Deputado Federal Otávio Leite (PSDB) relata projetos que melhoraram a região e sua convivência com as lideranças locais
Por Marcelo Perillier
Jornal da Barra: Quando foi que você entrou para a política?
Otávio Leite: Eu fui criado pelo meu avô, que era ex-senador por Sergipe, em Copacabana. E desde os idos de Grêmio Estudantil já me envolvia com a política. Ainda muito garoto fui coordenador das Regiões Administrativas, quando o prefeito era Marcello Alencar. Fui Secretário de Governo com 30 anos de idade e em 1992 me elejo pela primeira vez para vereador. Em 2002 fui eleito para deputado estadual, 2004 fui vice-prefeito, em 2006 deputado federal , função que exerço até hoje. É uma trajetória de 25 anos de mandatos ininterruptos que venho vivendo ao longo do tempo.
Jornal da Barra: Por que você conseguiu se consolidar tanto tempo na política?
Otávio Leite: A política hoje, lamentavelmente, está pouco convidativa. Mas é preciso deixar claro para todos que a criticam, que não há saída fora dela. O caminho seria aperfeiçoar o sistema para as escolhas serem mais criteriosas, de quem deve ou não deve exercer o mandato. E, com o ingrediente do mundo digital e de uma hiper transparência, fazer com que as pessoas participem mais, acompanhem mais, fiscalizem mais, e aos poucos o país vai amadurecendo. Mas essa catarse toda que a gente está vivendo, em especial no Rio de Janeiro, terá sido apenas um ponto de ruptura na história e que futuro seja melhor na qualidade dos homens e dos resultados. Eu acho que, no fundo, a gente vive tempos intrépidos, mas quem sabe a gente pode usar aquela que depois da tempestade o sol vem a brilhar.
Jornal da Barra: Quando se inicia sua relação com a Barra da Tijuca?
Otávio Leite: Minha experiência como vereador foi a que me fortaleceu, me amalgamou minha relação com a Barra da Tijuca. Eu nunca imaginei que fosse morar na Barra da Tijuca. Mas, ao casar com minha mulher, que tinha um apartamento por aqui, em 1991, fui fazer uma experiência para nunca mais querer outra. Eu tenho uma identidade, eu gosto da Barra da Tijuca. Meus dois filhos nasceram na Barra. O Otávio está fazendo economia da FGV e o Fernando é professor e mestre cervejeiro e está, junto com a mãe e a sogra, coordenando o Centro Educacional Marapendi, quem vem saindo de forma exemplar nos Enem. Ano passando foi número um do Brasil em redação. Então é neste ciclo que se envolve minha atmosfera mais pessoal. A minha mulher é Barra deste o início, estudou no Santo Agostinho.
Jornal da Barra: Quais foram os seus projetos em melhorar a região?
Otávio Leite: Eu já conhecia os movimentos e ao entrar como vereador, em 1992, participei muito na luta pelo emissário. Esse emissário vem de uma luta desde 1985, há 33 anos atrás, quando a Amabarra interpôs, junto ao Ministério Público Federal, uma ação civil pública, para promover o saneamento, porque aqui não tinha. Isso já era para ter sido planejado desde o início, esse projeto de captação de esgoto, e ficaram discutindo durante anos se deveria ser emissário ou lagoa de tratamento. E quando se decidiu pelo emissário, foi em 1999, através de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que ainda está em vigor, assinado pela CEDAE. Porque tem um braço pronto, ainda falta outro braço e outras partes de captações. Fizemos várias comissões pró-emissário na Câmara, na Assembleia. Eu fui ao Tribunal de Contas. Já como deputado estadual, contratei o Instituto de Engenharia, para fazer uma pesquisa sobre até quando esta estrutura do emissário iria continuar, sem ser se corroer. Meu carro-chefe nesses anos de atuação na Barra foi a luta pelo emissário. Eu acho que, neste momento em que se discute a privatização da CEDAE, que deveria retomar essa questão, para que o novo titular assegure o prosseguimento das etapas finais. Outra iniciativa minha, quando caiu o prédio (Palace 2), eu propus uma lei, declarando “persona jurídica non grata” de edificar no Rio de Janeiro a Sersan, que era do Serio Naya. Ele fazia tanta coisa em Brasília que o então deputado distrital, hoje governador, Rodrigo Rollemberg, propôs algo similar. Ele tinha outros empreendimentos e embargou tudo, pois se configurava uma prática de construção extremamente irresponsável, principalmente na utilização de materiais.
Jornal da Barra: Existem outros?
Otávio Leite: A Barra, os mais antigos devem lembrar, já teve um camping na Sernambetiba (atual Lucio Costa), que na época, nos anos 70 foi vendido. Em troca, o Camping do Brasil hoje se denomina Camping Club do Recreio. E para evitar que esse camping viesse a viver o drama que foi o anterior, em virtude da expansão urbana, que eu, como vereador, consegui aprovar a lei que preserva o Camping Club do Recreio e que fixa aquela região como uma área exclusiva para camping, protegendo todo complexo arbóreo que ali se instala. No ano de 1999 a Banda da Barra inovou numa apresentação no calçadão, com uma réplica do Bondinho de Santa Teresa. Fez tanto sucesso e eu achei harmônico com a estética do mar, que propus uma lei para que o espaço onde hoje está localizado o Bondinho o Espaço Cultural Banda da Barra. É a única excepcionalidade da Rio Orla para ter um objeto, uma estrutura diferenciada dos quiosques. Eu trabalhei muito, junto com a Câmara Comunitária, com a rota dos helicópteros offshore. Porque eles estavam passando muito baixo, em cima dos condomínios, criando muito barulho pela manhã. E depois de várias reuniões conseguimos que se instituísse uma rota alternativa, que passa pelo quebra-mar, depois pelas Lagoas, faz uma curva e pousa no Aeroporto de Jacarepaguá.
Jornal da Barra: Como é o seu contato com as associações aqui da Barra?
Otávio Leite: É permanente. Seja direta ou indiretamente, por meio da presença de assessoria minha. Eu estou numa luta muito grande, falando na questão de segurança, que está sendo executada a ferro e fogo, com muita aporrinhação, uma sequência de câmeras de vídeo-monitoramento no Recreio dos Bandeirantes. Eu já coloquei ano passado mais de 1 milhão de reais em emendas para que este vídeo-monitoramento seja estendido para a Barra da Tijuca. Essas emendas não conseguiram ser executadas por conta de burocracias. Neste ano coloquei mais 500 mil. Eu acho muito fértil a iniciativa dos condomínios associados a ACBS, que tem como resultado uma interessante contribuição para o acompanhamento do dia a dia por esse instrumento que hoje é visto em todo canto do mundo. Então, tenho trabalhado muito nesta questão.
Jornal da Barra: Como você visualiza o desenvolvimento da região da Barra da Tijuca?
Otávio Leite: A Barra é um bairro síntese do Rio de Janeiro. Ela é um produto de migração de pessoas das Zonas Sul, Norte e Oeste. E tende a ser o bairro mais carioca de todos no futuro, pela miscigenação que aqui tem. Mas, como qualquer outro, aqui tem os seus problemas. É preciso tomar cuidado para que não se promova um adensamento incompatível, porque a infraestrutura urbana, principalmente saneamento, ainda não está concluída. É obvio que é necessário crescer, mas, no entanto, precisa ter responsabilidade. Preocupo-me muito com a deterioração do BRT, que tem caído em qualidade. As pistas com quantidade gigantesca de buracos. O BRT tem significado um eixo modal importante, porque são artérias que permitem um deslocamento mais em conta e menos tempo se gasta. Eu não vejo horizonte de capital público para expandir o metrô até o Recreio. Nem tão pouco me parece que o capital privado possa viabilizar um investimento desse tamanho só com a renda da passagem. Mas é coisa de futuro, quem sabe mais adiante. Neste instante não é uma prioridade.
Jornal da Barra: E relação ao IPTU, você tem alguma posição, já que a Barra sofreu bastante com esse aumento?
Otávio Leite: É evidente que nesta etapa, neste ambiente de crise, qualquer aumento tributário é algo injusto. Há um dispositivo na lei eleitoral, de autoria minha, que obriga todos os candidatos a prefeito e governador, no instante em que registram as suas candidaturas, apresentar seus planos de governo. E a ofensa àquela proposta passa a ser matéria prima para questionar o vencedor, que na verdade praticou um estelionato eleitoral, porque ele disse que não iria fazer aquilo, e fez.
Jornal da Barra: E o que você pode dizer sobre o trabalho do 31º BPM e das nossas delegacias (16ª e 42ª DP)?
Otávio Leite: A Barra tem índices melhores que outras áreas do Rio de Janeiro. Nós podemos permitir que esses índices venham a crescer. É preciso fazer com que eles caiam. No entanto, me chama atenção o aumento de assaltos e roubos com grave ameaça ou armas na Avenida das Américas. Esse sistema de monitoramento pode ajudar muito nisso.
Jornal da Barra: Qual a sua opinião sobre a Intervenção Federal?
Otávio Leite: Eu fui a favor, trabalhei pela intervenção. Compreendo que não há milagres, mas tenho muita esperança de que uma estrutura de fora , quando se estabelece comandando as forças policiais do Rio de Janeiro, associada com a implantação de uma corregedoria forte, permitirá uma chacoalhada geral na PM e na polícia civil e que, como consequência, teremos um aparato de segurança muito mais confiável, mais treinado, mais eficaz. Eu acho que a questão passa por uma reestruturação, reorganização de um sistema que hoje está quase que caótico.
Jornal da Barra: Problemas como os que aconteceram com a vereadora Marielle Franco podem ser que não venham a acontecer mais?
Otávio Leite: A contaminação das forças policiais precisa ser combatida rigorosamente. O Rio tem um ingrediente especial que, ao lado de organizações criminosas que trabalham com o tráfico tem as milícias, que se gladiavam entre si. E sabemos que em algumas áreas do Rio elas estão atuando como aliadas, que agrava a situação. E tenho certeza que o mando da intervenção vai fazer esse mapeamento, por isso minha esperança de que essa chacoalhada sirva para separar o joio do trigo. Sobre a vereadora, eu compreendo como um profundo pesar, um ato emocionalmente muito duro com a sociedade do Rio passa com esse assassinato. Mas é preciso aguardar as investigações, para que se apure quem cometeu, se alguém determinou e porquê razão e que isso, em consequência, também produza uma prisão e condenação rigorosa de todos que se envolveram nesse crime hediondo.
Jornal da Barra: O que você pode dizer para uma pessoa que acha que intervenção federal é a mesma coisa que militar?
Otávio Leite: Isso é um raciocínio dinossáurico. Se há uma instituição no país que tem o absoluto compromisso com estado democrático de direito são as forças armadas (exército, marinha e aeronáutica). Queria lembrar que, quem advoga essa tese, que os fundamentos para a intervenção estão todos previstos na constituição. Então, não há qualquer possibilidade de ofensas ao estado de direito brasileiro. São visões pré-históricas de quem quer fazer um burburinho político, diante de uma medida que é totalmente prevista na constituição, e foi referendada no Congresso Nacional.
Jornal da Barra: Como você avalia o projeto da Arena Carnaval, que inicialmente ira acontecer em fevereiro e agora está prevista para julho?
Otávio Leite: Eu acho que vale a tentativa de fazer um evento carnavalesco forte no meio do ano. A cidade tem como característica essa capacidade, essa vocação para eventos de entretenimento. Finalmente o turismo está começando a ser enxergado como uma atividade com valores econômicos e sociais importantíssimos. Eu trabalhei muito para o país conceder o visto americano pelo meio eletrônico. Eu acho que isso pode ampliar o número de 600 mil americanos vindo para o Brasil, ao passo que mais de 1,5 milhões de brasileiros vão para os Estados Unidos. E isso se conecta diretamente com a Barra porque aqui tem um número grande de hotéis.
Jornal da Barra: Qual a sua opinião sobre essa nova gestão no Jornal da Barra?
Otávio Leite: Eu acho que hoje se caracteriza por muita qualidade, conteúdo, talvez seja o melhor jornal alternativo, hoje, do Rio de Janeiro. Informa e cada vez mais faz parte do cotidiano das pessoas da Barra. O nosso desafio é fazer com que as novas gerações entendam que um tabloide seja físico, online, seja lido porque conecta a pessoa com o seu habitat, seu ambiente.