Encontro aconteceu na manhã de quarta-feira, no hotel Ramada Hotel Recreio Shopping 



O 18º Fórum de Meio Ambiente, com foco nas regiões da Barra, Recreio, Vargens e Jacarepaguá, aconteceu na manhã da última quarta-feira (7). O evento é uma realização da HotéisRIO, em parceria com a ACIR (Associação Comercial e Industrial da Região do Recreio e Vargens). O principal objetivo foi discutir sobre a preservação do meio ambiente, despoluição do sistema lagunar da Zona Oeste e o desenvolvimento econômico na região.

Segundo o presidente da ACIR e do HotéisRIO, Alfredo Lopes, o fórum tem o intuito de chamar a atenção da população para questões ambientais e conscientizar a sociedade. “É necessário equilibrar as demandas do crescimento econômico com a questão ambiental. Temos que ser capazes de construir um modelo de administração que atenda os dois lados. Considerando que o turismo é a principal vocação da nossa cidade, não podemos sofrer com os odores desagradáveis que às vezes afetam nossa região, assim como não é possível impedir a circulação de pessoas. A solução passa por alinhar poder público e iniciativa privada”.

O presidente do Instituto Estadual do Ambiente, Felipe Campello, estava presente na mesa de abertura, e concordou com a fala do presidente Alfredo Lopes: “É importante compatibilizar crescimento econômico com conservação ambiental. Não é papo de ambientalista: a cidade precisa estar preparada para responder rápido diante de eventuais problemas, como inundações, que prejudicam o desenvolvimento das atividades”, comentou ele.

Quem também estava presente na mesa de abertura, era o presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Carlos Caiado. Para ele, a participação do município em um fórum como esse é algo essencial. “Até recentemente o saneamento era tratado como uma questão estadual. No entanto, criamos um conselho de saneamento na Câmara e conseguimos viabilizar que a Prefeitura se envolvesse com o tema. Uma área urbana complexa como a nossa tem que ter um rumo, por meio de um Plano Diretor”.

O subprefeito da Barra, Raphael Lima, também esteve na mesa de abertura e ressaltou que o que vem sendo feito no Canal de Sernambetiba, também conhecido como Rio Morto, é uma dragagem plena, eliminando lodo e sedimentos do leito do canal. “Serão retirados mais de 80 milhões de metros cúbicos. A ideia é evitar alagamentos e possibilitar a navegação, graças ao aumento do calado. Aliás, há um movimento no sentido de incrementar o transporte lagunar e contamos com a Iguá, que vem fazendo um trabalho importante na reforma das estações elevatórias de esgoto, para nos ajudar a viabiliá-lo”.

Atualmente, a Prefeitura do Rio está fazendo a dragagem do canal de Sernambetiba, para propiciar a drenagem da região das Vargens. Já a empresa Iguá Saneamento, nova concessionária do serviço, tem a incumbência de despoluir todo o sistema lagunar da região.

O conteúdo do fórum foi debatido em um painel único e contou com uma apresentação do oceanógrafo engenheiro costeiro ambiental e professor da Faculdade de oceanografia da UERJ, David Zee – Oceanógrafo, com o título “Revitalização do Sistema Lagunar da Barra da Tijuca, Recreio e Jacarepaguá, gerando desenvolvimento econômico para a região”. 

De acordo com Zee, nos anos 60, o poder público construiu vias e canais de forma a proporcionar acesso e habitabilidade à região da Zona Oeste. Entretanto, nos últimos 40 anos, a manutenção não foi adequada, o que tem gerado problemas. “O Canal de Sernambetiba, por exemplo, transborda com frequência. No entanto, não adianta somente dragá-lo. É preciso desobstruir a saída para o mar, na praia da Macumba”, explicou David. 

O professor ressaltou que é preciso mais do que proteger a embocadura. “A solução é preservar a praia, que foi criada pela natureza para proteger o litoral. Caso contrário, mesmo com a dragagem existe o risco de transbordamento, em caso de fortes chuvas, e inundação da região com as águas do canal, hoje, infelizmente, poluídas, o que aumenta as doenças e pressiona o sistema de saúde pública”.

Ao fim da reunião, o presidente  da ACIR e do HotéisRIO, Alfredo Lopes, foi questionado sobre qual a importância do cuidado com o meio ambiente não só para a região da Barra, Recreio e Vargens, como também para todo o Rio de Janeiro. “Não se tem turismo, com o meio ambiente degradado. Quem vem para o Rio, vem pra ver a ‘Cidade Maravilhosa’, e lógico que as suas maravilhas naturais. É uma cidade que tem sua mata atlântica chegando no mar, com lagoas, rios, que precisam ser preservados, e precisam ser divulgados de forma correta, porque esse é o nosso produto, a nossa praia”, finalizou ele.

Esta foi a 18ª edição do Fórum de Meio Ambiente, apontado pelo empresariado local como um importante espaço de debate e tendências para o desenvolvimento sustentável da região.

Leia abaixo informações divulgadas pelo professor David Zee:

“A Baixada de Jacarepaguá, como o próprio nome diz, é uma planície rasa e com risco natural de inundações. Para se tornar habitável foi necessário cortar as áreas de várzeas em canais para drenar as águas empoçadas durante as chuvas de verão, que sempre ocorreram na nossa cidade. Com este corte, somada a abertura das vias de acesso da Av. das Américas e da Alvorada (Ayrton Senna) na década de 1960, foi possível conquistar a zona oeste litorânea do município carioca, trazendo grande desenvolvimento econômico para esta região.

Contudo a manutenção desse espaço urbano exige a constante desobstrução dos canais de drenagem e a garantia da ampla ligação do mar com o Canal de Sernambetiba. Caso contrário as chuvas intensas, e a própria obstrução dos canais e ausência de saída para o mar, irão provocar alagamentos e inundações causando insegurança social para os moradores das Vargens e Recreio dos Bandeirantes, além de enorme prejuízo à economia da região, fundamentada no Turismo e Comércio. 

Toda rede natural de drenagem (rios e córregos) somada com os canais artificiais da bacia hidrográfica das Vargens e Recreio recebem esgotos fugitivos e águas pluviais contaminadas por óleo e sujidades urbanas. Não há dúvida que a segregação plena dos esgotos e, principalmente, do lixo são serviços públicos que a sociedade deve exigir permanentemente, uma vez que paga uma tarifa cheia pelos mesmos. A prevenção é fundamental para salvaguardar a segurança pública contra as enchentes e doenças de veiculação hídrica que possam acontecer com o transbordamento dos rios e canais entupidos por resíduos ou falta de manutenção.

Como consequência, a depreciação econômica provocando aumento da violência, e a ameaça à saúde pública por conta de constantes alagamentos (provocando perdas humanas e doenças como leptospirose), inviabilizarão o desenvolvimento econômico, social e urbano desta importante área do município do Rio de Janeiro.

Precisamos debater a necessidade de investimentos no sentido de manter os canais desobstruídos, bem como a ligação do mar com os canais intacta e saudável. Além de integrar este trabalho de recuperação do meio ambiente ao investimento feito pela iniciativa privada, visando criar condições econômicas para um ótimo desenvolvimento social e urbano nesta área. 

Assim, será fundamental ouvirmos os planos e pensamentos daqueles que são os maiores protagonistas, capazes de viabilizar um novo ciclo de crescimento econômico na região, através da recuperação dos seus canais e sistemas lagunares”.