Até Getúlio teria vindo namorar na Barra. A parada no Bar do Oswaldo servia para deixar mais afoitas as namoradas mais tímidas. O efeito mágico das batidas garante muitas histórias até hoje.
A Barra da Tijuca é o verdadeiro recanto do amor no Rio de Janeiro. Seja para os que estão em busca de dias e noites de diversão e prazer, como para os que planejam encontros românticos com os amados. Fato é que o crescente e constante processo de urbanização da região não se limita aos tradicionais condomínios, restaurantes e as mais recentes inovações nos transportes públicos e privados.
E se engana quem pensa que o mapa do fetiche e da sexualidade é algo recente. Muito pelo contrário. Na verdade, para que a Barra se tornasse protagonista na cidade quando se fala em opções de lazer, certo estabelecimento foi fundamental: trata-se do Bar do Oswaldo. A casa, localizada na Estrada do Joá, número 3896, é uma das mais antigas do bairro e carrega no currículo uma trajetória rica em histórias que são passadas de pai para filho, de avô para neto.
Afinal, o Bar do Oswaldo foi fundado no ano de 1946, por Oswaldo Cardozo. A proposta inicial do estabelecimento era servir refeições em uma região ainda pouco desenvolvida. Entretanto, o proprietário que dá o nome ao bar, decidiu ir mais longe e criar uma batida misturando coco com cachaça. O que ele não esperava é que o ‘Coquinho do Oswaldo’, como era conhecido o drink, seria conhecido até os dias atuais. Mais do que isso, juntamente com o bar, a batida é o fruto do início de muitos relacionamentos que perduram até hoje.
“Eu acompanho pais que trazem os filhos e que foram trazidos pelos avós. São quatro gerações aqui, comemorando. O vovozinho chega de bengala e diz que vinha aqui.” O relato é de Rommel Cardozo, filho de Oswaldo, que, ao lado de sua irmã Abigail, é o atual proprietário do Bar. Ele cresceu junto com o estabelecimento e pode presenciar de perto como a região do Largo da Barra, também conhecida como “Barrinha”, se desenvolveu ao redor do famoso “point”.
O local, além do Bar do Oswaldo, era um verdadeiro paraíso para casais. Isso explica porque a Estrada da Barra da Tijuca é chamada popularmente de “Rua dos Motéis”. O roteiro era tradicional: os casais iniciavam suas noites com as batidas vendidas no bar e depois continuavam a diversão em outros lugares. Alguns em motéis e outros em lugares mais desertos do bairro. “Eles (clientes) queriam lugares desertos, né? e na Barra era cheio de locais desertos. Tem a praia de Joatinga, para aonde metade da população do Rio de Janeiro ia ficar namorando depois de comprar uma garrafa de batida no Bar do Oswaldo. A outra parte, que tinha dinheiro, ia para os motéis. Um garoto de 20, 22 anos ainda não tinha renda para ficar gastando no motel. Então, ele levava para a praia e ficava namorando lá”.
Hippie nos anos 70 e hoje uma avó moderna e tatuada, Margarida R., que prefere proteger o sobrenome para não ruborizar as netas, fala do efeito mágico das batidas do Oswaldo. “Quem tava afim de algo memorável fazia o stop obrigatório no Bar... Alguns cafajestes (no bom sentindo) batizavam o efeito mágico da batida como ‘Abre as pernas’...” Sem esconder o sorriso maroto Margarida relembra “até as minhas colegas mais carolas viravam outra pessoa depois da terceira dose. Dali para um motel era um pulo.” Ela lembra que a batida tinha efeito mágicos também com os rapazes. “A de amendoim tem a fama de levantar até elefante. Tive um namorado que tinha desempenho memoráveis depois de uma garrafa da afrodisíaca bebida.”
A procura dos casais pela batida do Bar do Oswaldo é uma lembrança marcante na infância de Rommel, entretanto, as filas nas portas dos motéis abastecidas com os clientes de seu pai não são as únicas memórias do atual proprietário. Um personagem marcou a noite de diversos casais, ainda na década de 70. “Um cara que era chamado de ‘Bolinha’, baixinho, gordinho e careca, colocava biquíni e orelhas de coelho e ficava em frente ao hotel convidando os casais para entrarem. O cara ficou famoso. A gente era criança e ia para as portas dos motéis esperando os casais saírem e pedir para eles jogarem bombom, e tinha casais que jogavam para a gente”.
Não só personagens anônimos como o ‘Bolinha’ marcaram a história da região. O Bar do Oswaldo também é conhecido pela presença de diversas celebridades, como alguns artistas, como Mussum e Chacrinha, ex-BBB’s, e jogadores de futebol, como Romário, Edmundo e Garrincha. Outro ilustre frequentador foi Getúlio Vargas, que também já tinha sido patrão do fundador do Bar, tempos antes de sua inauguração.
O nome do ex-presidente do Brasil é citado em diversas histórias que são contadas e recontadas pelos frequentadores do Bar do Oswaldo até hoje. Segundo conta o folclore popular, Getúlio Vargas também era um apreciador da famosa batida vendida na casa, e após o drink continuava a noite em um quarto em cima do estabelecimento, que na época também prestava serviço como motel.