Médico esclarece por que alguns pacientes desenvolvem obstrução dos vasos sanguíneos em diferentes locais do corpo.
A epidemia evidenciou a relação entre a doença e os problemas circulatórios. Estudos da Covid-19 indicam que a infecção atinge também o sistema cardiovascular e pode causar graves complicações, como trombose, por exemplo.
Indivíduos infectados pelo novo coronavírus podem apresentar distúrbios de coagulação, aumentando o risco de trombose. Apesar de ser uma doença com amplo espectro clínico, podendo se apresentar desde uma forma assintomática ou como uma síndrome gripal leve relacionada a sintomas como febre, tosse seca, cansaço e dor no corpo, ou até podendo evoluir para pneumonite grave e síndrome respiratória aguda grave.
A trombose se refere à formação de um coágulo que, em algum lugar do sistema circulatório, leva à obstrução do vaso sanguíneo. Ela ocorre em função de alterações na capacidade do sangue se coagular. Outro fator que pode ocasionar a coagulação é quando ela se desenvolve por conta do vírus da COVID-19 já existente no paciente, por promover anormalidades na coagulação.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro (SBACV-RJ), Dr. João Sahagoff, a trombose venosa profunda pode causar a embolia pulmonar (o coágulo localizado nas veias das pernas pode migrar para as artérias pulmonares e acarretar seu entupimento), o que pode causar poucos sintomas caso o trombo não seja muito grande, ou causar hipertensão pulmonar (quando a pressão arterial nos pulmões e no lado direito do coração é mais elevada que o normal) quando o coágulo for maior ou até matar a pessoa devido a obstrução da circulação pulmonar por coágulos grandes e extensos (óbito ocorre em aproximadamente 30% dos indivíduos com embolia pulmonar).A trombose venosa aguda se não tratada pode levar a um prolongamento do coágulo na perna ou até acontecer um novo episódio (retrombose). Isto pode causar algumas sequelas nas pernas, como a síndrome pós-trombótica (pode haver um comprometimento da função das veias que pode favorecer a perna acometida a ficar mais inchada, pesada, com a pele mais endurecida e escura e, em casos mais graves, desenvolver úlceras de estase, que são aquelas feridas de difícil cicatrização na perna).
Segundo o médico, em pacientes internados, até pela questão da imobilidade, se faz necessária a anticoagulação profilática com uma medicação injetável no subcutâneo, a heparina de baixo peso molecular, para combater os eventos trombóticos.
Como é uma doença ainda muito nova os dados ainda estão sendo observados, reunidos e analisados, todavia, acredita-se que algumas pessoas podem se beneficiar da anticoagulação profilática estendida (mantida por até 45 dias após a alta hospitalar) ou naqueles pacientes que, mesmo em casa, dosam o d, dímero e ele se encontra bastante elevado. Há que se ponderar individualmente os riscos trombótico e hemorrágico, uma vez que o tratamento tem que ser indicado e conduzido por um médico, pois o uso de anticoagulante tem suas complicações que podem ser graves. Pacientes com baixo risco hemorrágico e alto risco trombótico (ex.: portadores de doenças neoplásicas, aqueles que tenham uma mobilidade reduzida ou sejam acamados, ou nos que a dosagem do D-dímero seja maior que 1000) podem ser candidatos à anticoagulação estendida.
O papel da tromboprofilaxia para pacientes com Covid-19 leve, porém com múltiplas comorbidades, ou ainda para indivíduos sem Covid-19 porém menos ativos devido à quarentena, ainda é incerto. Recomenda-se orientar a população a tentar manter-se ativa, o máximo possível, em casa. Portanto, é importante fazer algum tipo de exercício ou caminhada regular mesmo em casa, beber bastante água (principalmente agora no calor) e ingerir alimentos leves com moderação para evitar ganho de peso, ou seja, ter hábitos saudáveis.
Sahagoff acrescenta que a trombose relacionada ao COVID está ocorrendo em ambas as faixas etárias. “Infelizmente, temos observado pessoas jovens e hígidas serem acometidas de tromboembolismo venoso e pulmonar, contudo pacientes com câncer, pessoas com mobilidade reduzida, pessoas com trombofilias (doença hereditária que se descobre em pessoas com história prévia ou familiar de trombose), pessoas com doenças cardiovasculares e doenças pulmonares, pacientes acamados são os grupos de maior risco. Como dificuldade de locomoção, o câncer e as doenças cardiovasculares e pulmonares ocorrem mais em idosos, a incidência obviamente é maior neste grupo”. Finaliza o especialista.