Ressaca eleitoral em dose dupla

A decisão do Deputado Otávio Leite de apoiar publicamente a candidatura de Wilson Witzel foi individual e surpreendente. Ela não traduz o pensamento de grande parte dos seus eleitores, que no último dia 07/10 depositaram 50.374 votos na urna. Eu fui um deles. Votei em Otávio porque me identificava com a maioria das suas bandeiras, principalmente a do turismo e do deficiente físico; além de ser morador da nossa região e ter um grande trabalho na Barra. Me sentia representado.

Otavio não foi eleito por apenas 159 votos. Todos nós choramos e lamentamos juntos.

A sua súbita virada em direção ao Witzel nos pegou de surpresa, tornando-se mais grave pelo seu engajamento visceral a campanha do candidato da coligação PSC-PROS, pelo fato dela ser tudo aquilo que sempre condenou na sua trajetória como vereador, deputado estadual e deputado federal e até vice-prefeito.

Leite, filiado ao PSDB, defendeu no primeiro turno a candidatura de Geraldo Alckmin, e a sua legenda coligou com o DEM na candidatura de Eduardo Paes.

Como imaginar que o nosso deputado está agora sob o mesmo guarda-chuva de uma coligação que tem o polêmico Pastor Everaldo Pereira, presidente nacional do PSC (patrão do Witzel), envolvido na Lava Jato e o PROS, com seu presidente Eurípedes de Macedo Júnior, até terça foragido da Justiça e na lista de procurados internacionais da Interpol? No caso do PROS, regionalmente podemos conecta-lo a família Garotinho, já que é o partido da Clarissa, reeleita deputada federal.

O vídeo em que Otavio Leite, visivelmente abatido e tendo como papagaio de Pirata o candidato do PSC, declara o seu apoio foi um soco no estômago do seu eleitor. Estava ali, o deputado em que votei, que julgava me representar, ao lado de um ex-juiz que no exercício do mandato de dirigente de classe promoveu torneio na Granja Comary patrocinado por Ricardo Teixeira; que deixou a magistratura e virou advogado do Pastor Everaldo no processo que pede o seu afastamento no TSE, por ser investigado da Lava Jato; que teve o nome inscrito na dívida ativa do município; que foi processado pela sogra; e que representa uma legenda que foi denunciada pelo Bolsonaro em vídeo, quando descobriu as travessuras do Pastor/dirigente partidário Everaldo.

Este é um momento infeliz da carreira do Otavio. Pode ser atribuída a ressaca eleitoral, a um sentimento de vingança por achar que a campanha de Paes fez corpo mole na campanha do Geraldo, e por tentar se sintonizar com um sentimento de mudança. Enfim, na política, não falta argumentos. Sabe Otávio, neste mês de outubro você me fez chorar duas vezes. Quando lamentei profundamente a falta de 159 votos para reconduzir você a Câmara dos deputados, sabendo que o meu setor, o turismo, fez corpo na militância política (um vício histórico desta área) e agora ao assistir constrangido o seu vídeo ao lado deste candidato neófito da vida pública e inexperiente na gestão pública, para pilotar um estado com os enormes problemas, como o Rio. Como seu eleitor, o meu sentimento foi de ressaca eleitoral em dose dupla.

Atenciosamente

Claudio Magnavita