Expectativa é que no pós-pandemia as pessoas estejam alinhadas à um novo estilo de vida
A quarentena para evitar a proliferação do coronavírus Covid-19 já passou de dois meses e, apesar disso, o cenário atual não apresenta dados positivos. O número de infectados aumenta a cada dia, sobretudo na maior capital do país, São Paulo. Com base nas estatísticas, prefeitos e governadores têm trabalhado com diversas medidas para manter a população em casa, a exemplo do estado de São Paulo, que sancionou na semana passada a antecipação de dois feriados que seriam prolongados (11 de junho – Corpus Christi, e 9 de julho – Dia da Revolução Constitucionalista) e a prorrogação da quarentena até o dia 30 de junho, com a adoção da “quarentena inteligente”.
“É perceptível o quanto os brasileiros já estão abalados com a questão do isolamento social, que agride não somente a economia do país e do mundo, mas também o estado psíquico de cada indivíduo”, apontou o professor Carlos Afonso, autor do livro Organize suas finanças e saia do vermelho. “Apesar de haver uma certa flexibilização da retomada das atividades econômicas, a continuidade da quarentena aumentará ainda mais os impactos econômicos e o desemprego”, completou.
Números desanimadores
Logo no início da pandemia, as empresas rapidamente adotaram uma estratégia de precaução e reação aos prejuízos financeiros que, inevitavelmente, seriam ocasionados. Milhares de trabalhadores foram dispensados, tiveram contratos suspensos ou salários reduzidos. No mundo inteiro, parques fabris foram paralisados; o setor aéreo e de turismo em um piscar de olhos foi à deriva, por exemplo. Somente segmentos de primeira necessidade continuaram em operação, ainda que em esquema de revezamento e adotando todos os meios necessários de prevenção.
Sobre as atividades produtivas, a projeção é que cerca de 3 milhões de postos de trabalhados sejam fechados até o início de junho. Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, por meio do Pnad – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, o desemprego atingia 12,3 milhões de brasileiros no final do primeiro trimestre do ano. Logo, serão mais de 15 milhões de pessoas sem ocupação.
A FecomercioSP – Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo –, estima as perdas no varejo paulista, em mais de R$ 44 bilhões.
Uma mudança de mentalidade
O fato é que o brasileiro vive um momento de intensa reflexão e mudança de comportamento, inclusive, sobre consumo, finanças e trabalho. Estamos diante do “novo normal”, no qual se intensificou a integração digital entre empresas e consumidores; serviços de e-commerce e delivery estão ainda mais estratégicos; o trabalho home-office mostrou o quanto pode ser eficiente e veio para ficar, uma vez que muitas empresas perceberam o quanto podem economizar com isso.
Após a recessão, tenha certeza de que o quadro de funcionários se manterá reduzido, tendo as empresas preferência pela contratação de colaboradores mais polivalentes e com novas competências e, ainda, com capacidade de gerir responsabilidades e equipes à distância.
Neste momento, os brasileiros foram forçados a enxergarem a necessidade de se ter um planejamento financeiro. Desta forma, analisar as despesas mensais e estabelecer novos costumes de consumo nunca foi tão prioritário.
“Para quem perdeu o emprego ou teve o salário reduzido, certamente, teve o orçamento doméstico comprometido e sem aviso prévio. Neste caso, para não se endividar é momento de readequar o padrão de vida a uma nova realidade, afinal de contas, ainda que vençamos o Covid-19, o mundo levará um bom tempo para se recuperar do baque que estamos sofrendo”, disse o professor Carlos, destacando que o “novo normal” tem uma relação direta com o consumo sustentável e consciente, com a redução do endividamento das famílias, com maior consciência em relação à necessidade de se ter uma reserva de emergência para as contingências, (inclusive, a pandemia está aí para provar que essas emergências podem ocorrer quando menos se espera), e com um padrão de vida que seja condizente com a categoria econômica do indivíduo.
Hora de repensar e replanejar
Quando antes a pessoa reduzir os gastos que são supérfluos ou desnecessários, mais tranquila será a passagem por esse período turbulento. “Não titubei, não relute, não deixe para o dia seguinte a análise e reajuste das despesas que possui. Quanto mais tempo se postergar para essa decisão, pior e mais difícil será a adaptação a essa nova realidade”, afirmou professor Carlos.
Outro ponto importante que foi destacado pelo professor Carlos é que a pandemia, mais cedo ou mais tarde, terminará, quer pela descoberta da vacina, quer pelo isolamento social. Porém, outras crises virão, já que elas são cíclicas na história. “Estar bem preparado para esses ciclos e, consequentemente, para os desafios que eles trazem para o ser humano, nos ajudará a atravessar as tempestades da melhor forma possível. É preciso se adaptar ao novo normal”, encerrou ele.