Candidato a Governo do Rio tem polêmicas divulgadas pela grande mídia
Por Cláudio Magnavita*
A maior vítima da candidatura de Wilson Witzel pode ser o Poder Judiciário. Ao deixar a magistratura e assumir o papel de candidato, o ex-juiz acabou contaminado, com os seus problemas pessoais, a própria instituição que serviu por quase duas décadas e que tem prestado um enorme serviço à história moderna do país.
Ao trocar a toga e aparecer com o seu novo personagem, o de candidato a uma eleição majoritária, ele aceitou ser amarrado ao pelourinho do julgamento da opinião pública e de ter a sua vida investigada de fio a pavio.
Mesmo protegido pelo anonimato dos baixos índices de pesquisa, ele teve, já no início da sua maratona eleitoral, o seu primeiro tropeço. O TRE-RJ o proibiu de se apresentar como Juiz Witzel na pré-campanha e aplicou uma multa de R$ 10 mil por propaganda antecipada. Na denúncia, que foi encapada pelo pleno, a procuradora eleitoral Adriana de Farias Pereira afirmou: “No caso dos autos, vê-se que os oras representados com fins eleitoreiros, vêm se valendo do cargo de magistrado anteriormente pelo primeiro, utilizando-se de imagem em julgamentos e da denominação Juiz Wilson com a finalidade de obter confiança dos cidadãos e desequilibrar o pleito...”.
Condenado regionalmente, o processo subiu em setembro para o TSE, entrando na fase de recurso. Foi o próprio judiciário reagindo contra o uso do legado da instituição na esfera política. Surfar no desempenho dos aplaudidos juízes Sérgio Moro e Marcelo Bretas é contaminar a isenção do trabalho da justiça federal e trazer um manto de suspeição que tem sido levantado pelos polêmicos advogados do Lula e do PT, principalmente contra a Vara de Curitiba. Imagina o próprio Sérgio Moro deixasse a magistratura para se candidatar a presidente, não seria eleito no primeiro turno e aclamado pelo povo brasileiro como herói nacional? Bolsonaro resistiria a um embate nas urnas com o Moro? É neste patrimônio político que Witzel tenta surfar. Mas o que está ocorrendo apenas no Rio pode ganhar dimensão nacional, quando os opositores de Moro colocarem a lupa sobre a vida do candidato do PSC.
No debate na sede de O GLOBO, questionado pelo seu opositor, Witzel afirmou: “Não se preocupe com os meus problemas porque eles estão sendo resolvidos...”. Quem imaginaria um ex-juiz federal colecionar tantos problemas pessoais, como a imprensa vem listando. A figura do juiz tem sido mitificada no imaginário popular como paladino da justiça. Como imaginar que um magistrado pudesse ser processado por uma idosa de 86 anos, sua ex-sogra, e com a doença de Alzheimer, ser condenado, ter a dívida de R$ 80 mil em fase de execução e não pagar. É no mínimo desafiar a justiça.
Como imaginar que um magistrado, titular de Vara de Execuções Fazendária, tivesse processo de execução fiscal pelo não pagamento de imposto de renda?
Como imaginar que um juiz, que recebe ajuda moradia, não pague IPTU do seu imóvel residencial no Grajaú, que tenha sido dívida ativa e ter o lar ameaçado de ir a leilão. O paradoxo é que o calote ocorreu exatamente na gestão do Eduardo Paes, que hoje é seu ferrenho opositor nas urnas.
Como imaginar que um juiz desafia o seu corregedor, se ausenta do país sem autorização, é alvo de uma ação que subiu até o Conselho Nacional de Justiça e somente poucos dias antes das eleições foi arquivada por 3 a 3, com uma abstenção por impedimento. Para três integrantes do CNJ houve dolo. A candidatura ficou por um fio, pois se o processo seguisse em frente, ele estaria inelegível.
O pior é o vazamento das entranhas da política associativa na Justiça Federal, instituição na qual Witzel dedicou com muito afinco. Foi diretor presidente da Associação no Rio, no Espirito Santo, além de ter sido Diretor de Esportes da Nacional. A mosca política já mexia com ele há algum tempo. Promoveu um evento junto com a CBF, na Granja Comary, que teve como interlocutor o Ricardo Teixeira, réu de diversos processos na justiça. Colocar juízes federais em um evento patrocinado por Teixeira é desdenhar a velha máxima: “A mulher de Cesar não basta ser honesta, mas tem que parecer honesta!” Este foi um evento da Diretoria de Esportes e organizado pelo próprio Witzel, citado em diversas matérias de repúdio, e que falavam até de processo no CNJ. A este evento ele compareceu.
O que mais tem arranhado a imagem do Judiciário é o vazamento do vídeo no qual ele revela a engenharia que usou para incorporar R$ 4 mil reais aos seus vencimentos, e ensina a juízes do trabalho a forma de fazer isso. Estas entranhas reveladas de forma nua e crua assusta o leigo por imaginar da figura togada uma postura quase sacra.
Em 13 de março de 2018 o registro de Witzel foi reativado pela OAB-RJ, apenas 10 dias após a sua exoneração. Contratado pelo PSC como advogado, com carteira assinada, Witzel passou a ter conhecimento dos problemas que assolam o controverso presidente do partido, o polêmico pastor Everaldo Pereira. Seria uma relação normal entre cliente e advogado. No dia 18 de março ele assina a defesa do seu líder/patrão no processo 0600280-83.2018.6.00.000, que pede o afastamento do Pastor Everaldo do comando do Partido, por estar investigado na Lava Jato. Como é a legenda a qual se filiou no mesmo dia que foi exonerado da magistratura - e a que lançou candidato, ele não pode se dizer distante dos problemas de Pereira, do qual virou defensor legal nos processos. Aliás, mesmo com a candidatura, em curso ele não peticionou a renúncia dos processos e continua como advogado do Everaldo.
No caso do Marcelo Bretas, a situação de proximidade geral é mais delicada. Na propaganda gratuita, Witzel, que adora as entrelinhas nas suas declarações, como aquela na qual revela que a esposa é a advogada de um ex-colega que tenta reaver na justiça suas contribuições previdenciárias, ele associa seu exercício como juiz federal ao trabalho do Moro e ao Bretas. Porém, a sua única participação na Lava Jato é de ser o advogado da sua cúpula partidária denunciada a Curitiba.
Ele foi um dos oradores da entrega da Medalha Pedro Ernesto ao Marcelo Bretas na Câmara dos Vereadores, proposta por um vereador do próprio PSC. A coincidência do julgamento de um secretário de Paes, no meio do segundo turno, e o uso da imagem do vídeo do depoimento do réu, na qual o enquadramento mostra o próprio Bretas, permite aos opositores todas as ilações possíveis. Mais uma vez, a ambição política eleitoral de um ex-integrante do judiciário contamina, por tabela, o trabalho sério que a Justiça Federal vem desenvolvendo de forma corajosa e isenta.
A candidatura de Wilson Witzel está trazendo para a imagem da Justiça Federal o seu passivo de problemas pessoais, que aparentemente seriam corriqueiros nas dificuldades financeiras que qualquer pessoa enfrenta, mas que se tornam grave pela alta remuneração pessoal que ele recebia, pelo cargo que ocupava. Além de usar como combustível eleitoral o personagem de paladino da moralidade.
*Claudio Magnavita é editor do Jornal da Barra e ex-reporter especial do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil