Por: Cláudia Collucci

Diante da decisão do Ministério da Saúde de reduzir de dez para cinco dias o período mínimo de isolamento de pacientes assintomáticos com Covid-19, especialistas alertam que não há evidências suficientes de a nova regra seja segura.

Discussão semelhante ocorre nos Estados Unidos desde que o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) também encurtou o prazo para cinco dias, com a condição do uso de "máscara bem ajustada" por dez dias, além da necessidade de vacinação em dia.

Um estudo japonês publicado na semana passada sugere que uma quarentena de dez dias seria mais adequada para evitar transmissões de ômicron. Na pesquisa, uma das poucas feitas com a nova variante, metade das pessoas avaliadas tinha vírus ativo entre três e seis dias depois da da infecção. Entre sete e nove dias, 19% ainda podia transmiti-lo.

O infectologista Carlos Fortaleza, presidente da Sociedade Paulista de Infectologia, não vê sentido algum na redução do tempo do ponto de vista sanitário.

"Os estudos anteriores apontavam o pico de transmissibilidade no 5º dia e queda gradual até o 10º dia. O estudo japonês mostra que a provavelmente a ômicron se comporte como as outras variantes. A decisão do CDC e do Ministério da Saúde só é justificada pelas pressões econômicas."

Ele acha curioso o fato de o ministro Marcelo Queiroga seguir a recomendação do CDC na redução do tempo de isolamento e, ao mesmo tempo, não levar em conta quando o centro americano mostra que 18 milhões de crianças já foram vacinadas contra a Covid, sem nenhum efeito colateral grave. "É uma coisa bem seletiva, acreditar no que interessa."

Para o infectologista, reduzir o isolamento para cinco dias é "precipitar o caos". "O argumento pragmático dos especialistas que defendem a redução é que os hospitais ficarão sem gente para atender. Mas eu acredito que se mandarmos médicos, enfermeiros para atenderem pessoas enquanto estão transmitindo, vamos precipitar um problema que ainda não existe."

Na sua avaliação, apesar da alta taxa de pessoas de licença médica em muitos serviços de saúde, o país ainda não está no caos. "É claro que se chegarmos a um momento de colapso absoluto, vamos precisar mandar pessoas com Covid trabalharem para salvar vidas. Mas ainda não estamos nesse momento."

Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, também afirma que não existe consenso e nem uma base científica sólida que amparem a decisão de reduzir o isolamento para cinco dias.

"A percepção que nós temos é que essa é uma decisão de cunho econômico e financeiro. É até compreensível, a sociedade tem áreas essenciais que precisam funcionar, mas é uma decisão tomada de forma intempestiva e temerária, no caso do Brasil", diz ele.

Temerária dada às dificuldades de acesso a testes para a detecção da Covid. Muitas pessoas estão encontrando muitas dificuldades para realizá-los e há uma pressão para que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) libere os autotestes, amplamente usados no exterior.

"Temos um apagão de dados e, agora, um apagão de testes. É desumana uma recomendação como essa. A decisão é cômoda para quem escreve a norma, mas absolutamente insensível para quem está na ponta do sistema, tanto os profissionais quanto os pacientes."

Segundo ele, a maior pressão recaiu sobre o lado mais fraco, os trabalhadores. "O empregador não se responsabiliza, o laboratório não tem como fazer, as pessoas são jogadas num serviço de saúde que está caótico, a qualidade de muitos testes é sofrível."

Araújo explica que nos serviços de saúde, especialmente os privados, há muito retrabalho –ou seja, pessoas que receberam diagnóstico de Covid, voltaram a trabalhar, apresentaram sintomas novamente e retornam às unidades de saúde para retestagem.

"Seria mais prudente do ponto de vista sanitário, pelas dúvidas científicas que existem, que a gente preservasse os dez dias e que organizasse setor por setor, criasse um espaço na saúde suplementar para poder financiar e custear os testes e onde as pessoas podem fazê-los."

O infectologista Alexandre Zavascki, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, também tem a mesma opinião. Para ele, dez dias seria mais prudente já que, conforme mostra o estudo japonês, perto de 20% dos pacientes podem ter vírus capaz de transmitir até o nono dia.

"Após os cinco dias, tem muita gente voltando sintomático para trabalhar e podendo transmitir, ainda mais com a ômicron", diz.

Ele defende, porém, o isolamento de cinco dias poderia ser uma opção válida nas áreas essenciais, mas com todas as precauções. Por exemplo, estarem assintomáticas, com teste negativo e com medidas de proteção, como máscara do tipo PFF2.

"As áreas não essenciais poderiam continuar os dez dias porque aí você evita essas transmissões. Até porque não tem como avaliar todo mundo, testar todo mundo, tem que usar uma receita de bolo mesmo."

Com estudos em andamento para validar o isolamento por sete dias a partir do início dos sintomas, há especialistas que defendem esse período como o mais viável. É o caso da infectologista Rosana Richtman, médica do Instituto de Infectologia Emilio Ribas.

"No d6 [sexto dia de sintomas] ou d7 [sétimo dia] faz o teste de antígeno e, dando negativo, libera do isolamento, mas ainda assim usando máscara", diz ela, que já adota essa regra com seu grupo de trabalho na maternidade onde também atua.

Já se a pessoa não fez teste algum, ela defende dez dias de isolamento. "Cinco dias é um tempo curto. Mesmo nos EUA, eles reconhecem que vai escapar gente, mas, diante do fato de que já está faltando gente na saúde, no comércio, nos bancos, eles preferem isso à medida que a maioria não estará mais transmitindo no d5."

Para a médica, o grande problema da variante ômicron é anterior à saída do isolamento. "O pessoal tá demorando para entrar no isolamento. Enquanto não vê o resultado do teste, ele tá espalhando vírus 24 horas antes do início dos sintomas, no d0, no d1, no d2, que é o principal momento de disseminação. Estamos focando muito na saída do isolamento e não na entrada. Ali sim você tem uma grande carga viral."

Na sua opinião, embora haja a detecção do vírus no novo dia da infecção, conforme mostra o estudo japonês, a quantidade de carga viral é muito mais baixa e, em teoria, uma boa máscara usada adequadamente poderia segurar o contágio.

"Com a quantidade de casos que a gente está vendo, formos manter [os dez dias] fica bem complicado. Tem empresas praticamente fechando, serviços de saúde caóticos. Temos que ter bom senso."

A Prefeitura do Rio, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informa que continua em funcionamento, no Parque Olímpico da Barra, o centro de atendimento a pacientes com síndrome gripal. O local é recomendado para pessoas com sintomas como febre, calafrio, tosse, coriza, dor de garganta, dor de cabeça, alteração no olfato e/ou paladar. De acordo com a indicação médica, também é possível fazer o teste para Covid-19. A Secretaria de Saúde ressalta ainda a importância de a população procurar os postos para tomar a dose de reforço.

– Estamos aqui no Parque Olímpico para chamar as pessoas para se testarem contra a Covid-19. Felizmente, o número de casos de gripe vem diminuindo expressivamente. Temos 82% menos casos do que tínhamos na primeira semana de dezembro. Conseguimos bloquear esse surto de gripe justamente porque o carioca aderiu à vacina. Foram cerca de três milhões de pessoas vacinadas, um recorde, 600 mil a mais do que no ano anterior – disse o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.

A cidade conta com outros cinco centros de atendimento a pacientes com síndrome gripal. Com o sucesso da vacinação contra a gripe no ano passado, a Prefeitura começa em abril uma nova campanha de vacinação.

Para dar suporte ao público que for passar o réveillon na Praia de Copacabana, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS-Rio) contará com uma estrutura com três postos médicos equipados e preparados para o atendimento a casos de urgência e emergência. Durante a tarde do dia 31, as unidades funcionarão como pontos de vacinação contra a Covid-19, e à noite para a assistência aos pacientes que apresentarem situações de urgência: mal-estar, traumas, cortes, etc.

 

Dose de reforço esta semana é destinada a pessoas com 55 anos ou mais

 

Os postos estarão localizados na Avenida Atlântica, nas alturas das ruas Princesa Isabel e República do Peru e da Praça do Lido e serão preparados com recursos assistenciais para eventos com múltiplas vítimas. Cada posto terá área física em torno de 200 metros quadrados, leitos clínicos e outros com suporte avançado (com respirador, monitor, etc) e poltronas de hidratação, além de equipamentos, instrumentos e medicamentos para o atendimento de emergência.

A equipe assistencial contará com 28 médicos, 18 enfermeiros, 33 técnicos de enfermagem, além de 20 funcionários operacionais/administrativos, e mais 30 duplas de maqueiros para auxiliar as pessoas que precisarem a se deslocarem da pista/areia aos postos médicos. Para os casos mais graves, que necessitem de remoção para UPAs ou hospitais, haverá 30 ambulâncias com suporte de UTI móvel, disponibilizadas pela SMS-Rio e pela Riotur, e com equipes próprias (médicos, enfermeiros e motoristas). Desta forma, entre fixos nos postos e embarcados nas ambulâncias, serão ao todo 249 profissionais envolvidos na operação (incluindo 58 médicos e 48 enfermeiros), fora as equipes de vacinação.

Os três postos começarão a funcionar ao meio-dia da sexta-feira, 31 de dezembro, para a aplicação da vacina contra a Covid-19, seja para primeira dose (D1) daqueles que eventualmente ainda não tenham se vacinado, quanto para segunda dose (D2) e dose de reforço (DR). Com isso, a SMS-Rio amplia o acesso à vacina, para que todos tenham a oportunidade de serem imunizados, nos esforços para afastar de vez a pandemia. A vacinação será oferecida até as 17h e é preciso que a pessoa que for se vacinar apresente documento de identidade e CPF. Entre 17h30 e 4h do dia 1º de janeiro, os postos atenderão os casos de urgência e emergência.

A SMS-Rio reforça o alerta para que pais ou responsáveis fiquem atentos às crianças, que devem ter pulseira de identificação, além de cópias de identidade e número de telefone de contato para o caso de se perderem. Outras recomendações importantes para quem for ao evento são: moderar no uso de bebidas alcoólicas e tomar cuidado com as condições de preparo e preservação dos alimentos a serem ingeridos; não deixar de tomar os medicamentos de uso contínuo; não andar descalço.

A Secretaria Municipal de Saúde divulgou, nesta quinta-feira (6/1), o calendário de vacinação contra a Covid-19 para crianças.  De 17 de janeiro até 9 de fevereiro serão imunizados, de forma escalonada, meninas e meninos de 5 a 11 anos.

– Bora vacinar nossa molecadinha!!!! Tá aí o calendário deles!!!! – publicou o prefeito Eduardo Paes em suas redes sociais.

A vacina aplicada será Pfizer, a única autorizada até o momento para essa faixa etária. A imunização contra a Covid-19 é segura e têm eficácia comprovada contra o agravamento da doença.

A vacinação contra a Covid-19 de adolescentes e adultos segue na cidade do Rio nesta semana. Veja aqui quem pode ser imunizado.