Em ação injustificada, Ministério da Saúde não enviou vacinas o suficiente para o epicentro da variante Delta no Brasil
Júlia Barbon (Folhapress)
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), decidiu paralisar por mais um dia a imunização contra a Covid-19, alegando que não recebeu vacinas suficientes do Ministério da Saúde, e pediu doses ao governador paulista João Doria (PSDB).
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, cerca de 38 mil unidades chegaram à central de distribuição da cidade na manhã desta quarta-feira (11) e foram distribuídas aos postos, mas a quantidade não cobre o grupo de 24 anos, que é o próximo na fila, estimado em 68 mil pessoas.
A campanha já havia sido suspensa nesta quarta porque estava previsto que o carregamento não chegaria a tempo, mas a ideia era retomá-la nesta quinta (12). Agora, Paes, que vem tornando públicas as cobranças há uma semana, anunciou mais um dia de interrupção.
Neste momento, só podem tomar a primeira dose os adultos acima de 50 anos, pessoas com deficiência, gestantes e puérperas, mas a segunda dose está mantida normalmente. Isso pode atrasar o calendário, que calculava vacinar todos acima de 18 anos até 18 de agosto.
Nas redes sociais, Paes repetiu os números informados pela secretaria e afirmou: "Não vamos usar nosso estoque de 2ª dose. Com isso, suspenderemos a vacinação da primeira dose de amanhã. Só lembrando: Rio com mts casos de delta e estoque do ministério é de 11,2 mi de doses".
Em seguida, citou Doria: "@jdoriajr, não tem como mandar doses direto da coronavac para cá não? Sem intermediários, como vc está fazendo com a Prefeitura de São Paulo?". O governador então respondeu que a capital paulista também está recebendo as doses pelo PNI (Programa Nacional de Imunização).
"Incompetência do Gov. Federal! 11.2 milhões de vacinas estocadas e ñ distribuem. Prefeitura de SP segue padrão de td país: Estado recebe doses do PNI e distribui p/ municípios. Aqui compramos doses extras e ainda assim falta, pq ñ recebemos doses prometidas pelo Min. Saúde", escreveu ele.
Ao criticar o governo federal, a prefeitura do Rio alegou nesta quarta que havia em estoque 5,8 milhões de doses da Pfizer, 3,4 milhões da Coronavac e 1,1 milhão da AstraZeneca, pedindo que as vacinas sejam distribuídas em no máximo 24 horas após a entrega pelos produtores.
"Também consideramos fundamental que o ministério apresente um calendário de distribuição, visto que a Pfizer, a Fiocruz e o Butantã entregam as vacinas nas datas previstas em contrato. Em pleno inverno e com uma nova variante circulando, é imprescindível que todos tenham senso de urgência com a campanha", diz a nota.
No domingo (8), o ministro Marcelo Queiroga comentou sobre as reclamações. "Existem alguns municípios que só aplicam 70% das doses distribuídas, e existem outros, como o Rio de Janeiro e São Paulo, que já aplicaram mais de 90% das doses distribuídas", disse. "Eventualmente, quando a velocidade de vacinação no município é grande, pode ser que um dia falte dose".
Ele afirmou ainda que "as doses chegam ao centro de logística, precisam ser liberadas pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], passar pelo INCQS [Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde], e isso é feito de maneira muito dedicada pelos colaboradores do Ministério da Saúde. Estamos procurando agilizar".
Segundo o último boletim divulgado pela Secretaria Estadual da Saúde, a variante delta já é responsável por 45% das amostras analisadas na capital fluminense e 26% no estado. A alta taxa de transmissibilidade fez com que o governo suspendesse as aulas presenciais da rede estadual em 36 municípios pelo menos até sexta (13).