Por: Fernando Pimenta

 

Em ‘Conclave’, um dos cardeais declara em determinado momento: “Representamos um ideal, mas ainda somos homens comuns”. A frase encapsula perfeitamente o dilema central do filme, que nos conduz por duas horas de intrigas, ambições e crises pessoais dentro dos muros sagrados do Vaticano.

 A trama tem início logo após a morte do Papa, fato que dá início à complexa e sigilosa eleição de seu sucessor. O responsável por conduzir essa delicada votação é o cardeal Lawrence (Ralph Fiennes), responsabilidade que lhe é dada justamente quando o personagem está passando por uma crise de fé. E ele não é o único a carregar fardos internos: dentro da Capela Sistina, entre orações e promessas de devoção, escondem-se jogos de poder, ressentimentos, medos e ambições que transformam esta votação em um verdadeiro tabuleiro de xadrez.

O que então poderia ser apenas um drama religioso se desenrola como um thriller político, carregado de tensão e reviravoltas. Edward Berger, diretor de ‘Nada de Novo no Front’, conduz a narrativa com precisão cirúrgica, equilibrando a solenidade dos rituais com a natureza humana dos cardeais. Sua direção extrai o máximo da ambientação claustrofóbica e misteriosa do Vaticano, explorando cada detalhe dos procedimentos, das alianças forjadas nos bastidores e dos olhares dos cardeais que sempre parecem esconder algum significado, alguma ambição.

A minúcia com que Berger retrata os ritos do conclave é um dos pontos altos do filme. O fascínio e curiosidade geral pelo que acontece por trás das portas fechadas da Santa Sé é explorado com inteligência, acreditando estar dando ao espectador um raro vislumbre dos bastidores dessa escolha histórica. Cada etapa da votação é explicada minuciosamente e mostrada com um misto de reverência e tensão.

Ralph Finnes está merecidamente indicado ao Oscar de Melhor ator, assim como Isabella Rossellini está indicado ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. A atriz interpreta a Irmã Agnes, que por natureza, aquele ambiente, é mais reservada e quieta. Mas quando tem algo a dizer, presenciamos o poder tanto da personagem quanto de sua atriz.

Com um elenco afiado e uma atmosfera carregada de suspense, ‘Conclave’ traz meros homens responsáveis por representarem o divino. Uma dicotomia atual e que pode gerar debates interessantes no público.