Redação

A Secretaria Municipal de Educação renovou Acordo de Cooperação com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha na segunda-feira (23/08) para implantação do Programa Acesso Mais Seguro em escolas da Rede Municipal de Ensino localizadas em áreas impactadas pela violência armada. O programa tem como objetivos mitigar riscos, orientar professores e alunos; planejar ações em conjunto nas unidades escolares e nos territórios; prevenir a evasão escolar, entre outras ações. A assinatura do acordo ocorreu no Espaço de Desenvolvimento Infantil Medalhista Olímpico Willian Arjona, na Maré.

— Nossa gestão trata como prioridade a segurança dos nossos alunos e profissionais. Trabalhamos intensamente para oferecer as melhores condições de ensino e aprendizagem para a comunidade escolar. Esta parceria com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha nos ajuda muito a preparar nossas equipes para lidarem da melhor forma possível com questões relacionadas à violência urbana, uma realidade que, infelizmente, está presente em muitas áreas da cidade — destacou o secretário municipal de Educação do Rio de Janeiro, Renan Ferreirinha.

Além disso, será iniciado o treinamento do Comportamento Mais Seguro para as Unidades Escolares da Rede localizadas nas demais áreas. Estiveram presentes o chefe do escritório do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no Rio, Paulo Roberto Oliveira; o secretário municipal de Educação do Rio de Janeiro, Renan Ferreirinha, entre outros profissionais de educação. Fundamentalmente, a finalidade do convênio é a implementação da Metodologia de Acesso Mais Seguro para Serviços Públicos Essenciais, por meio de treinamento e preparação dos profissionais e alunos das escolas municipais.

— A metodologia AMS vem demonstrando que, quando aplicada adequadamente, mitiga as consequências da violência armada na população. Os números mostram isso e esperamos com essa parceria contribuir com a comunidade escolar do Rio de Janeiro — afirmou Paulo Roberto Oliveira, chefe do escritório do Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Rio de Janeiro.

O CICV tem como missão proteger a vida e a dignidade das vítimas de confrontos armados e outras situações de violência. O AMS tem o objetivo de mitigar os impactos que a violência armada possa causar nas unidades escolares.

Ana Estela de Sousa Pinto (Folhapress)

Quem esperava ser protegido da Covid pela imunidade coletiva pode esquecer e tomar logo sua vacina, afirmam especialistas de algumas das principais universidades europeias, com base nos dados disponíveis até agora.

A variante delta, duas vezes mais contagiosa que o Sars-Cov-2 original, enterrou (ao menos por enquanto) as chances da chamada imunidade de rebanho -aquela em que o número de pessoas protegidas contra infecção é grande o suficiente para conter a circulação do vírus.

Quando os primeiros casos de Covid surgiram, cientistas calcularam que essa imunidade coletiva poderia ocorrer quando cerca de 70% de uma população estivesse protegida. Mas essa sempre foi uma aproximação, presumindo muitas coisas e ignorando outras mais", diz Samir Bhatt, professor da escola de saúde pública do Imperial College de Londres.

A porcentagem deriva de dados como a proteção fornecida pela vacina contra a infecção (diferente da eficácia contra doença grave e morte) e a capacidade intrínseca de propagação do vírus, ambos ainda não totalmente conhecidos ou em transformação.

Outro fator de imprecisão é que a transmissão varia fortemente de acordo com o comportamento humano: o vírus circula mais se as pessoas se encontram mais, por mais tempo e com menos barreiras -e essa variável também está em constante mudança ao longo do tempo.

As pesquisas iniciais indicavam que o Sars-Cov-2 passava de um infectado para duas ou três pessoas, mas essa razão de contágio subiu com o aparecimento da alfa e mais ainda com a delta, diz Raghib Ali, pesquisador clínico sênior da Unidade MRC de Epidemiologia da Universidade de Cambridge (Reino Unido).

"Cada vez que esse número aumenta, sobe também a porcentagem calculada para imunidade de rebanho", diz o pesquisador. O novo mutante, indicam os cientistas, é capaz de passar de uma pessoa para cerca de seis ou sete.

Na ponta do lápis, com essa taxa de contágio, a imunidade de rebanho seria de cerca de 85%, mas apenas se a vacina ou a recuperação de um caso de Covid prevenissem completamente as infecções, o que não ocorre.

"A chegada da delta foi realmente uma virada de jogo", diz o virologista Jeroen van der Hilst, professor de imunopatologia da Universidade de Hasselt (Bélgica).

Além de o mutante ser muito mais contagioso, os dados indicam que indivíduos vacinados podem ser infectados e infectar outros, diz ele. "Isso significa que o vírus pode circular em uma comunidade com um grande número de pessoas vacinadas. Com essa noção, temos que concluir que a imunidade de rebanho não é mais possível."

Duração da imunidade Para o professor emérito de estatística aplicada da Open University (Reino Unido) Kevin McConway, os dados já disponíveis sobre a barreira das vacinas ao contágio são insuficientes para estimar qual seria uma imunidade coletiva para a Covid, seja qual for a variante que predomina.

"Muitos cálculos são indiretos: estima-se a eficácia contra infecção assintomática, por exemplo, e, em seguida, fazem-se suposições sobre a probabilidade de um assintomático transmitir o vírus a outra pessoa. Há várias fontes diferentes de incerteza aqui, então as estimativas não são muito boas", diz ele.

A mesma falta de informação existe para os que desenvolveram imunidade natural, por terem sido infectados, e para o caso dos que tiveram Covid e foram também vacinados.
Além disso, acrescenta o estatístico, ainda não há certeza sobre quanto tempo dura a proteção causada por vacinação ou por infecção natural.

"Imagine que atingimos a imunidade coletiva, mas a defesa das pessoas desaparece completamente dois anos depois. Como a imunidade de rebanho significa apenas que qualquer surto será pequeno e será contido rapidamente, ainda haverá alguma infecção depois desses dois anos. Se a defesa das pessoas diminui, eles se tornam suscetíveis novamente e os surtos podem se espalhar novamente e se tornar perigosos", exemplifica McConway.

Ali, de Cambridge, também aponta a questão da eficácia das vacinas como uma das barreiras para a proteção coletiva. Os números variam de acordo com a marca do imunizante e o esquema de aplicação, mas "é provável que na maior parte dos países ela fique abaixo dos 80%", diz.

Isso quer dizer que, mesmo que 100% de uma população fosse completamente vacinada, a barreira de 85% para se obter imunidade coletiva não seria atingida. O pesquisador faz uma comparação com o sarampo, uma doença também altamente infecciosa, cuja porcentagem de proteção necessária para a imunidade de rebanho é de 95%.

O vírus do sarampo, porém, não sofre as rápidas mutações do Sars-Cov-2, e as vacinas são praticamente 100% eficazes para evitar a transmissão. Nesse caso, se 95% das crianças são vacinadas contra o patógeno, ele não se espalha mais nessa população.

No caso da Covid, "com o declínio da imunidade, a evolução contínua do coronavírus, um retorno à normalidade no comportamento das pessoas, a expectativa de que a doença desaparecerá porque atingimos um limite é ilusória", diz Batt, do Imperial College.

Vacinação fundamental

Para o diretor do instituto de genética da UCL de Londres, François Balloux, há um único benefício -inexplorado- dessa impossibilidade. "Isso deve acabar com as guerras culturais em torno das vacinas. As pessoas devem ser encorajadas a se vacinarem, mas, no final das contas, o objetivo principal da vacinação agora é proteger a si mesmas, não a outros. Então, viva e deixe viver", afirmou ele em rede social.

Ou seja, tomar a injeção não se trata mais de um dever em relação aos outros (para garantir a proteção coletiva), mas uma proteção para si mesmo: "Não haverá nenhuma 'barreira de imunidade de rebanho' para se esconder atrás".

E, dizem os cientistas, os fármacos podem não impedir totalmente o contágio, mas reduzem sensivelmente as mortes.

McConway prefere não afirmar categoricamente que a imunidade coletiva é impossível, mas também vê como conclusão óbvia que, "seja qual for essa resposta, devemos continuar vacinando as pessoas rapidamente e coletar mais dados".

Mesma opinião tem Van der Hilst, para quem os governos devem almejar a vacinação completa da população. "A boa notícia é que tanto as vacinas quanto uma infecção anterior protegem quase completamente contra Covid grave."

Ainda que não elimine a circulação do coronavírus, a proteção mais ampla controla a velocidade de circulação do patógeno, reduzindo o risco de novas mutações. "Quanto mais gente for vacinada, mais estabilidade haverá", diz Ali.

Segundo o pesquisador de Cambridge, uma proteção melhor poderá vir da nova geração de imunizantes que estão sendo aplicados, com aplicação pelo nariz. Cientistas acreditam que ela terá eficácia maior também contra a infecção, além de contra a instalação da doença.

Por outro lado, não é possível descartar o risco de que apareça uma nova variante do Sars-Cov-2 com capacidade ainda maior de escapar da imunidade fornecida pela vacina, disse na semana passada o chefe do grupo de vacinas da Universidade de Oxford, Andrew Pollard, em audiência no Parlamento britânico.

"Suspeito que o que o vírus vai lançar a seguir uma variante que talvez seja ainda melhor na transmissão em populações vacinadas. Portanto, esse é um motivo ainda maior para não fazer políticas públicas em torno da imunidade de rebanho."

Em comentário sobre as declarações de Pollard, o professor de saúde pública Paul Hunter, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), disse que "a ideia de que os que não foram vacinados terão proteção indireta daqueles que já estão imunizados é simplesmente inatingível".

Alexandre de Aquino (Folhapress)

O polêmico passaporte de vacina contra Covid-19, que a cidade de São Paulo planeja tornar obrigatório a partir do próximo dia 30 para permitir a entrada em eventos como feiras e jogos, e opcional em bares, restaurantes e shoppings centers, é importante para pressionar as pessoas se imunizarem, dizem especialistas ouvidos pelo Agora. Mas os médicos alertam que a medida só ajudará no combate ao vírus se a imunização for completa. Ou seja, é preciso exigir as duas doses ou a dose única da vacina da Janssen.

O infectologista Alexandre Naime, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Botucatu (238 km de SP), vê que a decisão pode ter um ponto positivo, se considerada a possibilidade de aumentar o número de vacinados na capital paulista.

"Se for incentivar a vacinação ou estimular as pessoas até dando desconto em lojas, por exemplo, é bom", diz. "Mas do ponto de vista de proteção individual é um discurso que pode ser até perigoso. É preciso deixar muito claro que vacina é importante para evitar quadros graves, mas que as pessoas não estão protegidas completamente, nem contra quadros leves e podem, inclusive, transmitir o vírus", afirma o médico.

"A vacina contra Covid não é, por exemplo, igual à da febre amarela, que você toma e pode se expor em um ambiente altamente suscetível de transmissão", diz. "É por isso que a gente insiste que é importante manter um conjunto de medidas, como uso de máscara, no isolamento e distanciamento social", diz.

Mônica Levi, diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), tem opinião semelhante. "É uma medida que deu certo na França, onde jovens que não estavam imunizados foram atrás da vacina para poder frequentar baladas. Pessoas que não querem aderir à vacinação, seja lá qual for o motivo, têm que ter seus direitos tolhidos porque elas colocam outras pessoas em risco", afirma. Ambos, contudo, contestam o passaporte como uma forma de ajudar no controle da pandemia.

"No cenário que temos variantes que mostra que vacinas têm uma proteção baixa com a primeira dose, em torno de 30%, a gente só considera que a pessoa tem alguma proteção efetiva, 15 dias depois da segunda dose ou da aplicação da Janssen, que é de dose única", afirma Mônica Levy sobre a importância do ciclo completo de vacinação.

"O Rio de Janeiro é o primeiro estado com o maior número de casos com a variante delta e São Paulo é o segundo. É uma variante de alta transmissão, inclusive, em ambientes abertos, não estamos nem falando de lugares fechados. Estamos diante de um cenário em que vemos Israel e Estados Unidos na quarta onda, voltando atrás com as medidas de flexibilidade. E podemos seguir o mesmo caminho", afirma a médica.

Os moldes de como a medida vai funcionar na cidade ainda não estão definidas. Questionado na manhã desta segunda-feira, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse em entrevista que bares e restaurantes teriam que exigir comprovante de vacina a partir da próxima segunda-feira (30) e que a prefeitura está desenvolvendo um aplicativo para ser usado por clientes e estabelecimentos. No início da noite, a prefeitura recuou e o secretário de saúde, Edson Aparecido, disse que para a obrigatoriedade se aplicaria somente a jogos, feiras e congressos e que para os demais casos seria apenas uma recomendação.

A medida não foi bem recebida pela Abrasel (associação de bares e restaurantes). Segundo disse à Folha o presidente da entidade, Paulo Solmucci, não há condições de operacionalizar a regra. Ele diz que a entidade está aguardando a prefeitura anunciar os detalhes concretos da medida para reagir e pedir uma revisão da decisão.

Em nota no fim da noite de segunda, a Secretaria Municipal da Saúde disse que o passaporte da vacinação ainda é um tema que está em estudo na Covisa (Coordenadoria de Vigilância em Saúde) e "que quando seu protocolo estiver concluído será amplamente divulgado".

"Deve ser obrigatória a exigência do comprovante de vacinação para frequência de pessoas em grandes eventos, como feiras, congressos e espetáculos e facultativa para locais de fluxo e permanência eventual de pessoas, como bares, restaurantes e centros comerciais", diz a nota.

Redação

Em decreto publicado na edição do Diário Oficial do Município desta quarta-feira (18/08), o prefeito Eduardo Paes determina que a vacinação contra a Covid-19 é obrigatória para todos os servidores e empregados públicos municipais, assim como para os prestadores de serviços contratados pelos órgãos e entidades da Administração Pública Municipal, direta e indireta. De acordo com o texto, a recusa, sem justa causa, em submeter-se à vacinação caracteriza falta disciplinar, passível das sanções dispostas na Lei nº 94, de 14 de março de 1979 e no Decreto-lei n° 5.452, de 1º de maio de 1943.

A Subsecretaria de Gente e Gestão Compartilhada, da Secretaria Municipal de Fazenda e Planejamento, editará normas complementares para execução das disposições do decreto nº 49.286.

Júlia Barbon (Folhapress)

O Rio de Janeiro deve começar a aplicar a terceira dose da vacina contra a Covid-19 em idosos em setembro. A estratégia, no entanto, ainda depende do envio de imunizantes, já que a cidade teve que paralisar a campanha entre adolescentes novamente nesta segunda (23).

O reforço foi recomendado pelo comitê científico da prefeitura e confirmado pela Secretaria Municipal de Saúde. A ideia é iniciar pelas pessoas em instituições de longa permanência, como asilos e casas de repouso, e depois ampliar pela idade, acima dos 60 anos.

"O calendário será elaborado e divulgado dentro de alguns dias. A previsão é de que a dose de reforço seja aplicada entre setembro e novembro, de forma escalonada para idosos que tenham tomado a segunda dose há pelo menos seis meses", informou a pasta.

A medida deve acontecer simultaneamente à vacinação dos adolescentes, e serão usados os imunizantes da Pfizer e da AstraZeneca, independentemente do fabricante da primeira e segunda doses.

O prefeito Eduardo Paes (PSD) já havia sinalizado a decisão na última sexta (20): "Nós preferimos fazer a terceira dose das pessoas mais velhas do que antecipar a segunda dose dos mais jovens. Esta vai ser a posição da prefeitura", declarou ele em entrevista coletiva.

O avanço da variante delta e a perda de imunidade entre os idosos que tomaram as duas doses preocupam especialistas. As internações e mortes estão aumentando há mais de um mês nas faixas de 80, 70 e 60 anos no Rio de Janeiro, segundo uma projeção feita pela Fiocruz.

Há uma discussão, porém, sobre o momento em que esse reforço deveria ser dado, já que a maioria dos estados brasileiros ainda não vacinou nem 25% da sua população com a segunda dose.

Na última quinta (19), o ministro Marcelo Queiroga afirmou que a terceira dose só deve começar no país após todos os adultos completarem o esquema vacinal, dando como previsão no mínimo o mês de outubro, com a priorização de idosos, profissionais de saúde e imunossuprimidos.

O infectologista Julio Croda, porém, defende que isso deveria ser feito simultaneamente. "O impacto no PNI [Programa Nacional de Imunizações] seria mínimo, porque são apenas 4 milhões de pessoas acima de 80 anos e imunossuprimidos, com um número ainda menor de profissionais da saúde acima de 60 anos", disse o pesquisador da Fiocruz em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo nesta segunda.

A entrevista foi compartilhada por Eduardo Paes nas redes sociais com a legenda "Vai vendo. Pra ontem @minsaude!". Ele tem pressionado publicamente o governo federal a priorizar o Rio de Janeiro no envio de vacinas, por ser o "epicentro da pandemia" pelo avanço da delta.

A falta de doses vem travando a campanha de vacinação de tempos em tempos na capital fluminense. Nesta segunda, por exemplo, estava prevista a aplicação em adolescentes de 17 anos, mas ela teve que ser adiada para esta terça (24).

No sábado (21), a repescagem também teve que ser reduzida. "Considerando que [...] não há informação até o momento de quando o envio das doses em estoque no Ministério da Saúde será feito, a Secretaria Municipal de Saúde se vê obrigada a suspender a repescagem para o grupo de 20 a 29 anos", informou a prefeitura.

Todas as regiões da cidade seguem classificadas como de risco alto para a doença. Os leitos de UTI estão com 95% de ocupação, e os hospitais públicos e privados já reabrem vagas. O número de internados graves saltou de 359 para 465 em menos de duas semanas no município, de 31 de julho a 11 de agosto.

"Nunca antes, no ano de 2021, nós tivemos tantas pessoas com Covid no Rio de Janeiro como neste momento. Este é um dado relevante e todos nós que vivemos aqui percebemos isso. Pessoas próximas, familiares, amigos. Eu, pessoalmente, nunca vi tanta gente com Covid no meu entorno como estou vendo", declarou Paes na sexta.

Apesar disso, ele não restringiu atividades. As regras atuais proíbem apenas o funcionamento de casas de show e boates, que, no entanto, têm aberto com frequência. Comércios, serviços, restaurantes e bares estão permitidos sem limitação de horário desde abril, incluindo rodas de samba e música ao vivo.

Paes também afirmou nesta segunda que deve manter a decisão de começar a flexibilizar as medidas de restrição em setembro, como ele havia anunciado no fim de julho. Ainda não ficou claro, porém, se ele seguirá os mesmos critérios divulgados na época, com a liberação de pessoas vacinadas em estádios e boates.

Júlia Barbon (Folhapress)

Com o avanço da variante delta e o relaxamento das medidas de restrição, o Rio de Janeiro já tem seis cidades com suas UTIs de Covid-19 lotadas. A pressão do aumento de casos e internações faz com que tanto a rede privada quanto a pública corram para reabrir leitos.

No estado como um todo, a ocupação subiu de 59% para 70% nos últimos 20 dias. Os municípios com todas as vagas cheias são Itaguaí (região metropolitana), Nova Friburgo, Cantagalo (região serrana), Bom Jesus do Itabapoana, Itaperuna e Miracema (noroeste fluminense), segundo os dados mais recentes, desta segunda (16).

Isso significa que uma a cada sete cidades fluminenses que possuem UTIs estão saturadas. Esses locais somam apenas 116 dos 1.922 leitos públicos do estado (0,8%), mas dão um sinal de que a piora pode se espalhar, uma vez que a cepa identificada primeiramente na Índia, mais transmissível, já é predominante e foi detectada em todas as regiões.

"Estamos observando que os municípios com mais dificuldade na vacinação, principalmente de idosos, estão com aumento. Outros com mais adesão ainda não tiveram tanto impacto nos números, apenas mais casos leves por conta da variante", diz Carlos Vasconcellos, representante do sindicato de médicos (Sinmed/RJ).

O Rio de Janeiro encabeça uma tendência de piora em todo o país e é a principal preocupação de pesquisadores em saúde pública neste momento -seguido por outros estados das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste em geral, que agora não estão mais em queda.

Uma projeção feita pela Fiocruz mostra que as hospitalizações já sobem em quase todas as faixas etárias no RJ, mas de forma bem mais intensa na população de 60 anos ou mais. "Também tem tido muita internação de gente com apenas uma dose, que segura a delta. É preciso correr com a segunda dose", afirma o médico.

Três dos seis municípios com UTIs lotadas, por exemplo, haviam vacinado inteiramente apenas metade dos seus octogenários até o último domingo (15), faixa etária que deveria estar com a cobertura completa. Itaperuna havia imunizado 43%, Itaperuna, 49%, e Miracema, 55%.

Para tentar acelerar esse processo, a Secretaria de Saúde Estadual publicou uma nota técnica nesta segunda recomendando a intercambialidade de vacinas, ou seja, que quem tomou a primeira dose da AstraZeneca (que está em falta) receba a segunda dose da Pfizer.

Outras três cidades fluminenses também preocupam pela alta ocupação de UTIs: Rio de Janeiro (95%), Teresópolis (94%) e Duque de Caxias (91%). A capital tem visto os números subirem mesmo com uma alta cobertura da primeira dose e com a ampliação da quantidade de leitos.

"O aumento na pressão da rede se dá pelos municípios do entorno. A Baixada Fluminense é o lugar que mais preocupa, porque a vida está normal, com pouco uso da máscara, e a cobertura vacinal é baixa. Mas ainda não há desasistência na rede pública nem privada, há mais casos nas emergências", diz Vasconcellos.

Com o avanço da vacinação e o arrefecimento das curvas da Covid nos últimos meses, muitas vagas nos hospitais haviam sido direcionadas para outros tratamentos. Agora, com o receio da delta, estão sendo redirecionadas para a doença novamente.

Na rede muncipal, foram 60 leitos revertidos até agora e na estadual, mais 20. O governo Cláudio Castro (PL) decidiu acionar o Plano de Contingência da Covid-19, que prevê medidas a partir de níveis de cenários epidemiológicos, ponderando que elas "são preventivas em virtude da identificação de um aumento, ainda pequeno, de casos".

O plano também prevê um chamamento público para contratação de 150 vagas na rede privada, em análise jurídica e previsto para ser publicado em duas semanas, e cancela a decisão de transformar o Hospital Regional Zilda Arns (Volta Redonda) em unidade não-Covid.

Mudanças também estão sendo feitas nas unidades particulares. "A rede privada tem capacidade de se adaptar mais rapidamente. Eu diria que já houve um aumento de pelo menos 20% das UTIs em relação a julho, e podemos diminuir as cirurgias eletivas e abrir mais", diz Graccho Alvim, diretor da principal associação de hospitais privados do RJ.

Segundo o pediatra, a ocupação da rede particular da capital fluminense passou de 62% na semana passada para 70% agora. No estado, está em cerca de 60%. A procura por emergências também subiu aproximadamente 40% em duas semanas, ele calcula.

"A maior parte dos internados são idosos que não se vacinaram por opção. Depois, pessoas mais jovens também sem vacinação. Em terceiro lugar estão as pessoas com apenas uma dose, entre os 40 e 60 anos, e por último os idosos que tomaram a segunda dose há mais de seis meses. Estamos notando que a imunidade cai nesse intervalo, por isso está se discutindo uma terceira dose", afirma Alvim.

A prefeitura tem usado os dados para pedir que o governo Jair Bolsonaro (sem partido) priorize o envio de vacinas e abra vagas nos hospitais federais –90 delas serão disponibilizadas nesta semana, segundo Soranz. Na última sexta (13), o prefeito Eduardo Paes (PSD) chamou a cidade de "epicentro da Covid".

"O epicentro da pandemia no Brasil em relação ao aumento de casos é o Rio. O que aconteceu em todos os momentos em que esse epicentro esteve no Maranhão, em Manaus, no Rio Grande do Sul? Se entendeu que tinha que mandar mais doses", pressionou ele em entrevista coletiva.

Paes tem mantido medidas que proíbem apenas o funcionamento de casas de show e boates (que, no entanto, abrem com frequência). Comércios, serviços, restaurantes, bares, shoppings e cinemas já estão permitidos sem restrições de horário há meses, incluindo rodas de samba e música ao vivo.