Ele tinha 85 anos. A morte foi confirmada pela assessoria da Globo, onde ele era contratado
Por Carlos Bozzo Junior/ Folhapress
O ator Flávio Migliaccio foi encontrado morto em seu sítio em Rio Bonito, no Rio de Janeiro, na manhã desta segunda (4). Ele tinha 85 anos. A morte foi confirmada pela assessoria da Globo, onde ele era contratado.
Migliaccio nasceu no bairro do Brás, zona central de São Paulo, numa família de 17 irmãos -uma delas, Dirce Migliaccio, também atriz.
Ele contava ter descoberto os palcos quando, aos 14 anos, foi expulso do colégio católico onde estudava depois de denunciar o assédio que sofria dos padres -a experiência foi descrita no espetáculo autobiográfico "Confissões de um Senhor de Idade", de 2017. Então, caminhava perto da igreja do Tucuruvi, na região norte, quando ouviu um grupo se apresentando no local.
Entrou, sentou-se e começou a assistir à peça. Gostou tanto do que viu que foi falar com o ator principal, dizendo que era capaz de fazer aquilo. O ator cedeu seu lugar para ele, que passou a desempenhar o papel com destreza. Migliaccio participou da companhia amadora por três anos, onde ainda trabalhou como diretor.
De origem pobre, o ator teve que arrumar outras ocupações, além do teatro, trabalhando como balconista e mecânico para ganhar dinheiro e sobreviver. A profissionalização só aconteceu em 1954 quando, depois de um curso com o italiano Ruggero Jacobbi, ele entrou no Teatro de Arena.
Seu primeiro papel foi o de um cadáver na peça "Julgue Você", em 1954. Segundo o ator, havia muitas pulgas no espaço, e o figurino praticamente o impedia de respirar, obrigando-o a realizar um trabalho hercúleo de concentração com a plateia tão perto do palco.
Ali mesmo, ele participa de algumas das peças mais emblemáticas daquela transição para os anos 1960, como "Chapetuba Futebol Clube", de Oduvaldo Vianna Filho, "A Revolução na América do Sul", de Augusto Boal, e "Eles Não Usam Black-Tie", de Gianfranceso Guarnieri.
Na mesma época, então com 25 anos, ele estreou no cinema em "O Grande Momento", de Roberto Santos, considerado um dos precursores do Cinema Novo. Participaria ainda de clássicos do cinema brasileiro como "Cinco Vezes Favela" -ele pode ser visto no segmento "Um Favelado", de Marcos Faria, e co-escreveu "Pedreira de São Diogo", com Leon Hirszman-, "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", de Roberto Santos, e "Todas as Mulheres do Mundo", de Domingos Oliveira.
Foi nos anos 1970, no entanto, que o ator tornou-se conhecido do grande público, na série da Rede Globo "Shazan, Xerife e Cia.". Enquanto Paulo José interpretava o Shazan, ele fazia sua dupla Xerife entre 1972 e 1974.
Embora alguns atores odeiem ser marcados por um só papel, com Migliaccio isso não acontecia. Segundo ele, em relação ao personagem Xerife, dizia querer ser "desmoralizado" e ficar com aquele personagem para o resto da vida. O ator sempre gostou de Carlitos, de Charles Chaplin, e do Mr. Bean, de Rowan Atkinson.
Depois, foi eternizado com outro papel, o do Tio Maneco, da série "As Aventuras do Tio Maneco", exibida pela TVE entre 1981 e 1985. Sua origem foi o filme homônimo de 1971, dirigido pelo próprio Migliaccio, e que ganhou a sequência "Maneco, o Super Tio", de 1978.
Nas várias novelas da Rede Globo, ele ficou conhecido por sua atuação, entre outras, em "Rainha da Sucata", "A Próxima Vítima", "Vila Madalena", "Senhora do Destino" e "Passione".
Um de seus trabalhos mais recentes e marcantes foi no seriado da Rede Globo, exibido entre 2011 e 2015, "Tapas & Beijos", como "seu Chalita", dono de um restaurante árabe em Copacabana. Seu última aparição profissional foi, no entanto, no cinema, no longa independente "Jovens Polacas", lançado no ano passado.