Ator era um dos principais nomes da dublagem brasileira

Redação

O ator e dublador Orlando Drummond, mais conhecido por viver o Seu Peru na “Escolinha do Professor Raimundo”, morreu no início da noite de ontem, aos 101 anos. Drummond ficou internado de abril a junho deste ano no hospital Quinta D’Or, na Zona Norte do Rio de Janeiro, para tratar um quadro grave de infecção urinária.

Em junho, ele foi homenageado pelos netos nas redes sociais para celebrar o Dia do Dublador. Com fotos ao lado do ator, eles compartilharam declarações à carreira e a Orlando.
“Quem vê de fora até pensa que o Dia do Dublador é quase um Natal aqui em casa, né? A gente não chega a tanto, mas é sempre um momento bacana para homenagear meu avô, meus irmãos, Alexandre e Eduardo Drummond, e meus colegas profissionais”, escreveu Felipe Drummond, um dos netos do artista.

Uma das vozes mais icônicas do entretenimento brasileiro, Orlando Drummond marcou várias gerações ao dar vida para personagens da comédia, como o Seu Peru, da “Escolinha do Professor Raimundo”, ou emprestar sua voz para dublar Alf, o ETeimoso, Gargamel, Scooby-Doo, Popeye e Vingador.

Nascido no Rio de Janeiro em 18 de outubro de 1919, Orlando Drummond Cardoso iniciou sua carreira como contrarregra, em 1942. A proximidade com a TV e o potencial o levaram a trabalhar como ator e posteriormente dublador, a partir de 1950.

Seu personagem mais marcante da TV é Seu Peru, criado em 1952 para o embrião da “Escolinha” comandada por Chico Anysio ainda como programa de rádio, na extinta Rádio Mayrink Veiga. O programa passaria para a televisão, sendo exibido pelas TVs Rio, Excelsior e Tupi, até virar um quadro em Chico City, humorístico comandado por Chico Anysio na TV Globo e ganhar vida própria em 1990.

Em 2019, quando a Globo recriou a “Escolinha do Professor Raimundo” com novos atores, Orlando Drummond compareceu a uma das gravações, contracenou com seu sucessor, Marcos Caruso, e elogiou o colega. “Não tem preço. Enquanto eu estiver vivo, estarei presente com muito amor e carinho. Obrigado, obrigado, obrigado. Estava magnífico, igualzinho a mim. Nota dez! O mais parecido dos personagens foi ele. Gostei do programa todo, porém mais dele, por ficar parecido comigo mesmo, me imitou. Fez muito bem, maravilha. Já tenho um substituto”, comemorou o veterano comediante.

PAPEL VEIO POR ACASO

Mauricio Stycer, colunista do UOL, conta que o papel de Seu Peru chegou para Drummond por acaso, já que estaria destinado a outro ator. Bruno Mazzeo – filho de Chico Anysio –, Marcos Veras e Fernando Caruso estão entre os artistas que lamentaram a morte do velho mestre do riso. “Viva Drummond! Dos grandes. Salva de palmas”, escreveu Mazzeo em suas redes sociais. Eles contracenaram juntos no episódio da “Escolinha do Professor Raimundo” em 2019.

“Orlando Drummond foi descansar, mas sua voz continuará conosco, fazendo parte da infância de milhões de brasileiros, eu entre eles”, lamentou Fernando Caruso em sua conta no Twitter, postando uma imagem do simpático cachorro com seu dono, o Salsicha. Já Marcos Vera classificou Drummond como “guerreiro e gênio”.

Miguel Falabella demonstrou toda sua admiração pelo ator. “Querido Orlando, receba essa derradeira homenagem deste fã que cresceu acalentado por sua voz plena de magia e personagens. O Brasil com certeza vai-lhe guardar no coração. Descanse guerreiro! Vamos guardar sua lembrança!”, afirmou.

Embora seja uma voz frequente em tantos personagens da dublagem, Orlando Drummond criou modulações únicas e deu personalidade para cada um daqueles a quem emprestou sua voz. Seja na estabanada e sempre imitada voz do cachorro Scooby Doo quanto com o musculoso marinheiro Popeye.

A voz de Drummond certamente se destacou também entre os vilões quando ouvimos a ríspida e ameaçadora voz de Vingador em “A Caverna do Dragão” ou o temível Gargamel de “Os Smurfs”. E como não se lembrar do atrapalhado ETeimoso Alf com sua voz fanha?

Entre tantos trabalhos de voz memoráveis, também fez o Gato Guerreiro de He-Man, o Corujão do Ursinho Pooh, além de dublar o Imperador Palpatine em “Star Wars: O Retorno de Jedi” e o capitão de “Titanic”, vivido nas telonas por Bernard Hill. O comediante era considerado pela comunidade dos dubladores o grande padrinho da profissão.

Mesmo afastado dos trabalhos, sempre foi presença garantida no “Diversão Brasileira”, um bloco de Carnaval realizado na praça Xavier de Brito, na Tijuca, no Rio de Janeiro. Quando completou 100 anos, em 2019, ele foi homenageado pelos foliões.

“Tô chegando aí pessoal! Qualquer dúvida, use-me e abuse-me”, disse antes de curtir a homenagem vestido de Seu Peru e com uma camiseta com seus principais personagens estampados. Orlando Drummond deixa a esposa, Glória Drummond, com quem era casado desde 1951, dois filhos, cinco netos e três bisnetos.