Cristina Camargo (Folhapress)
O instrutor de surf Matheus Ribeiro, 22, jovem negro que revelou ter sofrido uma falsa acusação de furto de uma bicicleta elétrica no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, quer que o caso sirva de exemplo para que outras vítimas denunciem atos de racismo.
"Isso não é um problema pessoal. É um problema que está enraizado na sociedade", disse o instrutor em entrevista ao RJ2 (Globo), nesta terça-feira (15).
Matheus esperava a namorada em frente a um shopping, no sábado (12), Dia dos Namorados, quando um casal formado por dois jovens brancos o acusou de ter pego a bicicleta da moça.
Segundo o instrutor de surf, apesar de mostrar fotos antigas em que aparece com a bicicleta, que é dele, o jovem que fez a acusação pegou o cadeado, tentou abrir e, ao não conseguir, percebeu o engano e disse que estava apenas perguntando, sem fazer acusação. Ribeiro publicou um vídeo da parte final da conversa nas redes sociais e o caso ganhou grande repercussão.
Para ele, é importante que outras histórias também tenham destaque. "Eu não quero dar ênfase só para o meu caso", afirmou. "Toda vez que acontecer isso com algum negro, que ele se sinta forte o suficiente para denunciar, para botar a cara, para mostrar e falar que isso não é certo. A gente não vai aceitar isso".
Nascido no complexo da Maré, na zona norte carioca, Ribeiro estuda educação física em uma universidade particular. Ele passa a maior parte da semana em Copacabana, na casa da namorada.
A situação vivida pelo instrutor de surf motivou várias reações, como a da deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ). "Preto pode ter o mesmo que você, se liga racista", ela disse. "O racismo obriga o negro a viver preparado para o pior, sempre tendo que se explicar. É revoltante ser sempre o suspeito aos olhos dos racistas", afirmou o deputado federal Orlando Silva (PC do B).
O instrutor registrou um boletim de ocorrência sobre a falsa acusação e o caso é investigado pelo 14º Distrito Policial.
Em maio, o youtuber Filipe Ferreira, também um jovem negro, foi abordado pela Polícia Militar de Goiás enquanto gravava um de seus vídeos sobre treinos e manobras na bicicleta.
Com a arma em punho, um dos policiais mandou ele descer da bicicleta, sem nenhum motivo aparente. O ciclista questionou e obteve como resposta gritos e uma arma apontada para ele.
Nas redes sociais, Filipe disse não ter entendido o motivo da abordagem aos gritos e com a arma voltada para ele. "Fiquei me perguntando se eles me abordaram por conta da minha pele ou se realmente tinha feito algo", escreveu.