por Guilherme Cosenza


O medo da demolição também chega ao Rio das Pedras. A comunidade que existe há 54 anos e está localizada entre a região da Barra da Tijuca e o bairro do Anil, hoje se vê refém de uma possível destruição em massa de seu território o que pode acabar desabrigando os mais de 80 mil moradores da região.

A preocupação com as demolições começou a partir da decisão de Marcelo Crivella que, após assumir a prefeitura da cidade, vislumbrou fazer um projeto de verticalização do Rio das Pedras, o que incluía a criação de prédios de até 12 andares, chegando a um total de até 35 mil apartamentos que poderiam ser adquiridos a partir do consórcio “Minha Casa, Minha Vida”. Porém, a ideia não agradou a comunidade, pois eles teriam que comprar os apartamentos para continuar vivendo na região. Com isso, um grupo de moradores conseguiu barrar a ideia do prefeito, após uma manifestação realizada no dia 25/08, onde ocupando a Avenida Engenheiro Souza Filho, em Jacarepaguá, os manifestantes mostraram seu repúdio à iniciativa.

A manifestação surtiu efeito e o prefeito então cancelou a ideia de verticalização de Rio das Pedras. Contudo, pouco tempo depois o prefeito novamente voltou a ter ideias para região, querendo criar uma estação de BRT passando bem no meio da comunidade: “o Rio das Pedras não precisa de um BRT passando aqui dentro, se ele for criado, muitas casas serão destruídas por conta do alargamento das pistas. Serão necessárias que se abra quatro ruas para criar um BRT, com isso, muitas casas terão que ser retiradas dali”, explicou a moradora Lorena Carvalho que ainda salientou a negatividade da gestão do prefeito: “desde que o Prefeito assumiu, nós estamos vivendo esse terror”.

Lorena se juntou com diversos moradores e vem lutando diariamente contra a nova medida: “temos pessoas enfartando e morrendo por conta dessa situação, temos idosos aqui que moram desde que a comunidade começou. Hoje vivemos esse pesadelo dia a dia, mas Rio das Pedras vai lutar até o fim por isso”. A moradora ainda conta que o grupo tenta de todas as maneiras falar com as autoridades responsáveis pelo caso, mas nunca conseguiram lograr êxito: “queremos conversar com os políticos, mas eles nunca escutam a gente e não dão uma resposta sobre o nosso problema. Eles não sabem o que passamos para poder ter nossas casas e agora quererem vir e destruir os sonhos das pessoas”.

O medo da comunidade também é por conta do impacto que as obras poderão ter nas demais edificações locais: “as casas ficariam condenadas, pois uma obra de grande impacto como essa de um BRT aqui na região, coloca em perigo todos os prédios e casas de Rio das Pedras que podem acabar não aguentando a obra e se tornando moradias condenadas, obrigando as pessoas a saírem. Isso tudo é uma grande covardia”. Lorena ainda afirma que o motivo das obras é na realidade uma maneira de Crivella conseguir mais espaço para o mercado imobiliário local: “por não terem mais espaço pra fazer obras perto da Barra da Tijuca, querem atingir as comunidades próximas para ganhar esse espaço e apagar as comunidades da região de vez”.

A Prefeitura, no entanto, não colocou aos moradores o que será feito deles, caso as obras sejam executadas e seja necessária a saída dos atuais residentes de Rio das Pedras. Outra atitude negativa que a Prefeitura acaba de fazer na tentativa de dificultar a vida da comunidade foi a retirada dos “Guardiões do Rio”, que tem como função limpar os lixos e dejetos jogados nos rios próximos a comunidade: “eles tiraram os guardiões, a Comlurb ainda passa, mas os guardiões eles tiraram, por conta disso, nós os moradores nos reunimos e estamos de maneira comunitária fazendo essa limpeza”.