O Brasil diz não ao negacionismo
Aline Mazzo (Folhapress)
No momento em que o país soma mais de 430 mil mortes pela Covid-19 e só 12% da população adulta está completamente imunizada contra o coronavírus, nove em cada dez brasileiros com 18 anos ou mais (91%) pretendem se vacinar ou já se vacinaram, aponta pesquisa Datafolha. Outros 8% não pretendem se vacinar nem tomaram a vacina e uma fração de 1% preferiu não opinar.
Os números confirmam a tendência de crescimento da adesão à imunização. Na pesquisa de dezembro de 2020, os pró-vacina somavam 73%. Em janeiro, logo após as primeiras doses serem aplicadas, esse percentual subiu para 81%. Dois meses depois, no pico da segunda onda de Covid-19, chegou a 89%.
Para esse levantamento, o Datafolha entrevistou presencialmente 2.071 brasileiros com 16 anos ou mais, em todas as regiões, entre 11 e 12 de março. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
Entre os que são favoráveis à vacinação contra Covid-19, 25% afirmam já ter tomado a primeira ou segunda dose. O índice representa um salto em relação à pesquisa de março, quando os vacinados compunham uma parcela de 5% dos ouvidos pelo Datafolha.
A alta é impulsionada por quem tem 60 anos ou mais, grupo priorizado no Plano Nacional de Imunizações. Nessa faixa etária, 92% já receberam ao menos uma das doses. Já dois em cada três (66%) dos entrevistados ainda não puderam ser imunizados, mas declaram que pretendem se vacinar. Na fatia formada pelos entrevistados com idade entre 45 e 59 anos, que devem ser vacinados assim que acabarem os grupos prioritários, esse índice chega a 85%.
A parcela dos que recusam os imunizantes é minoritária em todos os segmentos. No entanto, alcança índices mais altos entre os que sempre confiam nas declarações de Jair Bolsonaro (14%) e entre os que dizem não fazer isolamento social (21%).
O comportamento do mandatário no enfrentamento à Covid-19 é amplamente criticado por especialistas brasileiros e estrangeiros. Em dezembro de 2020, ele chegou a dizer que não tomaria a vacina. Meses depois, afirmou que quer ser o último brasileiro a se vacinar. Além disso, sempre fez questão de dizer que ninguém seria obrigado a se vacinar em seu governo. O Datafolha também questionou se as pessoas tomariam vacinas desenvolvidas nos EUA, na Inglaterra, na Rússia e na China, desde que aprovadas no Brasil. A maioria afirmou que tomaria, mas houve uma predileção pelo imunizante americano.
No geral, a adesão às doses, levada em conta a sua procedência, cresce à medida que aumenta a escolaridade e a renda mensal familiar. São três as vacinas disponíveis no Brasil: Coronavac (parceria entre o laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan), Oxford/AstraZeneca (desenvolvida na Inglaterra e produzida no Brasil pela Fiocruz) e Pfizer/BioNTech (desenvolvida pelo laboratório americano). A russa Sputinik V teve a importação barrada pela Anvisa em abril, por apresentar inconsistências técnicas no seu desenvolvimento.
Com a maior aceitação, a vacina desenvolvida nos EUA é aprovada por 82% dos entrevistados. Já 75% disseram que se vacinariam com o imunizante inglês. O grupo que tomaria a vacina russa soma 69% dos entrevistados, e a parcela que declarou interesse em tomar a vacina chinesa foi a que mais cresceu no período, saindo de 47% em dezembro de 2020 para 61% agora.