Mãe, delegada, linha dura, feminina, amiga e mulher. Essas são algumas das características da primeira mulher titular da 16ª DP, Adriana Belém. De gênio forte, mas sem perder a feminilidade, a delegada recebeu a nossa equipe para contar um pouco de sua vida dentro e fora das delegacias do Rio de Janeiro
Jornal da Barra: Quando você decidiu ser policial?
Adriana Belém: Na verdade meu sonho sempre foi ser policial. Sou de família bastante humilde, acabei estudando e no final da minha vida escolar ao invés de fazer prova de magistério, acabei fazendo prova para carcereiro policial (risos). Fui carcereira da Polícia Civil durante sete anos, comecei na polícia em 1990 e comecei a trabalhar nas carceragens de delegacia, que já não vemos mais hoje em dia.
Jornal da Barra: Quando você almejou mudar de posto?
Adriana Belém: Após eu acabar a faculdade (de Direito) começou a aparecer para mim a figura da delegada, que na época não existia um número muito grande de delegadas. Comecei a me espelhar no pequeno número que existia, pois aquele era um dos cargos que eram o ápice da carreira, eu como ocupava um dos cargos mais modestos da Policia Civil, resolvi então estudar, fiz dois anos de curso e consegui passar em primeiro lugar no concurso para delegado na minha época. E acabei indo de um extremo ao outro quando em 97 eu passei no concurso e de lá para frente eu não parei mais.
Jornal da Barra: Como você trabalha com a sua equipe?
Adriana Belém: Eu gosto de botar as equipes para rodar, eu trabalho muito com ronda, eu tenho mais esse perfil de botar a policia para rodar, muito embora a nossa atribuição seja mais investigativa do que de ronda, mas no atual momento que estamos vivendo nós temos que dar as mãos e nos ajudar, então eu auxilio o Coronel Mello do 31º BPM, isso faz com que a gente descubra várias coisas, entre elas a gente já conseguiu parar um sequestro relâmpago em andamento na Lúcio Costa, quando abordamos o carro o assaltante desceu dizendo que estava pegando uma carona, mas o motorista estava com uma reação de pânico e então conseguimos descobrir o que acontecia, tudo isso por conta desse trabalho de ronda.
Jornal da Barra: Desde sua entrada, quais foram as mudanças realizadas dentro da delegacia?
Adriana Belém: Estou fazendo uma reforma na delegacia que estava muito maltratada estruturalmente falando. Estou tentando modificar isso e mais uma vez estou fazendo com o apoio da população, através da Parceria Pública Privada, estão me ajudando a cuidar da delegacia. Estamos graças a isso, mudando o piso, tem empresários que estão ajudando na manutenção das viaturas, a gente sabe que está passando por um momento difícil no Estado, mas a gente também não pode deixar de fazer as coisas por isso. Eu costumo falar para os meus policiais que o difícil já está acontecendo, mas a gente não pode deixar, a gente quer ter uma delegacia para poder atender o cidadão com dignidade e que eu possa ver o policial trabalhar com dignidade, por isso, a gente tem que pedir e estamos tendo bastante êxito porque a população quer ajudar, hoje estamos com a DP toda clara, que antes a gente tinha muitas lâmpadas apagadas, agora ela está inclusive pintada e mais bem cuidada.
Jornal da Barra: Qual a importância para você de ser a primeira mulher titular da 16ªDP?
Adriana Belém: Eu estou gostando muito do reconhecimento das pessoas sobre esse assunto. Eu ando na rua e as pessoas me param na rua me parabenizam, algumas mulheres falam para mim: “você nos representa”. Eu gosto disso, eu acho que é possível você ser mulher e comandar em uma instituição como a Polícia Civil que é em grande parte formada por homens. Mas eu gosto muito desse reconhecimento do meu trabalho, as pessoas entenderem que uma mulher pode sim estar à frente em um cargo como esse.
Jornal da Barra: Para você qual a responsabilidade de ser uma mulher dentro de um ambiente masculino?
Adriana Belém: É uma responsabilidade muito grande. A mulher quando tem um salão de beleza, ela sai bem, ela embeleza as pessoas, aqui na delegacia o clima é diferente, aqui as pessoas vêm com problemas a serem resolvidos e você tem que ter estrutura para saber lidar com isso, temos problemas com roubo, estupro, lesão corporal, entre outras coisas. Então você precisa ter uma estrutura. A mulher, biologicamente falando, é um ser mais frágil, mas é preciso mudar essa postura e ter estrutura para lidar com isso e correr atrás de uma solução. Então a responsabilidade de uma mulher para decidir uma decisão dessas é muito maior.