O Carnaval é sinônimo de festa, cores e alegria, mas também representa um grande desafio para o trânsito no Rio de Janeiro. Nas ruas da Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e demais bairros da Zona Oeste, a combinação de foliões, interdições e motoristas desatentos pode transformar a diversão em transtorno – ou pior, em acidentes graves. Com o aumento no consumo de álcool e o crescimento da circulação de veículos e pedestres, a fiscalização se intensifica, e quem não respeita as regras pode pagar caro.
A advogada especializada em direito de trânsito Marcelle Falcão alerta para os principais cuidados que motoristas e pedestres devem ter para evitar acidentes e multas durante a folia. Mas a pergunta que fica é: será que todos estão realmente preparados para o caos viário que o Carnaval impõe?
Blitz e Lei Seca: Tolerância zero para motoristas alcoolizados
Basta um passeio pelas ruas da Barra na madrugada para ver a cena se repetindo: motoristas sendo abordados pela operação Lei Seca, bafômetro em mãos e, em alguns casos, o carro guinchado. Durante o Carnaval, a fiscalização é intensificada e não há espaço para negociação. “As blitzes são reforçadas e instaladas em pontos estratégicos, principalmente perto de blocos e festas”, explica Marcelle.
Os números falam por si: em 2023, durante os dias de folia, mais de 3.000 motoristas foram autuados pela Lei Seca no Rio, segundo o Detran-RJ. O rigor tem motivo – o consumo de álcool no Carnaval dispara, e com ele, os acidentes. Dados da Polícia Militar indicam que as colisões envolvendo motoristas alcoolizados aumentam cerca de 30% nesse período.
Marcelle Falcão, advogada especialista em direito de trânsito, alerta que, durante o Carnaval, motoristas devem redobrar a atenção devido ao alto fluxo de pedestres e as mudanças no trânsito, evitando infrações e riscos de acidentes. (Foto: Arquivo Pessoal)
As penalidades são pesadas: multa de R$ 2.934,70, sete pontos na CNH e suspensão do direito de dirigir por 12 meses. Se o teste do bafômetro apontar 0,34 mg/L ou mais, o motorista pode ser preso.
Além disso, a recusa ao teste do bafômetro, por mais que seja um direito do condutor, não livra ninguém da punição. “A recusa gera automaticamente a mesma multa e suspensão da carteira”, alerta Marcelle. Ou seja, na dúvida, é melhor chamar um transporte por aplicativo.
Barra e Recreio no Carnaval: Trânsito intenso e pedestres por toda parte
Quem já tentou atravessar a Av. Lúcio Costa em pleno Carnaval sabe que a missão pode ser quase impossível. O fluxo intenso de veículos, combinado ao grande número de pedestres distraídos, faz dessa região um dos pontos mais caóticos da cidade durante a folia. “A imprudência dos foliões é um fator de risco”, destaca Marcelle. “Muitos atravessam fora da faixa, desatentos ou até sob efeito de álcool, o que aumenta a chance de atropelamentos”.
Para os motoristas, o maior problema são as interdições e mudanças no trânsito. A CET-Rio costuma fechar diversas vias para dar espaço aos blocos, e quem não se planeja pode acabar preso em congestionamentos quilométricos. “O ideal é evitar áreas de grande concentração de foliões e se informar sobre as alterações no tráfego antes de sair de casa”, recomenda a advogada.
Além disso, o desrespeito à sinalização pode render multas. Se uma rua estiver interditada e houver placas indicando a restrição, entrar no local pode resultar em infração. No entanto, se a sinalização for falha ou inexistente, há margem para recurso. “Nesses casos, o motorista tem o direito de contestar a autuação, especialmente se puder provar a ausência de sinalização adequada”, explica Marcelle.
Estacionamento irregular e guincho: A dor de cabeça dos foliões
Outra cena comum no Carnaval é a de motoristas voltando da festa e descobrindo que seus carros não estão mais onde foram deixados. Estacionar em locais proibidos pode custar caro – além da multa que pode passar dos R$ 195, o veículo pode ser rebocado. As infrações mais comuns nessa época do ano são estacionamento em locais proibidos e desrespeito a sinalizações temporárias. Para evitar problemas, a recomendação é simples:
- Use estacionamentos privados – pode sair mais caro, mas evita o risco do guincho;
- Fique atento às placas temporárias – algumas áreas podem permitir estacionamento em dias normais, mas serem proibidas durante o Carnaval;
- Evite parar em esquinas e calçadas – além de atrapalhar a circulação, a multa é pesada.
Caso um motorista se sinta injustiçado, é possível recorrer. “Se a sinalização estava inadequada ou ausente, o recurso tem boas chances de ser aceito”, orienta a advogada.
Assaltos no trânsito: Como agir se for vítima
Além dos desafios com multas e interdições, os motoristas precisam lidar com outro problema: A criminalidade. O Carnaval é um período em que os furtos e assaltos aumentam, principalmente em áreas de grande concentração de pessoas.
Se um motorista for vítima de um assalto ou agressão no trânsito, Marcelle orienta que o primeiro passo é registrar um Boletim de Ocorrência. “Se houver agressão física, é importante buscar atendimento médico para obter um laudo das lesões”, explica. Em caso de roubo do veículo, a recomendação é acionar a seguradora o quanto antes.
O mais importante, segundo especialistas em segurança, é nunca reagir. “O risco de violência é alto. A vida sempre deve estar em primeiro lugar”, alerta a advogada.
Carnaval seguro é carnaval responsável
O trânsito no Carnaval é um reflexo da festa: agitado, imprevisível e, muitas vezes, caótico. Mas com planejamento e respeito às regras, motoristas e pedestres podem curtir a folia sem correr riscos desnecessários. Afinal, o objetivo é aproveitar o Carnaval – e não acabar o feriado no hospital, na delegacia ou sem CNH.