Ex-auxiliar de Guardiola, técnico catalão Domènec Torrent assina contrato com o clube até dezembro de 2021
O Flamengo anunciou nesta sexta-feira (31) a contratação do técnico Domènec Torrent, 58, que chega para substituir o português multicampeão Jorge Jesus.
Ex-auxiliar de Pep Guardiola no Barcelona (ESP), no Bayern de Munique (ALE) e no Manchester City (ING), Torrent teve sua última experiência no futebol como treinador principal do New York City (EUA), da Major League Soccer, cargo que ocupou de 2018 a 2019.
O catalão, nascido na província de Girona, sabia desde o início das negociações que não era a primeira opção da diretoria rubro-negra, mas o alvo principal do clube, o português Carlos Carvalhal, optou por seguir na Europa e assinou com o Braga (POR).
Domènec Torrent é sócio e torcedor do Barcelona. Em 1992, ele viajou a Londres e assistiu no estádio de Wembley à vitória do Barça diante da Sampdoria (ITA), na final da Champions League, primeiro título da equipe na principal competição europeia.
Da arquibancada, admirava o jogo de Pep Guardiola, meio-campista daquele time, mas gostava ainda mais do treinador Johan Cruyff.
Foi o jogo praticado pelo holandês no chamado "Dream Team" do Barcelona que inspirou Torrent a virar treinador. Essa influência, inclusive, já foi citada pelo lateral direito Rafinha, que trabalhou com o catalão no Bayern de Munique e voltará a ser comandado por ele.
Ex-meio-campista de times amadores da Espanha, Torrent iniciou sua trajetória como técnico comandando equipes de categorias de base em clubes da Catalunha.
Seu primeiro trabalho que chamou mais atenção foi quando treinou o time principal do Girona (ESP), levando-o ao título da Terceira Divisão da Espanha, equivalente ao quarto escalão do futebol no país, na temporada 2005/2006.
A conquista abriu as portas do Barcelona, que o contratou para trabalhar com a base em La Masía. No verão europeu de 2007, se encontrou nos corredores do clube com Pep Guardiola, que chegava para assumir o time B do Barça.
"Disputaremos a terceira divisão e pensei que, porque você conhece a competição, poderia nos ajudar", disse Pep a Torrent. Em poucos dias, já estavam trabalhando juntos.
Do time B do Barcelona ao Manchester City, Domènec Torrent foi adaptando o seu trabalho dentro da comissão técnica de Guardiola. No clube catalão, ele era o responsável pela análise dos rivais, alimentando Pep com vídeos e informes. O posto de auxiliar imediato pertencia a Tito Vilanova.
Após conquistar 14 troféus no comando do time entre 2008 e 2012, Guardiola anunciou sua saída do Barça. Entre a despedida do clube e seu anúncio como novo treinador do Bayern de Munique, em 2013, Pep passou um ano sabático em Nova York.
Torrent, porém, seguiu trabalhando no futebol e acompanhou Tito Vilanova quando o antigo assistente sucedeu Guardiola no comando do Barcelona.
Com um câncer na glândula parótida, Vilanova permaneceu apenas uma temporada no Camp Nou. Foi a deixa para que Torrent aceitasse novamente um convite de Pep e refizessem a parceria, dessa vez no Bayern.
Na Alemanha, o antes analista passou a ser o auxiliar técnico direto da comissão, responsável pelas estratégias de bola parada e sentando-se ao lado do treinador no banco de reservas durante as partidas.
"Há muitos tipos de assistentes técnicos, mas eu penso que a melhor forma de ajudar o treinador é sendo mais calmo do que ele. Ficar na retaguarda e sempre estar ligado em tudo o que está acontecendo. Às vezes via que um jogador não estava entendendo claramente a nossa ideia, então eu me aproximava dele para tentar explicá-la", disse Domènec Torrent ao site The Coaches Voice.
A mudança a Manchester para comandar o City manteve a dupla no caminho das vitórias. Na Inglaterra, Pep Guardiola conquistou duas vezes a Premier League, a última delas atingindo a marca de 100 pontos na tabela, único time a fazê-lo na história da competição.
Torrent trabalhou com Pep durante dez temporadas entre 2007 e 2018. Juntos, levantaram oito taças de ligas nacionais, duas da Champions League, três Mundiais de Clubes e três Supercopas Europeias antes de o auxiliar anunciar ao amigo que assumiria o New York City FC, clube pertencente ao mesmo grupo dono do Manchester City.
A experiência no futebol dos Estados Unidos durou duas temporadas.
Com relação às ideias de jogo, Domènec Torrent gosta do futebol ofensivo tanto quanto Jorge Jesus, mas a concepção de como atacar é diferente da do português.
O catalão é adepto, assim como Guardiola, do jogo de posição. Em linhas gerais, esse conceito se baseia no respeito às posições de cada jogador. Eles (os atletas) são responsáveis por criar, desde a saída na defesa, linhas de passe e superioridade numérica no setor onde está a bola, sem desocupar suas zonas de atuação.
Apenas no último terço do campo, já na fase de definir as jogadas, é que os atletas têm mais liberdade de movimentação e intuição.
Jorge Jesus permite que seus atletas façam mais trocas de posições, com movimentações em direção à bola e criando combinações até chegarem ao gol. Como na final do Estadual do Rio, contra o Fluminense, quando procurou achar os espaços entre as linhas defesa da equipe tricolor com as trocas de passe à frente da área. Assim saiu o gol de Pedro, na partida de ida.
Com Torrent, imagina-se que os jogadores de ataque sejam mais ortodoxos, especialmente os atacantes pelas pontas, que provavelmente terão de esperar pacientemente a bola chegar até eles. A partir daí, com a velocidade e a habilidade de atletas como Bruno Henrique, Vitinho e Gabigol, abre-se o caminho para a intuição na hora da definição.
Em comum, ambos também gostam da ideia de que seus times recuperem a bola o mais perto possível do gol adversário, além da intenção de jogar com a defesa alta, subindo por vezes até o meio de campo. E a vontade, claro, de fazer o Flamengo vencedor.