Em seu novo longametragem, Rodrigo Pimentel mostra as dificuldades enfrentadas pelas UPPs
Por Guilherme Cosenza
“Eu não quero ir mais a enterro de policial”. A fala do Major Douglas, interpretado por Marcos Palmeiras, ainda no começo do filme, dá o tom do enredo de “Intervenção”. O longa conta a história do declínio das Unidades de Polícia Pacificadora frente à falta de recursos e estrutura do governo em manter o trabalho dentro das comunidades pacificadas do Rio de Janeiro. Além de apresentar o trabalho social feito de maneira improvisada pelos oficiais.
“Intervenção” se divide em dois personagens principais: de um lado um major da Polícia Militar responsável por uma UPP que luta para tentar manter a paz, da maneira que pode, dentro de uma comunidade onde o tráfico já volta a dar as caras; do outro lado, a oficial novata Larissa, interpretada por Bianca Comparato, que acaba de chegar à Unidade Pacificadora e precisa entender como se deve fazer o trabalho. Ambos personagens tentam fazer seu trabalho de maneira honesta, porém acabam por diversas vezes se deparando com os problemas causados pelo abandono do estado.
Bem longe das fardas pretas apresentadas em seus dois primeiros filmes, “Tropa de Elite” e “Tropa de Elite 2”, Rodrigo Pimentel abordar a dificuldade do trabalho dos policiais convencionais que precisam realizar seus trabalhos mesmo sem o apoio ideal dos governantes. “Todo mundo me pergunta se é Tropa de Elite 3 (risos). Não é, mas é sim um filme sobre segurança pública, na mesma linguagem da Tropa, mas com algumas diferenças. O filme fala sobre o fracasso das UPPs no Rio de Janeiro, as favelas e a cidade”, contou o ex-capitão do BOPE com exclusividade, para a equipe do Correio da Manhã.
Nossa equipe foi o único veículo de mídia convidado para a Avant Premiére do filme em sessão fechada dentro da sede do Clube Militar do Rio de Janeiro, no centro da cidade. Pimentel trouxe para seu novo longa-metragem uma nova realidade, onde os traficantes não trabalham com as drogas: “foi proposital, pois hoje, muitas favelas não sobrevivem mais das drogas e sim do tráfico de cigarro, contrabandeado do Paraguai. Hoje em dia as facções criminosas como a ADA, Comando Vermelho e o Terceiro Comando, sobrevivem com o tráfico de cigarros paraguaios em todas as favelas do Rio de Janeiro. Em algumas, a venda dos cigarros supera o das drogas”.
Pimentel explica que esse fato ocorre por parte da população que desconhece totalmente o passado do produto e na ânsia de poder economizar, acaba comprando os produtos que saem das mãos dos traficantes: “é uma visão ingênua das pessoas: ‘isso não é cocaína e nem maconha, é cigarro, então tudo bem’. Mas ele acaba contribuindo para a violência, tanto quanto o usuário de drogas. Todo mundo que compra coisas da mão de traficante, está contribuindo para violência”.
Pimentel também aborda de maneira inteligente e intensa, outro forte ponto noticiado diariamente nos jornais da cidade, os problemas com o roubo de carga:
"O Comando Vermelho também vive atualmente com o foco nas cargas roubadas. Antigamente eram apenas eletrônicos, mas hoje temos tudo, café, arroz, feijão, carnes, etc. Toda vez que você passa em algum lugar e vê alguém vendendo três kit kats por R$ 5,00, esse produto é roubado, ele não custa esse valor. Então outro ponto importante para quem não quer ajudar o tráfico, é não comprar esses produtos”.
Para finalizar os pontos críticos abordado no filme, uma das mais nítidas do filme está a Audiência de Custódia. Durante o longa é possível ver de maneira nítida a dificuldade dos policiais em prender suspeitos que acabam sendo liberados logo na sequência da apreensão: “acaba sendo de fato um ‘enxuga gelo’. Pois você apreende o bandido e se ele não for pego em flagrante, no ato do crime, ele precisa ser liberado. Por conta disso abordamos esse assunto, essa lei precisa mudar, não pode ser desse jeito”.
Com direção de Caio Cobra, junto a um elenco de peso com nomes como Rainer Cadete, Babu Santana, Zezé Motta, Dandara Mariana, Juliana Araújo e Antonio Grassi, “Intervenção” traz o mesmo peso social e é capaz de trazer o espectador a uma realidade atual, com o mesmo efeito gerado nos filmes que Wagner Moura, na pele de Capitão Nascimento, conseguiu trazer. O filme foi feito totalmente com recursos particulares, foi orçado em R$ 4 mi, produzido em 28 dias e tem data prevista para chegar aos cinemas brasileiros em janeiro de 2020.