Redação

No trabalho, o engenheiro civil Alan Caetano, de 43 anos, lida com força bruta. Ele faz parte da Coordenadoria Técnica de Operações Especiais (Coope), vinculada à Secretaria de Conservação, cuja equipe supervisiona a utilização de equipamentos pesados como retroescavadeiras e escavadeiras hidráulicas, fundamentais na demolição de construções irregulares. Mas, nas horas de folga, o servidor, que também atua na parte de fiscalização e tem 14 anos de Prefeitura, busca na natureza uma forma de aliviar o estresse: pratica a arte do bonsai, técnica oriental que consiste em miniaturizar plantas.

Alan conta que sempre gostou de plantas e se interessou pelo bonsai há cinco anos.

– No começo, achava que era uma arte restrita. Depois, descobri que bastava ter interesse em estudar, conhecer as espécies com as quais pretende trabalhar, saber sobre clima, cultivo… Praticar as técnicas é um caminho sem volta – diz ele.

O engenheiro civil faz do bonsai um misto de passatempo e fonte de renda alternativa:

– Sempre fui de muitas tarefas, mas, depois que me casei e tive um filho, mudei a rotina. Percebi que poderia ter uma atividade que pudesse compartilhar com a família.

Em casa, o servidor tem um acervo considerável: aproximadamente cem plantas para formar bonsai. Mas será que qualquer planta pode entrar nessa classificação? Com a palavra, o especialista, que há dois anos faz aulas com o mestre Paulo Henrique e é integrante da Associação de Bonsai do Rio de Janeiro.

– A definição de bonsai é: árvore plantada em vaso raso. Então, a espécie deve ser arbórea, com as características de uma árvore na natureza, só que em miniatura para viver em um vaso raso – explica Alan.

O técnico da Coope conta que prefere colocar a mão na terra:

– Não gosto de comprar plantas prontas e estou desenvolvendo meu acervo. Não tenho um bonsai favorito, ainda. Todos fazem parte da família, da mudinha até o mais antigo.

Para Alan, cultivar bonsai é como criar um animal de estimação, porque requer cuidados e atenção diários.

– Vira uma responsabilidade – admite. – Ter bonsai não é difícil. Não precisa morar em casa com quintal, por exemplo. Basta gostar de plantas e ter tempo para se dedicar a elas. É possível ter uma planta apresentável em um período de dois a três anos de cuidado.

Para quem quiser praticar a arte do bonsai, o especialista indica as espécies nativas da região onde a pessoa morar.

– As plantas nativas são mais fáceis porque já estão adaptadas em relação ao sol e ao clima, diferentemente das exóticas, vindas de outros lugares. Há casos de espécies que precisam ficar em estufa ou geladeira para simular o ambiente ideal – observa.

Diante de tanto amor e dedicação aos bonsais, será que Alan é do tipo que conversa com as plantas? O servidor dá risada.

– Não bato papo com as plantas, mas o fato de cuidar delas dá uma certa tranquilidade. O contato com a natureza, de modo geral, é relaxante – garante.

Redação

A Ronda Maria da Penha, da Guarda Municipal do Rio (GM-Rio), realizou em três meses de atuação, de março a junho deste ano, o atendimento a 179 mulheres vítimas de violência e 767 acolhimentos, que se caracteriza pelo atendimento humanizado por meio de visitas domiciliares ou por telefone. O projeto, iniciado em março, é realizado em parceria com o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) e conta com 31 guardas municipais e apoio de quatro viaturas adesivadas com faixas na cor lilás e a logomarca do programa.

Os agentes capacitados atuam na verificação do cumprimento de medidas protetivas deferidas pelos juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Capital. Os patrulheiros realizam os atendimentos com três agentes, sempre tendo, pelo menos, uma guarda feminina na equipe. A principal missão exercida pelos patrulheiros da ronda é a verificação do cumprimento das medidas protetivas, criadas para coibir atos de violência doméstica e familiar.

Após receber a notificação do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Capital, guardas municipais vão até a residência da mulher que teve a medida deferida para verificar se está sendo cumprida pelo agressor. Não se aproximar da vítima, não manter contato ou não frequentar determinados lugares estão entre as medidas protetivas mais utilizadas para evitar a repetição da violência contra a mulher.


Capacitação do efetivo –
 Os guardas municipais que integram o projeto participaram de curso de capacitação em 2020, que contou com palestras presenciais e por videoconferência, realizadas pela Academia de Ensino da GM-Rio em parceria com o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ). Ao longo da qualificação, que teve carga horária total de 54 horas, os patrulheiros tiveram aulas sobre técnicas de abordagem, acolhimento e acompanhamento da vítima; sobre a Lei Maria da Penha e seus aspectos jurídicos; abordagem psicossocial da violência; o direito das mulheres; rotinas e procedimentos legais; serviço de assistência social; entre outros assuntos.

 Além disso, os agentes tiveram palestras com outras instituições que já realizam este trabalho, como as Guardas Municipais de Mangaratiba, Macaé e Duque de Caxias; Polícia Militar, entre outras. Eles também participaram de estágio supervisionado com agentes da Guarda Municipal de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e acompanharam visitas a mulheres que possuem medidas protetivas deferidas. Os guardas também realizaram visitas a entidades que desempenham importante papel no atendimento às vítimas e na prevenção da violência, entre elas a Central Judiciária de Abrigamento Provisório da Mulher (Cejuvida) e o Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM).

Italo Nogueira (Folhapress)

Uma cratera cheia de água, contratos em reavaliação, estações mal conservadas com ônibus lotados de um lado e vagões de metrô vazios de outro. Uma mistura de falta de planejamento prévio, falhas na manutenção e agravamento da crise econômica fizeram com que o legado urbano da Rio-16 ainda permaneça sem aproveitamento total pelos cariocas quase cinco anos após a cidade sediar a Olimpíada.

Escolhida para ser um exemplo de melhorias urbanas proporcionadas pelo movimento olímpico, a cidade recebeu investimentos públicos e privados de cerca de R$ 40 bilhões para sediar os Jogos. Quase dois terços (64%) do total era voltado para melhorias na cidade sem relação direta com o evento. Principal entrega feita a tempo do evento, os corredores de ônibus -os chamados BRTs- foram temporariamente estatizados pela Prefeitura do Rio de Janeiro em abril. O município fez uma intervenção na empresa que administrava o serviço e planeja realizar um investimento de R$ 133 milhões no sistema antes de realizar nova licitação.

O sistema de BRTs custou cerca de R$ 4 bilhões de recursos dos governos federal e municipal e tinha como objetivo reduzir o tempo de deslocamento em áreas da cidade não cobertas por linhas de metrô ou trem. Cinco anos depois, está com estações degradadas (sendo 46 fechadas), frota insuficiente e passageiros sofrendo com coletivos lotados.

Ao anunciar a intervenção, o prefeito Eduardo Paes (PSD), que também estava no cargo à época dos Jogos, anunciou uma mudança completa em todo o sistema de transporte da cidade, incluindo a bilhetagem dos ônibus.

"A ideia é buscar a construção de um modelo sólido e imune a prefeitos irresponsáveis e incompetentes que possam vir no futuro para que não seja mais uma vez destruído o sistema do BRT", afirmou Paes, que atribui as falhas na manutenção dos corredores de ônibus ao seu sucessor pós-Jogos e antecessor Marcelo Crivella (Republicanos-RJ).

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Paes afirmou que essa e outras adaptações no legado são naturais. "Nunca disse que era um trabalho pronto e perfeito. É uma evolução. Tem ajustes. Há uma curva de aprendizado."

Na Gávea (zona sul), uma cratera onde seria construída uma estação de metrô tem ainda destino indefinido. Sem recursos, o governo estadual chegou a cogitar aterrar o buraco e desistir de concluir a obra, orçada em R$ 1 bilhão.

Atualmente, ela está inundada para evitar danos estruturais nos prédios do entorno. A Secretaria Estadual de Transporte vai realizar uma licitação para estabilização do terreno a fim de permitir a conclusão da obra no futuro.

A estação seria uma das oito da linha 4 do metrô, que liga a Barra da Tijuca à zona sul da cidade. Obra mais cara dos Jogos (R$ 10 bilhões), o sistema registrou uma utilização menor do que a estimada antes das obras.

Para justificar o traçado, que passa pela área mais rica da cidade e alterou os planos originais do estado, o governo estadual, na gestão Sérgio Cabral (2007-2014), afirmou que a nova linha teria uma demanda de 300 mil passageiros por dia. Outubro de 2019 foi o mês com maior média, de 177 mil usuários por dia. Com a pandemia, esse número caiu para 70 mil em abril deste ano.

Para Clarisse Linke, diretora-executiva do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, na sigla em inglês), o BRT e a linha 4 do metrô sofrem com problemas no modelo de financiamento do transporte público que não foram alterados na Olimpíada.

"O que o BRT sofre é, em grande medida, o que todo o sistema de transporte vem sofrendo com a crise econômica e a redução no número de passageiros, mesmo antes da pandemia. Isso impacta na receita e, por consequência, na operação e na capacidade de manutenção da frota. É uma estrutura cara de se manter", afirmou ela, que defende subsídio público para custear o sistema de transporte.

Linke diz também ter sido uma falha da gestão anterior de Paes ter concentrado diferentes serviços, como gerenciamento e operação da frota, bilhetagem, e administração de terminais, num mesmo contrato. A Secretaria Municipal de Transportes prepara uma nova licitação para separar a concessão desses serviços do BRT.

A diretora do ITDP avalia que o metrô, por sua vez, é atingido pela falta de integração de tarifa com os ônibus, tornando a passagem cara para quem usa dois meios de transportes. Acordos que dependiam de investimentos privados e aliviaram os cofres municipais na preparação para o evento também estão sendo revistos pelo município.

A revitalização da zona portuária está praticamente parada há dois anos em razão da falta de retorno do investimento de R$ 5 bilhões feito com recursos do FGTS por um fundo imobiliário gerido pela Caixa Econômica Federal.

Em razão da crise econômica desde 2014, o fundo não conseguiu vender os títulos que permitem a construção de prédios altos na região –pelo qual obteria o retorno do investimento. Assim, o fundo da Caixa ficou sem dinheiro para repassar à prefeitura, que usava esses recursos para pagar a Concessionária Porto Novo para fazer a manutenção na área. As obras e o nível do serviço a serem prestados na região portuária estão em reavaliação, e as promessas devem ser reduzidas para conseguir destravar as melhorias.

O resultado foi que a área, que deveria atrair novos moradores para o centro, segue desocupada. Em razão da pandemia e do fechamento de escritórios comerciais, a praça Mauá revitalizada e todo seu entorno renovado está praticamente às moscas.

Novos anúncios recentes de empreendimentos imobiliários foram feitos, tendo em vista a expectativa de melhora na economia para o ano que vem, após a vacinação. "É um espaço pronto para crescer. Tivemos lançamentos [de empreendimentos imobiliários]. A coisa começa a renascer. O Brasil precisa crescer", disse Paes.

Para Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, coordenador do Observatório das Metrópoles, a concentração dos Jogos na zona oeste pressionou o investimento público numa área em que a ocupação não deveria ser estimulada, prejudicando o centro da cidade.

"É evidente que foi um desastre ter sediado a Olimpíada e a Copa, tanto em função da natureza desse tipo de evento, a relação complicada com as cidades, e como isso acaba pressionando as cidades, tanto do ponto de vista financeiro quanto com as escolhas urbanas. Quase sempre não coincide com as necessidades das cidades", explica ele.

Paes afirma, porém, que os Jogos viabilizaram a aceleração da revitalização do porto, projeto há anos na gaveta do município. "Durante a Olimpíada pela primeira vez voltou-se a falar no centro e da região do porto", disse o prefeito.

Promessa abandonada já antes dos Jogos, a despoluição da baía de Guanabara só atingirá os níveis anunciados perto de 2030. Essa é a previsão das obras planejadas após a privatização da Cedae para alcançar uma taxa de 80% de esgoto tratado lançado no local.