Nove meses após a realização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o usuário do BRT (Bus Rapid Transport) têm motivos para comemorar e lamentar. Problemas não vistos durante a competição fazem parte da rotina das pessoas que necessitam usar o transporte.
Por Ive Ribeiro e Marcelo Perillier
Nove meses após a realização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o usuário do BRT (Bus Rapid Transport) têm motivos para comemorar e lamentar. Problemas não vistos durante a competição fazem parte da rotina das pessoas que necessitam usar o transporte. Por outro lado, as obras de infraestrutura modificaram a paisagem da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes, dando mais opções aos passageiros.
Idealizado pelo antigo prefeito, Eduardo Paes, o primeiro BRT foi o Transoeste, inaugurado em 2012, ligando o Terminal Alvorada ao Terminal de Santa Cruz. Dois anos mais tarde, o Transcarioca recebia as primeiras viagens da Barra até o Aeroporto do Galeão, atravessando bairros como Madureira, Vicente de Carvalho e Ilha do Governador. Antes dos Jogos, o Lote Zero do Transoeste (Terminal Jardim Oceânico - Alvorada) foi finalizado e a Transolímipica foi construída, conectando o Recreio até Deodoro.
O itinerário que leva o passageiro da Barra da Tijuca até Sulacap pode ser destacado como um dos principais legados das Olimpíadas. Trajeto que antes era realizado em, não menos, que uma hora de viagem, atualmente, utilizando a Transolímpica, os usuários conseguem chegar a seus destinos em cerca de 30 minutos ou menos.
O Terminal Recreio foi outro ponto positivo. A linha que leva o usuário de Madureira até o Recreio dos Bandeirantes diminuiu consideravelmente o tempo de viagem dos passageiros, que antes precisavam ir até a Alvorada para depois seguirem o seu destino. Se comparar com os tempos anteriores à inauguração do BRT, a vantagem é ainda mais significativa. Antes, moradores de Madureira e redondezas precisavam recorrer aos lentos ônibus que faziam esse caminho.
Para conter calotes e atos de vandalismo, o Consórcio BRT-Rio aguarda decisão da Prefeitura para atuação de guardas municipais nas plataformas e terminais
Porém, nem tudo no Rio de Janeiro continua maravilhoso e o transporte caiu no sistema do dia a dia do carioca. Nos horários de pico, as viagens são árduas. Estações abarrotadas, poucos seguranças, filas enormes e os infratores que aproveitam a falta de manutenção das portas das plataformas para entrar nas estações. “Todas as vezes que eu pego, eu acho péssimo, o ar condicionado não está muito forte, fraco até demais. Outro problema é a superlotação e a humanidade que não sabe se comportar”, relata Luana Costa.
O relato da copeira ilustra o que passa boa parte dos 450 mil usuários todos os dias. Além disso, a frota em algumas linhas não suporta a demanda. Os ônibus, muitas das vezes, saem lotados dos terminais (Alvorada, Madureira e Santa Cruz), fazendo com que passageiros escolham entre seguir viagens em pé ou se dirigir para estes locais, a fim de conseguir uma vaga nos bancos. “Demora muito para passar, e quando vem, está cheio”, conta a auxiliar de processos Caroline Ferreira, que escolheu a primeira opção ao voltar do trabalho.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Consórcio BRT-Rio disse que os intervalos são calculados de acordo com a demanda de público de cada estação. A empresa também lamentou os frequentes calotes, porém ressaltou que entrada de passageiros sem pagar passagem envolve uma questão complexa, “de cunho social, que ultrapassa a competência do BRT Rio”, comentou.
Como possíveis soluções, a assessoria usou como exemplo as medidas adotadas pelo VLT, que multa o passageiro que não paga passagem. Outra possibilidade é a colocação da Guarda Municipal nas estações e terminais, o que ainda depende de uma decisão da Prefeitura. “É importante esclarecer que não temos poder de polícia, que é exclusivo do Estado. As estações e terminais são áreas públicas, portanto, é um assunto para as autoridades de Segurança Pública. Se a Guarda Municipal vir a atuar, certamente, a população que usa o transporte público terá um ganho imenso de qualidade nas viagens”, afirmou a diretora de Relações Institucionais do BRT Rio, Suzy Balloussier.
Além dos calotes, a Guarda Municipal também poderia amenizar o alto índice de patrimônios destruídos. Cadeiras, portas, televisores e os próprios ônibus são alguns dos ‘alvos’ danificados por vândalos. O BRT Rio informa que, só em 2016, gastou R$ 3 milhões só para reformar os utensílios quebrados.
Alterações nos itinerários de algumas linhas de ônibus
O que pode explicar algumas falhas deste meio de transporte é que muitas linhas de ônibus e vans foram extintas ou encurtadas. A linha 691, que ligava o Méier à Alvorada, passou a ter a Cidade de Deus como destino final, obrigando os passageiros a saltarem na Taquara e continuarem a viagem via BRT. Além do transtorno das baldeações, o tempo de viagem também aumentou. Os moradores da comunidade Gardênia Azul, em Jacarepaguá, por exemplo, utilizavam a linha 636 para chegarem até a Saens Peña. Agora, precisam se deslocar até a Praça Seca para ir à Tijuca.
O ônibus 766, que saia do Madureira Shopping e transitava por alguns bairros de Jacarepaguá, passou a ter seu ponto inicial ao lado do BRT do Tanque, fazendo o usuário atravessar todo o bairro de Madureira para usar o transporte. Em janeiro de 2016 esta linha voltou a sair do Shopping, mas com uma nova numeração (LESD23), confundindo os passageiros.
Usuários entendem que durante os Jogos Olímpicos o serviço foi mais eficiente Durante a Rio 2016, essas dificuldades foram amenizadas. Os intervalos divulgados pela empresa eram precisos. Além disso, na época, controladores de acesso davam segurança para os usuários. Segundo o próprio site da empresa, no período de 5 até 21 de agosto, 11,7 milhões de pessoas foram transportadas para os locais dos Jogos, como o Parque Olímpico e o campo de golfe.
A design Camila Souza, que fez questão de dar nota 3.5 aos serviços do BRT, comparou a situação atual com a circulação durante os Jogos Olímpicos. “Nas Olimpíadas o fluxo era maior. Agora está sempre lotado, mesmo quando não é horário de pico. O desrespeito com o usuário é muito grande. Parece que a organização e a logística só funcionam em época de torneio esportivo”, lamenta Camila.
Assim, um sistema que tinha grande valor revolucionário para a população carioca entrou literalmente em sua rotina. O que antes era a "menina dos dos olhos de ouro" passou a ter nos Jogos Olímpicos, fazendo com que turistas acreditassem nos versos de "Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil", sucateou-se e transpôs suas verdadeiras falhas do sistema. As mudanças são vistas, mas não escondem a evidente sensação de que o bom funcionamento foi encerrado em agosto de 2016, quando as olimpíadas acabaram, os turistas se foram e 'apenas' os cariocas ficaram.