Pagamento desencadeou a "Operação Placebo" que investiga desvios de recursos públicos no combate à pandemia
Por Gabriel Moses
O governador Wilson Witzel recebeu R$ 284 mil do escritório do advogado Lucas Tristão, exonerado da Secretaria do Desenvolvimento Econômico na semana passada, para analisar uma petição de 14 páginas ajuizada pela empresa Atrio Rio, pertencente até março à família do empresário Mário Peixoto, com o objetivo de anular uma licitação da Secretaria Estadual de Educação do Rio em 2018.
Nesse período, Witzel disputava o governo do Rio, e negou qualquer relação com o empresário. Além disso, ele recebeu o valor de R$ 284 mil apesar da Átrio ter atribuído à causa no Tribunal de Justiça do Rio apenas R$ 1 mil. A petição de 14 páginas obtida pelo O Globo, e confirmada pelo Correio da Manhã, fundamentava um mandado de segurança requisitado pelo Atrio Rio para tentar anular uma licitação vencida pela empresa Agile Corp Serviços Especializados. As empresas disputavam a prestação de serviços terceirizados de manutenção e de limpeza de escolas da rede pública do estado.
A licitação pela modalidade de pregão eletrônico, onde a Atrio ficou em segundo lugar, foi parcelada em seis lotes, resultando num valor de R$ 85,6 milhões por um ano de contrato. Porém, o pedido não foi atendido pelo Tribunal de Justiça do Rio.
Caso a análise foi o único serviço prestado pelo governador ao escritório, em troca do valor de R$ 284 mil declarado no imposto de renda, os honorários cobrados supera os números da realidade do mercado.
O pagamento efetuado foi investigado pela Procuradoria-Geral da República que iniciaram a "Operação Placebo" na semana passada. Naquela oportunidade, Witzel e sua esposa foram alvos da busca e apreensão permitidas pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A operação foi montada para apurar desvios de recursos públicos relacionados ao combate do coronavírus. A quantia foi revelada pelo jornal Folha de S. Paulo.
No Rio de Janeiro, a Operação Lava-Jato investiga fraudes e, durante a "Operação Favorito", o empresário Mário Peixoto foi preso, além de Alessandro Duarte, que possui contrato com a primeira-dama e é apontado pelo Ministério Público Federal como o operador de Peixoto.
O valor de R$ 284 mil supera a soma de 12 meses de vencimento líquido de um juiz federal, levando-se em conta os vencimentos mensais de R$ 22 mil. Witzel deixou a magistratura em março de 2018, ano em que disputou a eleição no governo do estado. A análise do documento, considerado simples, representou um acréscimo de 71% no patrimônio declarado do governador, que disse em 2018, à Justiça Eleitoral, possuir somente uma casa de R$ 400 mil.