“Minha vida sempre foi um desafio”
Por Guilherme Cosenza
Marli Peçanha é a Secretária de Ação Comunitária da prefeitura. Porém, ela não é só a Secretária, mas é também a imagem fiel dos moradores de comunidade que lutam para viver e ter seu reconhecimento e dignidade. Afinal, ela resumi muito bem a realidade da comunidade. Mulher, negra, viveu na Cidade de Deus e é talvez a principal batalhadora em prol das favelas cariocas. A professora da Rede Municipal de Ensino começou a trilhar seu rumo na política em 1977 e desde então não parou mais.
Hoje ela volta ao cenário a pedido de um velho amigo, o prefeito da Cidade Eduardo Paes que ela tem como um grande incentivador de seu trabalho. Entrevistamos a secretária e moradora da região para conhecer um pouco mais da mulher que promete lutar pelas favelas. Acompanhe.
JORNAL DA BARRA: Quem é Marli Peçanha?
MARLI PEÇANHA: Mulher guerreira, 64 anos, negra, professora, cria da Cidade de Deus e que desde os 17 anos se engaja em ações de politicas públicas que visava melhorias para as comunidades por onde passava. Na educação, a referência é o mestre Darci Ribeiro. Na política Brizola, Conde e Paes.
JORNAL DA BARRA: De onde veio a vontade de ser professora?
MARLI PEÇANHA: A paixão de professora nasceu do amor pelo meu pai. Alfabetizei quando ele tinha mais de 50 na época e eu apenas 17 anos quando fui monitora do MOBRAL, no CDD. Seu Clementino foi a minha maior influência. Sempre sentávamos à mesa para cada um contar como foi o dia de trabalho. Ficava impressionada com a rapidez e habilidade que meu pai tinha para fazer cálculos. Papai sempre vinha com histórias incríveis de superação que tinha que passar para encarar engenheiros, empreiteiras e mestres de obra com o seu pouco ou quase nenhum estudo. Ficava impressionada como a matemática intrínseca na vida dele fez por muitas vezes Seu Clementino ganhar discussões com engenheiros de obras em que trabalhavam. A Rua dos Motéis na Barra da Tijuca carrega muitas historias marcada por passagens de Seu Clementino por lá. Diante de tanta inteligência do meu pai, resolvi propor a ele de alfabetizá-lo. Inteligente que era, aceitou, claro. Foi um desafio que cumprimos se dele guardo ótimos momentos e reconhecimento. Mas isso é papo para uma outra pauta que reúna histórias como a minha “de filhas que alfabetizam os pais”. Risos.
JORNAL DA BARRA: Você é negra, criada em comunidade, como foi superar os desafios e se transformar em uma educadora?
MARLI PEÇANHA: Realmente, minha vida sempre foi um desafio. E é até hoje. Carrego uma frase como filosofia de vida que repito sempre para mim e para minha equipe. “Temos que lutar para sermos os melhores, se não pudermos, que estejamos com os melhores sempre”. Vim a este mundo para evoluir e fazer a diferença. Se não for para ser assim, nem chame Marli Peçanha. Risos. Aos 3 anos de idade fui morar na Cidade de Deus. Lá vivenciei de perto e na pele todas as dificuldades e durezas enfrentadas pelos moradores. Morei, trabalhei e realizei muitos projetos no CDD. Projetos de crescimento pessoal mas também sociais. Tudo na minha vida é assim. Não à toa, recebo essa linda missão de estar à frente da Secretaria de Ação Comunitária tão importante para o Rio de Janeiro. E honrando o compromisso assumido pelo nosso prefeito Eduardo Paes para finalmente dar voz e vez para as favelas e comunidades cariocas.
JORNAL DA BARRA: De onde surgiu a ideia de ingressar na política?
MARLI PEÇANHA: Literalmente da vontade de querer fazer a diferença para a sociedade. Minha escola é a vida, é o poder de acreditar que só a educação transforma. É de estar no meio do povo, entender e ouvir as necessidades deles. E de levar politicas públicas para dentro das favelas. Meus mestres sempre foram Darci Ribeiro e Brizola. Preciso falar mais alguma coisa?
JORNAL DA BARRA: Falar de favela no Rio de Janeiro é falar de uma magnitude geográfica difícil de avaliar pela extensão de comunidades que temos no Rio. Como você vê essa função de dar voz as comunidades?
MARLI PEÇANHA: Isto o prefeito Eduardo Paes disse em campanha: não temos chance de errar mais com as favelas e comunidades do Rio. Essa frase ecoou e a missão foi dada. Estou à frente da Secretaria de Ação Comunitária ao lado de lideres comunitários que juntos trabalhamos para promover a entrada de órgão da Prefeitura às favelas e comunidades cariocas assegurando a participação popular na Gestão Pública Municipal, dando voz e vez aos moradores. E ainda, articular e integrar Políticas intersetoriais a fim de garantir e facilitar o acesso aos serviços que serão ofertados pela Prefeitura nas comunidades e favelas da cidade. A Secretaria será os olhos do prefeito na comunidade. Foi criada para presentear as comunidades. Sinto-me honrada por ter sido escolhida para ser a representante desse pleito. Darei o meu melhor, mas também mostrei a comunidade que direitos são carregados por deveres. A Secretaria propõe o diálogo contra o racismo e violência contra a mulher, realidade não só das favelas como também de toda sociedade. Vamos propor uma formação de uma cidade mais justa igualitária.
JORNAL DA BARRA: Você e o prefeito possuem um trabalho de longa data juntos. Como é trabalhar com o atual prefeito do Rio?
MARLI PEÇANHA: É ótimo! É prazeroso porque eu conheci Eduardo com 23 aninhos. Um garoto, que logo me encantou pela humildade. Eu estava saindo da escola Municipal Tristão de Ataíde e ele virou pra mim falou assim ó:“ eu não entendo nada de comunidade, eu não sei nada de política mas gostaria que você me apresentassem as favelas porque quero iniciar o meu trabalho por elas. Quero ajudar esse povo e então me deram você como referência”. Foi assim que fui trabalhar com o Eduardo, ainda na subprefeitura de Jacarepaguá. Fomos a varias comunidades juntos, Tijuquinha, São Jose Operário, CDD entre outras. E desde lá nunca mais nos abandonamos. Eu nunca sai dessa área de atuação social e sigo junto com o Paes executando todos os seus pedidos em prol do melhor para os cariocas.
JORNAL DA BARRA: Você conhece bem a nossa região e alguns dos maiores problemas que enfrentamos, uma vez que você já ocupou a subprefeitura de Jacarepaguá. Quais os grandes problemas atuais que você pode destacar?
MARLI PEÇANHA: Saúde e emprego.
JORNAL DA BARRA: O enfretamento ao racismo e a violência contra a mulher são hoje os maiores problemas das regiões?
MARLI PEÇANHA: A violência, infelizmente, não é uma mazela só da Cidade de Deus e sim de toda realidade do Rio de Janeiro. Não vejo essa divisão de bairros. Pelo contrario, enxergo integração, união. Os moradores da Barra e Jacarepaguá, em sua maioria, utiliza de mão de obra da Cidade de Deus, o que resulta problemas também. Vamos apresentar projetos com Secretarias especiais que possam minimizar essas questões emergenciais.
JORNAL DA BARRA: Como lidar com uma comunidade como a Cidade de Deus que está exatamente na divisão entre Jacarepaguá e Barra que costuma ser tão violenta e trazer diversos transtornos para as duas num movimento para a economia local?
MARLI PEÇANHA: Vamos incentivar os moradores a consumirem das Favelas e utilizarem ainda mais a mão de obra desse povo que só tem a contribuir para o crescimento da cidade.
JORNAL DA BARRA: Qual é o grande problema enfrentado hoje pelo morador de favela? MARLI PEÇANHA: Falta tudo na favela. Desde politicas públicas de base, como educação, saúde, assistência social até emprego?
MARLI PEÇANHA: A empregabilidade será a maior bandeira que pretendemos fincar nas favelas do Rio. Todos os projetos que pretendemos levar será voltado para geração de empregos. Com transparência, luta e igualdade pretendemos cumprir nossa missão.
JORNAL DA BARRA: Você acredita que pelo tempo que já trabalha com as comunidades, a sua abertura para resolver problemas dentro delas é mais fácil?
MARLI PEÇANHA: A experiência traz jogo de cintura para lidar com algumas situações. Como nunca atuei em outra área, a não ser social em comunidades, acredito que eu vá, sim, contribuir e muito para fazer a diferença nas comunidades, cumprindo com máximo respeito e transparência a promessa feita pelo nosso prefeito aos líderes comunitários.
JORNAL DA BARRA: É possível se combater de fato o tráfico de drogas?
MARLI PEÇANHA: Infelizmente, esta matéria não está no poder do município e sim do estado. Só a Secretaria de Segurança pode responder melhor do que eu, mas acredito no poder transformador que esta na Educação. Até os traficantes querem o melhor para as suas crianças, filhos, então, estarmos atuante lá dentro ocupando espaços com projetos sociais, culturais e educacionais isso sim fará alguma diferença para a comunidade. É para a maioria dos moradores e lideranças comunitárias que penso em atingir com os projetos da Secretaria de Ação Comunitária.
JORNAL DA BARRA: Fale um pouco sobre as novas pastas que o prefeito incumbiu você de cuidar.
MARLI PEÇANHA: A Secretaria Especial de Ação Comunitária é o órgão da Prefeitura do Rio de Janeiro responsável pela aproximação da Prefeitura às favelas e comunidades cariocas assegurando a participação popular na Gestão Pública Municipal, dando voz e vez aos moradores. Promove a integração das Políticas Intersetoriais a fim de garantir e facilitar o acesso aos serviços que serão ofertados pela Prefeitura nas comunidades e favelas da cidade. É responsável ainda por fomentar políticas públicas no âmbito das favelas e comunidades em articulação com o Conselho de Favelas e Lideranças Locais.