O Jornal da Barra conversou com o casal Betoh Cascardo e Bernardo Langlott. A última edição de junho que marca o Mês do Orgulho LGBTQIA+, traz o casal que aproveitou para soltar o verbo, falar sobre homofobia, os ataques que recebem, aceitação própria a e da família, revista adulta e muito mais.

Betoh, mora na Barra da Tijuca, é jornalista e produtor de TV, atualmente pela Prime Vídeo, streaming da Amazon, onde é diretor e criador do programa infantil “Betão e o Baú Mágico”. Já Bernardo, mora no Recreio dos Bandeirantes, é ator, youtuber e ganhou certa notoriedade por um breve romance com a jornalista Glória Maria, pessoa que ele afirma ter muito carinho e respeito.

Por não morarem juntos, o casal reveza entre uma casa e outra, para que possam manter a rotina de se verem.

RELACIONAMENTO COM A FAMÍLIA

Quando questionados sobre como é a relação dos dois com seus pais e famílias, ambos afirmam que não existem problemas, e que o namoro é algo muito bem aceito dentro dos seus respectivos núcleos familiares. “A mídia e a televisão ajudaram muito. As novelas que foram inserindo casais homoafetivos, né? Aquela novela do Félix... “Amor à Vida”... eu acho que ajudou muito. Antes da minha mãe aceitar essa questão, ela assistiu “Amor à Vida” do começo ao fim. E eu sabia porque ela tava assistindo, e eu acompanhava o que acontecia com o personagem do Félix”, disse Bernardo. Ele completou falando da importância desse fato para a aceitação de pais e mães abrirem as cabeças: “Então assim, isso foi importante para quebrar barreiras, para as pessoas se conscientizarem, abrirem a cabeça, entenderem mais, e serem mais humanas umas com as outras. Porque a gente não escolhe ser gay, a gente nasce gay. Ninguém vai escolher sofrer tudo que um cara gay sofre desde criança”.

Já Betoh, contou que para ele esse questionamento por parte da mãe, veio bem antes, quando a novela “A Próxima Vítima” (1995) estava sendo exibida, na TV Globo. Nela os personagens Sandrinho (André Gonçalves) e Jefferson (Lui Mendes) tinham um relacionamento, e ele conta que a mãe questionou se o filho era igual a um dos personagens: “Foi quando eu assumi minha homossexualidade pra minha mãe. Ela perguntou ‘você é igual o Sandrinho?’. Eu falei ‘não sou igual o Sandrinho’, porque eu nunca tinha ficado com homem, mas eu ia ficar, aí daí...”, contou ele rindo da situação ao relembrar.

ACEITAÇÃO DA SEXUALIDADE

Bernardo aproveitou a entrevista para falar sobre sua decisão de tornar pública a sua sexualidade, que só aconteceu em fevereiro desse ano. Ele contou que sua família e amigos próximos já sabiam, mas que tornar isso de conhecimento público foi algo que tirou 100% do peso das suas costas.

O casal ainda deixou um conselho para os pais de jovens LGBTQIA+, que precisam ficar atentos aos seus filhos, perceber os sinais, pois segundo os dois, a pessoa sempre dá sinais.

“O conselho que eu dou para todo pai de homossexual, é que... identifique rápido, a gente dá muitos sinais. A verdade é essa, a gente não consegue esconder o tempo inteiro. E apoiem o filho, porque essa vida dupla que essa galerinha leva, não vale a pena. Você se expõe muito a riscos... se a pessoa assumida já corre riscos, imagina uma pessoa que tá indo escondida, e a mãe acha que tá indo na casa de uma amiguinha, e na verdade a pessoa foi encontrar um cara de aplicativo”, alertou Betoh.

Bernardo também deu sua opinião sobre o tema, e retificou sobre a importância da aceitação familiar, para evitar possíveis suicídios que ocorrem com bastante frequência dentro dessa comunidade: “A falta do apoio familiar, é um dos grandes problemas de todas as gerações LGBTQIA+, porque você vê que existe um índice de suicídio de homossexual”.

HOMOFOBIA

O casal recentemente vem sofrendo ataques nas redes sociais, e até ameaças de morte, e aproveitaram o espaço para dar um relato do que estão passando atualmente. Mensagens de ódio, ameaças, invasão dos seus perfis nas redes sociais. Para combater tudo que eles estão enfrentando o casal fez um Registro de Ocorrência na 42ª DP do Recreio, onde eles foram encaminhados então para a DRCI (Delegacia de Repressão aos Crimes Informática), onde tudo vai ser anexado e averiguado para que haja uma investigação.

“Eu acho que é importante, a gente não pode calar, porque você vê. Saíram as matérias falando sobre isso, e os ataques continuaram”, disse Betoh, que completou falando sobre um perfil que o avisa para ter cuidado aos sábados, que ele irá morrer em um sábado.

“Isso que a gente faz é para a gente, e é para os outros também. Isso serve de exemplo, pra de repente uma pessoa que está na dúvida de fazer uma denúncia, fale assim ‘não, eles tão fazendo, eu tenho esse direito. Eu posso fazer’, entende?”, contou Bernardo sobre a importância que pessoas públicas tem em casos como esses, para incentivar outras vítimas.

Do outro lado dos ataques, há também o carinho dos fãs e admiradores que agradecem a coragem do casal de denunciar casos como esses.

REPRESENTAÇÃO DO MOVIMENTO

Os dois falaram sobre se sentirem ou não representados pelo movimento LGBTQIA+. Betoh na mesma hora já afirma não se sentir nenhum pouco representado, e citou o caso de uma amiga pessoal para exemplificar seu ponto de vista.

“As próprias pessoas, os próprios homossexuais, quando precisaram ser representados ou serem apoiados pelo movimento, não foram. A MC Trans não foi apoiada, que é uma amiga pessoal, e um monte de outras. O próprio movimento se negou a ajudar essas pessoas, pra ficar do lado da Gretchen, por exemplo. Que não é homossexual, entende?”.

Diferente do namorado, Bernardo acredita que o movimento tem a sua importância e discordou das falas de Betoh.

BARRADOS EM PROGRAMA DE CASAIS

Betoh ainda revelou para o jornal, que os dois foram, inicialmente, convidados para um reality show voltado para casais e seriam o primeiro casal homoafetivo a participar de um programa como esse no Brasil e em TV aberta.

Porém, quando tudo estava certo, a alta cúpula da emissora, barrou a participação dos dois, com uma alegação que para eles, foi mais um caso de preconceito. “Pra mim foi preconceito. A gente se tornou o casal “BB”. B de Betoh e B de Bernardo. Mas esse apelido não veio atoa. BB era pro casal do programa. Primeiro casal gay do programa, e a gente foi vetado”, revelo Betoh. Ele disse ainda que a motivação para serem vetados, não foi das melhores. “Olha a desculpa: ‘como nós vamos fazer as provas dos maridos e das mulheres com um casal gay?’, ou seja, um de nós ia ter que assumir a postura de mulher? Mas não gente, um casal gay faria um par ou ímpar ali pra ver quem iria disputar com as mulheres, e quem iria disputar com os homens”.

Os dois ainda riram da situação, e afirmaram que isso não seria nenhum problema para a relação deles.

SEGURANÇA

Quando foram questionados sobre se sentirem seguros ou não pela região da Barra-Recreio, tanto Bernardo, quanto Beto afirmaram não frequentar muito outras regiões, mas que se sentem totalmente seguros, para ser quem eles são.

Eles contam que as restrições que percebem, vem mais da terceira idade, talvez por não ser algo tão comum nas suas épocas: “O que a gente sente de restrição aqui, vem mais de senhorinhas e senhorzinhos, quando a gente está andando de mãos dadas. Eles estão de mãos dadas, mas olham a gente assim... No shopping Recreio tem umas coisas assim, de repulsa sabe?”, contou Betoh.

REVISTA ADULTA

O casal recentemente estampou a capa da edição de dia dos namorados de uma revista para o público adulto masculino, e falou sobre essa experiência, e as consequências que isso trouxe para as suas vidas. Betoh relatou que os pais das crianças do seu programa “Betão e o Bau Mágico”, não gostaram da ideia de posar nu com o namorado. Porém, ele mesmo afirma que não acredita que seja por se tratar de um casal homoafetivo, mas sim por se tratar de um conteúdo adulto. Entretanto, esse novo momento será usado para trazer mudanças em seu personagem, assim Betão terá uma nova função e irá passear entre os públicos, não sendo mais exclusivo do público infantil.

Betoh disse que só aceitou fazer a edição de Dia dos Namorados, pois pode trabalhar no conceito do ensaio e que sua ideia era mostrar as belezas que os mais variados corpos têm: “Eu só aceitei posar na revista, como a gente conversou, porque eu falei com a direção da revista que eu só aceitava se eu fizesse o conceito da capa. Então eu sugeri a diferença dos corpos. A beleza que existe em cada corpo. Existe beleza em um cara gordinho, existe beleza num cara como ele [Bernardo], assim como existe beleza em um cara magrinho”.

Quando questionados se eles topariam algum dia se jogar nas plataformas de conteúdo adulto, os dois prontamente negaram essa possibilidade e afirmaram serem bastante ciumentos: “Nunca! Eu sou completamente ciumento, não gosto de dividir nada meu (risos). Eu não consigo imaginar”, afirmou Betoh. Bernardo completou o namorado, dizendo que o máximo de exposição deles foi para a revista. “Eu acho que o ensaio da Mais JR., foi o ápice que eu consigo fazer de uma coisa sexual. O que eu fosse fazer assim, a uma coisa sexual, seria uma cena de um filme ou uma cena de novela. Eu não recrimino quem faça, mas eu jamais faria”. Ele ainda revelou que uma das fotos do ensaio da revista foi descartada, por mostrar mais do que deveria.

Esse ensaio é tido para o casal como uma conquista, onde eles celebram os mais diversos corpos existentes, dando visibilidade para diversas pessoas que não se viam representadas nas revistas existentes.