Ele foi acusado de participar de um roubo na Barra da Tijuca

 

 

Um motorista foi preso no dia 13 de junho, acusado de roubar um casal na Barra da Tijuca, e agora seus familiares lutam para poder provar sua inocência. Wendel Luan Belisario dos Santos, de 23 anos, teve a prisão decretada logo após um reconhecimento fotográfico e foi levado para um presidio em São Gonçalo, Região Metropolitana. De acordo com a sua esposa, Anna Kelly, Wendel estava trabalhando de Uber no momento do assalto ao casal.

Segundo o advogado de Wendel, Fabio Dias Oliveira, o assalto foi por volta das 23h23, na rua Érico Veríssimo, na Barra da Tijuca. Entretanto, neste mesmo horário, o motorista estava fazendo uma corrida no bairro Engenho Novo, na Zona Norte da cidade. Em declaração, o policial relata que efetuou a prisão do suspeito do roubo, que estava dentro de um carro, por volta das 01h23 da madrugada. “Esse carro foi abordado duas horas depois do assalto. Esse casal estava a caminho da delegacia para prestar queixa, viu a abordagem do lado da casa deles, viu o carro e reconheceu dois deles como sendo autores do delito”, disse Fabio. “Nenhum pertence das vítimas foi encontrado com eles e Wendel também não estava ali. Só tinham 3 pessoas no carro”, completou o advogado.

De acordo com o advogado, uma máquina de cartão do C6 Pay, no nome da irmã de Wendel, foi encontrada no carro com os suspeitos.

“Ela disse que tinha emprestado e não sabia a finalidade. Chegando na delegacia, a vítima falou que tinham quatro pessoas e a polícia achou que os pertences dela estavam com esse quarto elemento”, explicou ele. Wendel é réu primário e nunca teve passagens pela polícia.

"Ele é limpo. Os presos me informaram que tinham que dar a senha do celular deles para a polícia. Foi aí que tiveram acesso ao Whatsapp de cada um e viram uma conversa com o Wendel, que tem o mesmo sobrenome da irmã", disse o advogado.

"Os policiais mostraram para a vítima a foto dele e no calor da emoção, por influência da polícia também, ela reconheceu Wendel. A autoridade policial não teve o trabalho nem de investigar, de ver se ele estava realmente trabalhando ou não. O delegado deu prisão preventiva e o juiz expediu o mandado de prisão", concluiu Fábio, que teve acesso às rotas de Uber de Wendel e sua última corrida foi às 2h50. "A prisão dele está fundamentada nessas duas coisas: no reconhecimento de fotos e na máquina da irmã. Mesmo que a irmã tenha ou não algum envolvimento, a pessoa dele, Wendel, não pode ser associada a ela. Tão mantendo preso um inocente, pai de família", finalizou.
Wendel é pai de dois filhos e mora com sua mãe. Ele estava fazendo um curso de barbeiro toda quarta-feira, das 12h às 17h e ajudava a cuidar dos filhos da sua irmã, Rhaysa.

Segundo uma pesquisa realizada pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DP-RJ) em processos julgados no Tribunal de Justiça do Estado, entre os meses de janeiro a junho de 2021, cerca de 80% dos réus absolvidos por erro no uso do reconhecimento fotográfico passaram mais de um ano presos e mais de 60% desses acusados são negros.

De acordo com a coordenadora de Defesa Criminal da DP-RJ, Lucia Helena Oliveira, a apresentação de uma única foto para a vítima, assim como a exibição das imagens e, telas de celulares ou com resoluções baixas são alguns dos problemas relacionados a esse método. “Em verdade, essas formas de utilização das imagens não podem ser identificadas como métodos legais para realização do reconhecimento. É importante que haja observância das regras processuais penais, como forma de garantia de direitos. Mas, a legislação ainda precisa avançar. Precisamos, por exemplo, de regras mais transparentes sobre as imagens a serem mostradas para reconhecimento, como forma de garantia mínima de direitos", declarou.