantes da academia que sustentam a empresa. E com este recurso, nós ajudamos os jovens do projeto”, explica Carlos Laerte, que completa dizendo que os mesmos professores dão aulas para os alunos pagantes e os do projeto.
A motivação de Laerte para montar toda essa estrutura em prol dos jovens vem de sua própria história. Para ser um artista premiado nacional e internacionalmente, tendo no currículo parcerias com nomes como a coreógrafa Deborah Colker, e os diretores Sergio Brito, Jorge Fernando, Wolf Maia e Miguel Falabella, por exemplo, ele teve que trabalhar muito. O dono da academia, ainda aos 18 anos, conquistou uma bolsa para estudar em Nova York, na Broadway Center. Desde então, ele tem o seguinte pensamento: “Eu tive essa oportunidade e quero dar também para os jovens. Eu não vou ficar esperando o governo fazer, alguém fazer. Utopia demais. Ainda mais no nosso país de terceiro mundo, isso não vai mudar. Então, se você tem uma oportunidade de fazer isso, porque não fazer?”.
A prova da determinação de Carlos Laerte está no semblante e nas palavras dos jovens que integram o projeto. “Eu adorava dança, mas ficava muito sozinha em casa, um tédio. Depois que descobri o projeto minha cabeça e meu corpo mudaram. Fiz amigos e faço algo que posso me expressar. Realizei meu sonho de dançar”, diz Sabrina Oliveira, que, apesar dos 11 anos, já sabe que quer trilhar os caminhos da dança quando ficar mais velha. História parecida com a de Ana Carolina, de 15 anos, que precisou convencer os pais de que a dança era a sua paixão. “Eles achavam bobagem, preferiam que eu fizesse inglês ou informática”.
A resistência com a dança e a arte em geral é algo comum na sociedade. O próprio Laerte conta que já passou por isso quando jovem. “Minha irmã sempre foi muito inteligente, fazia administração e falava assim para mim: eu trabalho e meu irmão só fica dançando o dia inteiro”, conta aos risos. “Poxa, eu estava trabalhando, dando aula o dia inteiro. As pessoas não entendem que isso aqui é um trabalho.” Ele também conta que um dos seus alunos chegou a ser expulso de casa pelo pai, que reclamava que o menino “dançava o dia inteiro”. Entretanto, o talento do jovem mudou o cenário triste. “Tivemos apresentações no mês passado e o pai esteve presente em todas”, comemora a reviravolta. Apesar de alguns casos isolados, Laerte diz que a maioria dos país é apoiadora do projeto, o que é uma condição para a bolsa na academia.