Por: Lucas Brêda
Cerca de 300 salas de cinema foram fechadas no Brasil desde o início da pandemia. No começo de 2020, antes da confirmação do primeiro caso de Covid-19 no país, o parque exibidor nacional tinha cerca de 3.500 salas –quebrando um recorde de 1975, do auge da era da pornochanchada–, e agora passa a ter cerca de 3.200.
A diminuição da quantidade de salas acontece graças ao tempo de paralisação devido à pandemia, que marcou a maior crise do setor em todos os tempos, segundo Ricardo Difini Leite, presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (Feneec). Para ele, contudo, a redução no número de salas poderia ter sido ainda maior.
Após mais de seis meses fechados devido a pandemia da Covid-19, as salas de cinema da capital paulista voltaram a funcionar para o público. Movimentação no "Pela crise que houve no setor, até que não foi uma quantidade expressiva", ele diz. "Teve uma redução de 8% do mercado. Afetou mais empresas de pequeno porte, familiares, e do interior. Algumas já não estavam tendo um resultado bom muito antes e, com a pandemia, acabaram decidindo pelo fechamento."
As cerca de 300 salas fechadas não representam o fechamento do mesmo número de empresas, já que cada uma delas pode ter mais de uma sala. Difini Leite avalia que o fechamento das salas aconteceu em todas as partes do país. "Não teve uma concentração. Tem a questão dos pequenos grupos. O Itaú fechou em alguns lugares, mas poucas operações. E às vezes até a redução de salas num mesmo complexo –uma readequação. O problema foi generalizado."
Antes da pandemia, a quantidade de salas de cinema no Brasil estava aumentando, principalmente a partir da chegada dos exibidores a regiões em que havia poucos ou nenhum cinema.
Apesar da maior parte do parque exibidor ainda estar concentrada nas grandes metrópoles e na região Sudeste, a década anterior à pandemia viu a oferta de salas no Nordeste mais do que dobrar. No Norte, quase triplicou, com um salto de 181% desde 2009. Nos municípios com mais de 100 mil habitantes, o total de salas dobrou entre 2009 e 2018.
Segundo o presidente da Feneec, o que impediu a crise de ser ainda maior foi o financiamento que o setor conseguiu com a Agência Nacional do Cinema, a Ancine. "Foi um valor de R$ 400 milhões. Se não fosse isso, teríamos uma quantidade bem maior de fechamentos. Ajudou muito o setor a se manter enquanto estava fechado."
Nos últimos meses, com o afrouxamento das regras sanitárias, os cinemas voltaram a receber público presencialmente, com destaque para a alta bilheteria de "Homem-Aranha: Sem Volta para Casa", que nos últimos dias se tornou a maior estreia de um filme no Brasil, com 1,7 milhão de espectadores no primeiro dia. Entre os filmes nacionais, o destaque é "Marighella", de Wagner Moura, que foi a produção brasileira mais vista do ano.
Mas apesar dos números de "Homem-Aranha" mostrarem que o público estava com saudades de ir ao cinema, uma recuperação do setor ainda deve se desenrolar ao longo dos próximos anos. "Temos visto uma situação bem conservadora das empresas, de aguardar mais um pouco para ter certeza de como o cenário vai acontecer em 2022 antes de tomar atitudes de expansão, de novas salas. Certamente vai ser um ano de manter essas salas e entender o mercado para depois investir em novas salas a partir de 2023."
Até porque, diz Difini Leite, a pandemia ainda não está totalmente resolvida. "Há uma incerteza de que não vai ter uma nova paralisação. Então, mesmo tendo uma expectativa de aumento, bilheterias indo bem, ninguém pode garantir que amanhã não vai haver risco. A gente acredita que não, espera que não, mas o mercado está observando."