No relatório, a instituição afirma que as autoridades devem estar preparadas para fornecer apoio adicional na área fiscal
O fim de estímulos econômicos, como o auxílio emergencial, e a persistência da pandemia do novo coronavírus, que incentiva o isolamento social, vão reduzir o consumo das famílias e afetar a recuperação econômica no Brasil.
O cenário de restrição consta de relatório sobre o Brasil, divulgado nesta quarta-feira (2), pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
Na avaliação do Fundo, o país vai sofrer com uma retirada abrupta das medidas de estímulo à economia adotadas pelo governo, uma vez que persistem os efeitos da crise da saúde gerada pela pandemia.
No relatório, a instituição afirma que as autoridades devem estar preparadas para fornecer apoio adicional na área fiscal. A instituição já havia feito alertas nesse sentido em seus últimos documentos.
Também disse que o Banco Central deve considerar afrouxar ainda mais a política monetária, ou seja, avaliar novos cortes na taxa básica de juros, caso a inflação e as expectativas de inflação permanecerem abaixo da meta, mas com um acompanhamento cuidadoso das implicações para a estabilidade financeira e fluxos de capital. Atualmente, a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, está em 2% ao ano.
Na terça (1º), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a negar a ideia de prorrogar o auxílio emergencial. O benefício, atualmente no valor R$ 300, é pago pelo governo para aliviar os impactos da pandemia sobre o orçamento familiar e terminar em 31 de dezembro.
O FMI afirmou ainda a necessidade de aprovar uma reforma tributária abrangente, acelerar o ritmo de novas concessões e privatizações e finalizar acordos comerciais.
Para equilibrar o orçamento, a sugestão é reduzir os gastos obrigatórios e a rigidez orçamentária, fortalecer a rede de seguridade social e reformar novamente a Previdência Social, além de manter o teto de gastos constitucional.
As estimativas do FMI são de queda do PIB (Produto Interno Bruto) de 5,8% em 2020, seguida por uma "recuperação parcial" para 2,8% em 2021. As estimativas são mais pessimistas que as do boletim Focus do Banco Central, com projeções de mercado, que aponta queda de 4,5% e crescimento de 3,45% nesses dois anos.
Para o Fundo, a inflação deve ficar abaixo da meta até pelo menos 2023, dada a ociosidade significativa da economia. A dívida bruta chegaria a 100% do PIB no ano que vem.
"Os efeitos persistentes da crise da saúde e a retirada esperada do apoio fiscal irão restringir o consumo, enquanto o investimento será prejudicado pela capacidade ociosa e alta incerteza", afirma a instituição ao comentar as projeções de crescimento para 2020 e 2021.
Os diretores elogiaram a forte resposta das autoridades à crise, "que evitou uma desaceleração econômica mais profunda, estabilizou os mercados financeiros e amorteceu os efeitos sobre os pobres e vulneráveis".
O Fundo afirma, no entanto, que os estímulos devem se concentrar em limitar os efeitos marcantes da pandemia, garantindo a sustentabilidade da dívida a médio prazo.
Segundo o Fundo, as medidas na área econômica totalizaram 18% do PIB brasileiro, sendo cerca de 11% do PIB aquelas com impacto fiscal.
"A resposta política evitou uma desaceleração econômica mais profunda, estabilizou os mercados financeiros e amorteceu a perda de renda dos mais pobres. A atividade varejista e industrial voltou aos níveis pré-covid no terceiro trimestre, mas o setor de serviços continua deprimido, com um impacto negativo sobre o emprego", diz o Fundo.
"A maioria dos diretores [do Fundo] enfatizou que as autoridades devem estar preparadas para fornecer apoio direcionado adicional e saudou a disposição das autoridades em considerar esta possibilidade. Vários diretores também alertaram contra uma retirada abrupta do apoio fiscal."
O relatório é resultado da visita anual de uma equipe de técnicos do Fundo ao país, submetido ao Conselho de Administração do FMI, e exprime os pontos de vista dos diretores executivos da instituição, que são encaminhados às autoridades nacionais.