Laranjeiras e Lagoa também aparecem no topo da lista; Cidade Nova, Jacaré e Cidade Universitária apresentam os piores números
O Instituto Pereira Passos, órgão da Prefeitura do Rio, divulgou os resultados do Índice de Progresso Social, o IPS 2022, que mede o desenvolvimento humano a partir de indicadores selecionados em três dimensões: necessidades humanas básicas, fundamentos do bem-estar e oportunidades. Quem se destacou na liderança foi o bairro da Barra da Tijuca, com 79,29 pontos.
A média da cidade do Rio de Janeiro ficou em 64,34 pontos. O melhor resultado de 2022 foi na dimensão de necessidades humanas básicas com resultado de 85,04. A dimensão de oportunidades apresenta o segundo melhor resultado (64,01), com destaque aos componentes de liberdade individual e de escolha (94,26) e inclusão (76,15). O menor resultado foi para fundamentos do bem-estar (43,97).
O estudo mostrou que os bairros com maior IPS foram Barra da Tijuca (79,29), na Zona Oeste, Laranjeiras (77,47) e Lagoa (77,4), na Zona Sul da capital. Já os três com menor IPS foram Cidade Nova (57,9), na Região Central, Jacaré (64,31) e Cidade Universitária (66,96), na Zona Norte.
Moradores do Jacaré e da Cidade Universitária destacaram o saneamento básico como a principal demanda para seus bairros. Nascido e criado no Jacarezinho, Robson Duarte, 43, é uma liderança local e faz parte da associação de moradores. Ele cobra obras de infraestrutura e investimento em moradia para a comunidade.
"A gente não vê obra desde 1992, só vemos paliativos. É o famoso enganômetro", comentou. "Em primeiro lugar, precisamos de saneamento básico. A qualidade da água potável é péssima, de tratamento de esgoto também. Infelizmente, é a realidade da comunidade, além da falta de moradia. Dois fatores que andam juntos e carecem no Jacarezinho", ressalta Robson.
Ao falar dos problemas de moradia, a liderança da comunidade exemplifica que muitos barracos não têm telha ou estão com a estrutura danificada. O desespero é grande em dias de chuva. "A comunidade é muito unida. Só que não é vista pelo poder público. Aqui estão os trabalhadores da cidade que completam o serviço lá fora e aqui dentro. Mas, ainda existe discriminação", completa o membro da Associação de Moradores do Jacarezinho.
Já na Cidade Universitária, que ficou entre as últimas posições na listagem do Índice de Progresso Social, o comerciante e morador Renato Santana também cita o saneamento básico, como serviço que precisa melhorar. Ele se mudou do Complexo da Maré com a família para a Vila Residencial do bairro e destaca a tranquilidade da região.
"São poucos lugares que ainda têm segurança. Já fui motoboy e bati os quatro cantos da cidade. Se não tiver tráfico, tem milícia. Graças a deus aqui me sinto seguro. A vila é silenciosa e calma", elogia. Renato trabalha em uma padaria e tem como clientes estudantes da UFRJ, moradores da vila, e funcionários da Petrobras, que trabalham dentro do campus na Ilha do Fundão. "Saneamento básico deixa a desejar. Não só dentro da vila, mas também nos arredores. Quando chove dá muitos bolsões d’água. Não tem escoamento adequado", crítica.
Morador da primeira colocada, a Barra da Tijuca, o síndico do condomínio Rio 2, Xisto Mattos, 59, está no bairro há 22 anos. Vice-presidente do conselho comunitário da associação de moradores do Rio 2, ele orgulha-se de participar da vida política e social do bairro.
"A Barra da Tijuca não é mais um bairro. Temos estrutura de um município. Só no condomínio Rio 2, são 18 mil pessoas. Essa população é maior do que a de 22 municípios do estado. É um bairro super-hiper-independente", afirma.
O advogado acrescenta que os moradores da Barra carecem de políticas públicas como os demais bairros. Xisto considera que, por ser considerado bairro de elite, a Barra fica em segundo plano para o poder público. "Temos uma contribuição importante do PIB do município do Rio de Janeiro. Todos os bairros são carentes de políticas públicas essenciais. Eu posso dar vários exemplos, como colocar asfalto nas ruas. O nosso pedido vem em segundo plano. Primeiro se preocupam com outros bairros para depois nos atenderem", crítica.
Já no bairro de Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, com a segunda maior pontuação de IPS, a produtora cultural Patrícia Rodrigues elogia a segurança e as opções de lazer do bairro. "É um bairro que me sinto segura. Tenho boas opções de lazer e atividade física para minha filha. Temos vida noturna, que não é tão badalada como a Lapa, mas não é morta. São muitas opções: clube, pracinha da General Glicério, Praça São Salvador", enumera a produtora.
Realizado pela Prefeitura do Rio desde 2016 para medir as Regiões Administrativas da cidade, desta vez o índice foi feito focado nos bairros. Baseado em metodologia internacional, o IPS combina indicadores de saúde, acesso a serviços básicos e qualidade da educação básica e superior, com variáveis ambientais, acesso à comunicação, direitos humanos, liberdade de escolha e tolerância e inclusão.
O instrumento não utiliza indicadores econômicos no seu cálculo, como por exemplo a renda da população. O foco está no que interessa à vida diária das pessoas. É um indicador que serve para o desenho, a avaliação e a implementação de políticas públicas. O Rio detém uma série histórica das regiões administrativas nos anos de 2016, 2018 e 2020.
Metodologia
O índice dá notas de 0 a 100 nos indicadores estudados, para chegar ao resultado de cada localidade, indicadores estes divididos em três dimensões: Necessidades Humanas Básicas como nutrição, saúde básica, acesso à água potável e esgotamento sanitário apropriado, acesso à moradia e segurança;
Fundamentos do bem-estar, como acesso à educação básica, a tecnologias de informação e comunicação, à saúde, ao bem-estar e à sustentabilidade; e Oportunidades como direitos individuais básicos, direito a ir e vir e direitos políticos essenciais, contendo questões como gravidez precoce e acesso a contraceptivos, trabalho infantil, e acesso à arte, cultura e lazer. A dimensão Oportunidades também abarca a questão da tolerância religiosa às minorias, os direitos das mulheres, e a inclusão social de grupos menos favorecidos, e o acesso ao ensino superior.
Confira os bairros com maiores pontuações
1 º lugar: Barra da Tijuca (79,29)
2 º lugar: Laranjeiras (77,47)
3 º lugar: Lagoa (77,40)
4 º lugar: Leblon (77,26)
5 º lugar: Flamengo (77,23)
6 º lugar: Ipanema (76,86)
7 º lugar: Copacabana (76,69)
8 º lugar: Jardim Botânico (75,98)
9 º lugar: Humaitá (75,47)
10 º lugar: Botafogo (75,14)
Menores índices
149 º lugar - Costa Barros (54,83)
150 º lugar - Pedra de Guaratiba (54,24)
151 º lugar - Barros Filho (53,64)
152 º lugar - Cidade de Deus (53,35)
153 º lugar - Santo Cristo (52,85)
154 º lugar - Bonsucesso (52,23)
155 º lugar - Grumari (51,23),
156 º lugar - Cidade Universitária (50,89)
157 º lugar - Jacaré (50,45)
158 º lugar - Cidade Nova (50,43)