Cláudia Collucci (Folhapress)

A regulamentação da telemedicina, que hoje funciona em caráter provisório, tem provocado um novo embate na classe médica opondo, mais uma vez, duas das principais entidades da categoria no país, o CFM (Conselho Federal de Medicina) e a AMB (Associação Médica Brasileira).

Ao longo da pandemia de Covid-19, ambas divergiram em relação ao tratamento precoce com medicamentos sem eficácia para a Covid A AMB se posicionou contra o uso, e o CFM deixou a critério dos médicos.

Agora, as divergências dizem respeito a uma questão central discutida tanto na elaboração de uma nova resolução do CFM sobre telemedicina quanto em projetos de lei que tramitam na Câmara dos Deputados sobre o tema: a obrigatoriedade de que a primeira consulta seja presencial.

Em debates virtuais sobre o assunto, o vice-presidente do CFM, Donizette Giamberardino Filho, tem defendido que a primeira consulta por telemedicina deva ser presencial. Em nota enviada à Folha, porém, a entidade disse que ainda analisa o assunto. Já AMB entende que essa decisão deva ser do médico e do paciente.

Há discussões também em torno da chamada territorialidade. Médicos poderiam fazer telemedicina em todo o país ou apenas nos estados onde possuam registro profissional? Hoje, além do certificado no estado onde atua predominantemente, o médico pode ter outros em locais onde também atende.

A questão é que agora, com a telemedicina, o médico pode atender, em tese, pacientes em qualquer lugar do país. A AMB defende que o profissional tenha autonomia para isso.
Giamberadino Filho, do CFM, tem opinado que se a primeira consulta for presencial, o acompanhamento depois poderia ser virtual, em qualquer lugar. Em nota, o CFM diz que ainda estuda o assunto.

"Essas ferramentas [de telemedicina] existem para beneficiar o paciente. Ainda temos limitações. Há situações em que eu, como médico, não vou conseguir resolver tudo [virtualmente]. Vou precisar do paciente presencialmente", explica o ginecologista César Fernandes, presidente da AMB.

Segundo ele, é o médico que, durante a primeira consulta virtual, deve arbitrar se vai precisar ou não de uma consulta presencial. "É decisão do médico, autonomia do médico. Se ele se aventurar a fazer uma proposição terapêutica sem ter todos os elementos necessários, ele será responsabilizado por isso. Não atenua a responsabilidade do médico se ele atender presencialmente ou por teleconsulta."

Pesquisa feita pela AMB com uma amostra representativa de 980 médicos mostra que 66% consideram que o profissional deve ter autonomia para decidir pela consulta virtual ou não e 62% dizem que ela não deve se restringir ao estado onde o médico possua o registro profissional.

Para Fernandes, o fato de parte da categoria defender que a telemedicina só seja exercida no estado de registro pode ser pelo fato de que há médicos em locais que não têm recursos tecnológicos para concorrer em condições iguais com outros de centros mais avançados.

"Talvez imaginem que vão ter prejuízo. Mas é um direito do paciente de querer passar onde quiser e com quem quiser. Senão daqui a pouco o médico vai ter que ter 27 CRMs para poder atender por telemedicina no país?", questiona.

O pediatra Clóvis Constantino, professor de ética médica e bioética da Unisa (Universidade Santo Amaro), lembra que uma questão que precisa ficar muito clara é que, para algumas especialidades médicas, a telemedicina funciona muito bem, mas para outras, não.

Ele sugeriu ao CFM que as 34 especialidades aprovassem a forma como a telemedicina poderia ser usada (ou não) em suas respectivas áreas. "É uma forma de utilizar a telemedicina com segurança. Na psiquiatria, por exemplo, há mais segurança [de uma primeira consulta virtual]. Mas, em outras, o exame físico, tocar no paciente, é muito importante."

Nesta quinta (8), às 14h, haverá uma audiência pública na Câmara dos Deputados para discutir projetos sobre a autorização da telemedicina e a segurança no uso de dados durante a prática.

Sob uma legislação provisória aprovada no início da pandemia e com validade até o fim da crise sanitária, a telemedicina já está sendo amplamente usada tanto em plataformas estruturadas, que obedecem a regras de sigilo e proteção de dados, quanto por meios informais, como aplicativos de mensagens.

Segundo dados da Saúde Digital Brasil, uma associação que representa os principais operadores de telemedicina do país, entre 2020 e 2021, mais de 7,5 milhões de atendimentos virtuais já foram realizados por mais de 52,2 mil médicos. A grande maioria (87%) deles foi das chamadas primeiras consultas.

Para Eduardo Cordioli, presidente da Saúde Digital Brasil, mais importante do que o volume dos atendimentos a distância, é o alto índice de resolutividade: 91% nas consultas avulsas de pronto-atendimento. "São pacientes que tiveram seu problema resolvido e não precisaram recorrer ao pronto-socorro. E 1% desses atendimentos foi essencial para salvar vidas", afirma.

Na opinião de Cordioli, limitar a utilização da medicina, seja determinando quando uma consulta deva ou não acontecer a distância ou impedindo que médicos atendam pacientes de outros estados, deixa a saúde mais vulnerável e anula as tentativas de se levar cuidados às regiões até então pouco assistidas.

Na pesquisa da AMB, 56% dos médicos dizem que já estão atendendo a distância e 59% pretendem continuar após a pandemia. Uma outra pesquisa da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar) também mostra ampla utilização da telemedicina pelas empresas de assistência médica e odontológica.

Em debate virtual recente promovido pela Anahp (Associação Nacional dos Hospitais Privados) sobre o novo papel dos médicos com a telemedicina, um dos pontos abordados foi a sobre a Lei Geral de Proteção de Dados, que deverá ser seguida à risca pelos profissionais que fazem consultas virtuais.

"A pandemia acelerou os processos de saúde digital e o avião já decolou. É muito importante estabelecer regras, princípios éticos para que essa implantação seja dentro do que imaginamos como adequada", disse Giovanni Cerri, presidente do conselho do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.

"É preciso entender que consulta por WhatsApp não é telemedicina", disse Giamberardino, do CFM. Ele afirmou que o conselho está estudando formas de proporcionar aos médicos meios de prescrição e assinatura digital seguros, já inclusos na mensalidade.

Outra questão é a capacitação dos médicos. Segundo Chao Lung Wen, professor associado e chefe da disciplina de telemedicina da USP, apenas 12 das 340 universidades com curso de medicina no Brasil possuem aulas voltadas para a telemedicina.

Uma preocupação levantada pelos participantes é que a telemedicina não deve ser usada pelos gestores públicos e privados de saúde como forma de reduzir custos e, por exemplo, deixar de investir em estruturas locais necessárias.

"É irresponsável achar que a telemedicina substitua tudo. Se uma gestante estiver apresentando sangramento, por exemplo, pode ser necessária uma intervenção, então é preciso ter estrutura física", afirmou.

Para os locais remotos, ele defende uma combinação de unidades móveis de deslocamento e telemedicina. Nessas regiões distantes, em que não há médico, Giamberardino diz que a primeira consulta poderia ser virtual. "Mas deve ser a exceção, não a regra."

CFM DIZ QUE AVALIA PONTOS POLÊMICOS COM RIGOR E CRITÉRIO

Em nota encaminhada à Folha, o CFM disse que questões como a exigência de uma primeira consulta presencial (ou não) ou a definição de territorialidade "estão sendo avaliados, com rigor e critério, a partir de considerações feitas por todos os setores envolvidos."

"Esse esforço tem sido conduzido de modo exaustivo para que o Brasil ganhe uma norma que permita o exercício da telemedicina com lastro em princípios éticos, técnicos e legais", diz.

Sobre a norma que ainda está em discussão no âmbito do CFM, destaca que tem procurado ouvir os conselhos regionais de medicina, as sociedades médicas de especialidade e especialistas renomados para construir um normativo que atenda aos interesses dos pacientes e dos profissionais. Sugestões encaminhadas por meio de consulta pública também estão sendo analisadas, segundo o CFM.

"É preciso lembrar que a telemedicina não vem para substituir a presença do médico, mas para melhorar a qualidade do serviço prestado, bem como o seu acesso. Dentre os princípios abordados na revisão está a autonomia do médico e do paciente. A valorização dessa relação é fundamental para o estabelecimento da confiança interpessoal", diz o conselho.

O CFM reitera também que já tem como parâmetro fundamental, a ser contemplado na nova resolução que disciplinará o tema, que as plataformas de consulta e de prescrição deverão oferecer elementos de proteção aos dados recebidos/transmitidos. Também entende que todo ato médico deve ser registrado em prontuário específico do paciente, para conferir mais segurança na assistência prestada.

Redação

Há três semanas sem registrar pacientes esperando mais de 24 horas por um leito voltado para quadros de covid-19, o município do Rio zerou a fila de espera por esse tipo de leito. Outro indicativo da redução da demanda por leitos na capital é a taxa de ocupação das unidades de saúde, que passou de 96% em maio para 77% nesta virada de mês. Enquanto, em 27 de junho, havia 1.002 pacientes internados na cidade, na quinta-feira (1) registrou 726 – uma queda de 27,5%. 

Além do número de pessoas com quadros graves da doença precisando de internação e as já hospitalizadas, mais um dado que evidencia a redução do ritmo da pandemia no município do Rio é a redução de óbitos, que chegou a cair 44% comparando os meses de junho e maio. Apesar desses dados, o grau de risco para transmissão de covid-19 na cidade ainda é alto, e, para que regrida, é fundamental manter os cuidados de etiqueta respiratória, uso de máscara, distanciamento social e higienização das mãos.

O principal motivo para a desaceleração da pandemia no município do Rio é o avanço da vacinação. Nesta quinta-feira, o prefeito Eduardo Paes anunciou mais uma antecipação do calendário: até a primeira quinzena de julho, serão vacinadas as pessoas a partir de 37 anos. Até agosto, toda população carioca adulta terá recebido pelo menos a primeira dose da vacina contra covid-19. A expectativa é que, quanto mais a vacinação avance, os efeitos positivos sejam percebidos pela redução de casos, internações e óbitos gradativamente em cada faixa etária.

“Os efeitos da vacinação são claros. Começamos a ver uma redução expressiva da doença, mas temos que manter a cautela porque temos um número alto de transmissão. Ainda é o momento de manter os cuidados, usar máscara e evitar se aglomerar ou se expor desnecessariamente”, comentou na sexta-feira (02) o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, durante coletiva de divulgação do 26º Boletim Epidemiológico da Covid-19.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) disponibiliza 280 pontos de vacinação em toda a cidade, funcionando de segunda-feira a sábado, para facilitar o acesso da população à vacina. A lista desses pontos, seus horários de funcionamento, o calendário de vacinação e mais informações sobre grupos prioritários, documentos etc. estão disponíveis em coronavirus.rio/vacina e nas redes sociais da SMS e da Prefeitura do Rio. Neste sábado (03), serão vacinadas gestantes, puérperas e lactantes a partir de 18 anos; e haverá repescagem para pessoas com 43 anos ou mais, pessoas com deficiência e pessoas com comorbidades (lista PNI).

Um milhão de cariocas com esquema vacinal completo

Nesta semana, o município do Rio alcançou a marca de 1 milhão de cariocas com o esquema vacinal contra covid-19 (sendo por duas doses ou dose única) completo, que é o único meio de garantir a proteção contra a doença. Além disso, outros dois números colaboram para uma comemoração tripla: 4 milhões de doses de vacinas contra covid-19 já foram aplicadas; e 3 milhões cariocas iniciaram a imunização contra o coronavírus, recebendo a primeira dose ou dose única das vacinas disponíveis.

Até a última quinta-feira (01), 3.032.639 pessoas haviam tomado a primeira dose (D1) de CoronaVac, AstraZeneca ou Pfizer no Rio, e outras 46.938 receberam o imunizante da Janssen, que tem o esquema vacinal de apenas dose única. Esse total representa 58% da população carioca elegível para a vacinação (a partir de 18 anos) com a imunização iniciada ou concluída. Entre as pessoas que seguem o esquema vacinal de duas doses, 980.280 já receberam a segunda dose.

Soranz destaca que a cobertura vacinal esperada é de 90% de cada uma das faixas etárias contempladas pela campanha: “Em junho, a SMS aplicou mais que o dobro de vacinas do mês de maio. Estamos tendo adesão da população, o que é muito importante. Não basta avançar na idade, tem que se garantir a cobertura, ou seja, que todas as pessoas sejam vacinadas. Cada pessoa é importante. A próxima semana é decisiva. Pedimos que, quando o calendário estiver na sua idade, vá se vacinar imediatamente. Não espere a repescagem”.

A SMS ratifica que todas as vacinas ofertadas são comprovadamente eficazes e seguras, e são oferecidas aos cidadãos de acordo com a disponibilidade de cada ponto de vacinação (PV). A população deve garantir a dose da vacina disponível no momento em que se dirigir ao PV, sem preferência por fabricante. É fundamental ainda que as pessoas fiquem atentas à data de retorno da segunda dose (anotada a lápis no comprovante da D1) para garantir a eficácia da vacinação. Quem estiver com a D2 em atraso deve retornar ao local de vacinação onde tomou a D1, o quanto antes, para completar a proteção contra a covid-19.

Márcio Garcia, superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria, recomenda: “Cada dia vacinado é um dia a mais de proteção e um dia a menos de exposição à doença. Os postos funcionam o dia inteiro, inclusive no horário de almoço. Não há motivo para deixar de se vacinar”.

Cenário epidemiológico

O 26º Boletim Epidemiológico divulgado nesta sexta-feira mostra que, desde março de 2020, o município do Rio soma 368.354 casos de covid-19, com 28.731 óbitos. Em 2021 são 156.555 casos e 9.953 mortes. A taxa de letalidade deste ano está em 6,4%, contra 8,9% em 2020; e a de mortalidade, em 149,4 a cada 100 mil habitantes, contra 281,9/100 mil no ano passado. A incidência da doença é de 2.350,2/100 mil, quando em 2020 era de 3.179,5/100 mil.

As médias móveis de atendimentos da rede de urgência e emergência, de casos confirmados de covid-19 e de óbitos pela doença na cidade do Rio apresentam queda sustentada. Depois de sete semanas consecutivas com todas as 33 regiões administrativas do município apresentando classificação de alto risco para a transmissão da covid-19, considerando as internações e óbitos, o boletim desta semana conta com cinco delas em risco moderado (classificação amarela): Portuária, Santa Teresa, Penha, Vigário Geral e Ilha do Governador. 

Na última semana, 20 novos casos de diferentes variantes do vírus foram identificados na cidade, sendo 19 moradores locais. Desde a identificação do primeiro caso de novas variantes, o município contabiliza 654, sendo 534 residentes. São 522 casos da brasileira (P.1) e 12 da britânica (B.1.1.7). Dos moradores infectados por essas cepas, 40 faleceram, 17 permanecem internados e 477 já são considerados curados. Dos não moradores do Rio infectados pelas variantes, 24 vieram de Manaus, 7 de Rondônia e 89 de outros municípios.

Independentemente da variante, as medidas preventivas são as mesmas para a população: manter o distanciamento, usar máscaras e higienizar as mãos com álcool 70° ou, quando possível, água e sabão; além das demais medidas de proteção à vida estabelecidas na Resolução Conjunta SES/SMS Nº 871 de 12/01/21, que podem ser consultadas em coronavirus.rio.

Medidas de proteção à vida

As medidas de proteção à vida estabelecidas no Decreto Nº 48.912, de 27 de maio de 2021 foram prorrogadas até 12 de julho. Bares, lanchonetes, restaurantes, quiosques da orla e congêneres continuam com permissão para o consumo apenas para clientes sentados, com distanciamento mínimo de um metro e meio entre cada conjunto composto por mesa e cadeiras limitado a oito ocupantes, sendo admitida música ao vivo sem restrição de horário. Já as academias de ginástica, piscinas, centros de treinamento e condicionamento físico podem ter aulas em grupos, com a ocupação dos ambientes limitada a um indivíduo a cada quatro metros quadrados. 

Casas de espetáculo, concertos e apresentações podem funcionar, desde que mantenham distanciamento mínimo de 1,5 metro entre os participantes, com capacidade de lotação máxima de 40% em locais fechados e 60% em locais abertos, somente com público sentado. As mesmas regras valem para atividades comerciais e de prestação de serviços localizadas no interior de shopping centers, centros comerciais e galerias de lojas, bem como as atividades de museu, biblioteca, cinema, teatro, casa de festa, salão de jogos, circo, recreação infantil, parque de diversões, temáticos e aquáticos, pista de patinação, entretenimento, visitações turísticas, aquários, jardim zoológico, apresentações, drive-in, feiras e congressos, exposições e eventos autorizados. Em todas essas ocasiões, a formação de filas de espera e de aglomerações na entrada e saída é proibida. 

Rodas de samba estão liberadas, mas continuam suspensos o funcionamento de boates, danceterias e salões de dança; a realização de eventos, como festas com vendas de ingresso, em áreas públicas e particulares. A fiscalização das indicações do decreto será feita pela Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEOP), a Guarda Municipal do Rio de Janeiro e o Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e de Inspeção Agropecuária (IVISA-Rio) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

 

Everton Lopes Batista (Folhapress)

A variante delta do coronavírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19, consegue escapar da ação de alguns anticorpos que o organismo produz após infecção ou vacinação. O vírus também é capaz de driblar alguns anticorpos monoclonais, proteínas feitas em laboratório para combater o invasor.

O estudo que traz os resultados, publicado nesta quinta-feira (8) na revista científica Nature, mostra que uma maior vigilância é necessária para conter a variante, recentemente detectada na cidade de São Paulo.

A delta foi registrada pela primeira vez na Índia e é apontada como a principal responsável pelo surto de Covid-19 que abalou o país asiático no início deste ano, com recordes sucessivos de casos e mortes causadas pela doença. Dados do Reino Unido e dos Estados Unidos mostram que ela já é a principal fonte de novas infecções nos países. Evidências recentes já indicavam que a variante delta é mais transmissível do que as outras, pode gerar sintomas ligeiramente diferentes e também pode levar a mais hospitalizações. Ainda não se sabe se a delta pode causar mais mortes.

Os cientistas isolaram o vírus a partir de uma amostra de secreção nasal de um paciente infectado pela variante delta e o replicaram em laboratório. Depois, passaram a fazer tentativas de neutralizar o patógeno usando os anticorpos monoclonais ou o soro de 103 pessoas que tiveram a doença. Os pesquisadores também testaram o soro de 59 pessoas que receberam as vacinas da Pfizer/BioNTech ou da AstraZeneca/Oxford.

A neutralização acontece, via de regra, quando os anticorpos conseguem se conectar a uma das estruturas que o vírus usa para entrar na célula e, assim, impedem uma infecção. Um alvo comum dos anticorpos para combater o Sars-CoV-2 são as espículas que revestem o vírus.

No experimento, o soro convalescente (dos curados) foi cerca de quatro vezes menos potente contra a variante delta do que contra a alfa (primeiramente registrada no Reino Unido). "A variante delta demonstrou uma resistência maior à neutralização dos anticorpos de pessoas que tiveram a doença e não se vacinaram, especialmente após um ano da infecção", escrevem os autores.

O achado reforça o resultado de uma outra pesquisa publicada em junho no periódico científico Cell por um grupo internacional de cientistas, que mostrou um aumento nas chances de uma segunda infecção pelo vírus desde o surgimento da variante delta.

"Os dados mostram que essa variante tem uma maior facilidade para infectar as células humanas. Isso quer dizer que os anticorpos produzidos em uma infecção com outra variante do vírus não são capazes de nos proteger adequadamente contra a delta", diz a microbiologista Viviane Alves, professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG) que não esteve envolvida na pesquisa.

Os anticorpos de pessoas vacinadas com apenas uma dose das vacinas da Pfizer/BioNTech ou da AstraZeneca/Oxford também foram pouco eficientes contra o Sars-Cov-2. Após a segunda dose, a resposta imunológica se fortaleceu, mas a variante delta se mostrou mais resistente a essa reação do que outras variantes, como a alfa e a beta (registrada pela primeira vez na África do Sul).

Ambas as vacinas demonstraram taxas de eficácia estimadas maiores do que 60% contra a variante após a vacinação completa, mostrando que os imunizantes ainda são a melhor forma de prevenção e combate à pandemia. "Mas é muito importante que sejam tomadas as duas doses da vacina", lembra Alves.

Segundo o Instituto Butantan, há indícios de que a Coronavac funciona contra a variante delta, mas novos estudos são necessários. Um estudo divulgado pela Janssen, cuja vacina contra Covid é aplicada em apenas uma dose, mostrou que o imunizante mantém a eficácia contra a delta. Os dados estão disponíveis no formato pré-print (ainda sem revisão por outros cientistas).

O soro de pessoas que tiveram a Covid-19 e se vacinaram é o que carrega os anticorpos mais fortes contra o vírus, diz o estudo publicado na Nature nesta quarta. Os cientistas testaram ainda os anticorpos monoclonais bamlanivimabe (LY-CoV555) e etesevimabe (LY-CoV016), produzidos pela farmacêutica americana Eli Lilly; o casirivimabe (REGN10933) e o imdevimabe (REGN10987), produzidos pela também americana Regeneron. O bamlanivimabe não funcionou contra a variante, e os demais permaneceram com alguma ação contra o vírus.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou em abril o uso emergencial do Regen-Cov, da Regeneron. Trata-se da combinação dos remédios biológicos casirivimabe e imdevimabe. No mês seguinte, deu aval ao pedido de uso emergencial no Brasil do medicamento que combina o banlanivimabe e etesevimabe, desenvolvido pela empresa Eli Lilly. As quatro formulações já tinham recebido autorização de uso emergencial nos Estados Unidos.

Para Alves, da UFMG, os dados tornam cada vez mais claro que as medidas de proteção contra a Covid-19 –como uso de máscara, distanciamento, higiene das mãos e vacinação completa– devem ser intensificadas, mesmo por aqueles que já receberam a vacina.

Redação

O Previ-Rio abre prazo nesta quinta-feira (01/07) para servidores ativos ou aposentados e pensionistas da Prefeitura do Rio, além de seus dependentes, aderirem sem nenhuma carência ao Plano de Saúde do Servidor Municipal (PSSM). Os interessados têm até 20 de julho para indicar uma opção de operadora e efetuar a inclusão no sistema PSSM Online, que ficará disponível no site do Previ-Rio.

As operadoras Assim – Grupo Hospitalar do Rio de Janeiro e Grupo Notre Dame Intermédica foram habilitadas ao cumprir requisitos do edital de credenciamento, lançado pelo Previ-Rio em maio, para dar cobertura de saúde e serviços odontológicos básicos aos servidores e pensionistas municipais a partir de 1º de agosto deste ano a 31 de julho de 2023.

Neste novo contrato, o modelo será o mesmo que já vem sendo empregado tradicionalmente, com o servidor estatutário descontando 2% da sua remuneração (a Prefeitura contribui com mais 3% por trabalhador, como forma de subsidiar cada plano individual) para ter direito a exames, consultas ou internações, no plano básico de referência. Dependentes, pensionistas e os estranhos aos quadros pagarão um preço de tabela, de acordo com sua faixa etária, para aderirem ao PSSM.

Como nos contratos anteriores, cada operadora oferecerá também planos superiores, com uma rede de ofertas mais abrangente e preço diferenciado, para livre escolha do servidor. Também está prevista a coparticipação, para quem optar por não utilizar a rede própria (fidelizada) da operadora, em tabela com valores e regras específicos, excluída em casos de urgência ou emergência. As tabelas com as novas opções ficarão disponíveis no mesmo sistema PSSM Online, a partir da data de início do prazo de adesão.

Servidores e pensionistas já beneficiários do PSSM poderão escolher outro plano dentro da mesma operadora (downgrade/upgrade) ou migrar para a outra empresa credenciada. Caso queira permanecer com a Assim, não é necessário se manifestar no sistema, mas os planos superiores obedecerão aos preços do novo contrato.

O PSSM já atende hoje a mais de 150 mil vidas, entre servidores, dependentes e pensionistas.

Todas as regras para adesão ou modificação foram publicadas em portaria do Previ-Rio, na edição desta terça-feira (29/06) do Diário Oficial.

Redação

A Secretaria Municipal de Saúde recebeu todos os lotes de vacinas do Ministério da Saúde dentro do prazo de validade e os distribuiu imediatamente para as unidades de saúde.

Está sendo verificado se, de fato, houve alguma aplicação de doses após o vencimento. Caso isso tenha acontecido, a unidade entrará em contato com os usuários para realizar a revacinação.

Os casos suspeitos de vacinação fora da validade, com data da aplicação da vacina, data de nascimento e primeiros dígitos do CPF das pessoas vacinadas, PODEM SER CONSULTADOS CLICANDO AQUI

Quem estiver na relação pode aguardar o contato da equipe de saúde ou, se preferir, procurar a unidade em que se vacinou na segunda-feira (05/07), a partir das 11h, para verificar se houve um erro no registro, que será feito o ajuste. Em caso de constatação de que recebeu de fato dose vencida, será realizada a revacinação.

Júlia Barbon e Guilherme Garcia (Folhapress)

Depois dos nonagenários, dos octogenários e dos septuagenários, o impacto da vacinação contra a Covid-19 já se estende para os sexagenários. Uma redução nas internações e mortes pela doença no grupo tem sido registrada nas últimas semanas, à medida que a imunização avança.

O Brasil deu a largada na vacinação maciça das pessoas de 60 a 70 anos no início de março. A partir de meados de abril, a tendência de queda começa a ser visível: a faixa etária, que representava 23% dos hospitalizados e 29% dos mortos na época, despenca para 11% e 16% em junho.

Em números absolutos também há uma diminuição constante e expressiva no período. Se na última semana de março 5.737 pacientes dessa idade morreram da doença, foram apenas 865 na segunda semana de junho, seis vezes menos.

Os dados tabulados pela reportagem são do Ministério da Saúde e consideram pessoas internadas por síndrome respiratória aguda grave (Srag) em qualquer tipo de leito. O intervalo analisado foi até o último dia 12, levando em conta o tempo para as notificações.

Esse é mais um número a se somar ao diagnóstico de rejuvenescimento das vítimas do coronavírus no país. Já era possível observar uma queda do agravamento dos casos nos grupos de 90 e 80 anos desde o fim de fevereiro, e no grupo de 70 anos desde abril, na contramão dos mais jovens.

O epidemiologista e demógrafo Raphael Guimarães, pesquisador da Fiocruz, diz que esse "seguramente é um efeito da vacina". "O que a gente tem observado é que, à medida em que o país consegue vacinar idosos mais novos, a participação dessas faixas em mortes e internações se reduz", afirma.

Ele reforça que a faixa dos 60 anos vinha contribuindo de forma ampla para os casos graves da Covid desde o início do ano, representando em torno de 1 em cada 4 hospitalizações. "De umas quatro ou seis semanas para cá, porém, houve uma inversão na curva", analisa.

Um estudo da UFPel (Universidade Federal de Pelotas), em parceria com a Universidade de Harvard e o Ministério da Saúde, mostrou recentemente que a vacinação já evitou a morte de 43 mil pessoas acima de 70 anos, após análise de mais de 200 mil óbitos por Covid-19 entre janeiro e maio deste ano no país.

"Se tivéssemos começado a vacinar a população antes, essa estimativa de mortes poupadas pela vacinação seria maior ainda", diz o epidemiologista Cesar Victora, líder da pesquisa que traz pela primeira vez evidências da efetividade das vacinas Coronavac e AstraZeneca no Brasil.

Até agora, 29% da população adulta (46 milhões de pessoas) tomou a 1ª dose da vacina, e 16% (26 milhões) está totalmente imunizada (tomou a segunda dose ou vacina de dose única).

Agora, a preocupação é com os mais jovens. A proporção de pacientes internados com 40 a 60 anos disparou de 17% para 40% desde o início do ano. A faixa de até 40 anos também dobrou de 5% para 11%.

Um boletim epidemiológico da Fiocruz que analisa dados nacionais até 12 de junho indica que a mediana de óbitos pelo vírus caiu pela primeira vez a um nível abaixo dos 60 anos, assim como já havia ocorrido com as internações.

Isso significa que a idade máxima de metade dos hospitalizados passou de 66 anos no início do ano para 52 anos agora. Já entre as vítimas que morreram da doença, foi de 71 anos para 61 anos no período.

"É verdade que esse processo tem relação com um estreitamento do topo da pirâmide etária da doença, já que os mais longevos contribuem cada vez menos com casos graves e fatais. Contudo, temos em termos absolutos maior número de casos e óbitos entre jovens, de forma independente ao que ocorre com os idosos", escrevem os pesquisadores.

"Este é um cenário extremamente preocupante, especialmente para um país cuja estrutura etária ainda é relativamente jovem. O que virá, com a manutenção deste quadro, será verdadeiramente uma onda: de incapacidade e condições crônicas para brasileiros jovens, que perderão em qualidade de vida e capacidade produtiva", alertam.

Eles avaliam ainda que o rejuvenescimento dos atingidos pela Covid será cada vez mais intenso e "poderá perpetuar um cenário obscuro de óbitos altos" até que esse grupo etário esteja devidamente coberto pela vacina. Portanto, é essencial reforçar o uso de máscaras e o distanciamento social.