A Associação de Notários e Registradores do Rio está recebendo doações para ajudar as vítimas das chuvas de Petrópolis, na Região Serrana do Rio. O Instituto Novo Brasil também está de braços abertos para receber ajuda de quem puder doar algum valor. O dinheiro será usado na compra de alimentos, água, álcool em gel e outros produtos de higiene. A forte chuva atingiu o município na terça-feira (15). A Prefeitura decretou estado de calamidade pública e informou que as equipes dos hospitais foram reforçadas para o atendimento às vítimas. Quem tiver parentes desaparecidos deve procurar a delegacia.

Para doar:
Instituto Novo Brasil Pelo Carimbo Solidário.
CNPJ: 085631450001/02
Banco Itaú
Agência: 0310
Conta-Corrente: 45693-4
PIX : 08.563.145/0001-02

Por: Tatiana Campbell

Há 50 anos, um temporal em Petrópolis fez desabar a casa onde morava Cecília Eler, 55, matando a mulher na hora. A tragédia, que marcou a família, se repetiu nesta semana, quando a administradora Cecília Fioresi, 40, neta da matriarca e que foi batizada em sua homenagem, morreu soterrada após forte chuva que atingiu a cidade na Região Serrana do Rio de Janeiro.

Eram 20h da última terça-feira (15) quando o comerciante Alexandro de Araújo Dutra, 47, recebeu um telefonema de uma mulher procurando por Cecília, sua ex-mulher. A chuva caía desde as 16h em Petrópolis e a administradora ainda estava no trabalho –uma clínica médica que fica na rua Teresa, uma das ruas mais conhecidas do município. O prédio onde Cecília estava foi atingido por um deslizamento e desabou.

"Estávamos separados só no papel, porque éramos muito amigos. Eu fui o primeiro a chegar no local. A gente ainda teve um suspiro de esperança, porque, por volta das 23h, funcionários da clínica disseram que chamaram ela e ela respondeu dizendo que estava com a perna presa e pediu por ajuda, mas não deu tempo", disse.

Cecília estava no novo emprego havia apenas 23 dias. A irmã da administradora, Camila Fioresi, 37, veio de Brasília quando soube do ocorrido.

"A minha vontade hoje é tirar toda a minha família daqui. Cada chuva, cada relâmpago, o medo bate. Parece que o mundo vai acabar. Isso daqui não é vida", disse a servidora pública aos prantos.

Mãe de um menino de 6 anos, Cecília, que completaria 41 anos no dia 27 de março, estava feliz no novo emprego. "Era uma mulher maravilhosa, supermãe, excelente dona de casa, uma excelente mulher. Ela saiu para trabalhar às 7h, e, quando foi por volta das 20h, recebemos a ligação. Eu perdi o amor da minha vida", lamentou Alessandro, que foi consolado pela ex-cunhada.

A irmã de Cecília disse que a mãe, que completa 72 anos na próxima segunda (21), estava com o filho da mulher no momento em que soube da notícia. "Eu quero tirar minha mãe daqui. Ela perdeu a mãe e agora a filha, da mesma forma. Isso não é justo."

Por: Ana Luiza Albuquerque e Italo Nogueira

O presidente Jair Bolsonaro afirmou não ser possível prevenir todas as tragédias como a que ocorreu em Petrópolis, onde ao menos 120 pessoas morreram e 116 estão desaparecidas em razão das fortes chuvas no início da semana.

Em visita à cidade da região Serrana do Rio de Janeiro, o presidente disse que o orçamento prevê investimento para evitar as ocorrências. Contudo, declarou haver uma limitação de recursos.

"Medidas preventivas estão previstas no orçamento. Ele é limitado. Muitas vezes não temos como nos precaver de tudo que possa acontecer nesses 8,5 milhões de quilômetros quadrados [área territorial do Brasil]", afirmou ele à imprensa.

A Folha de S.Paulo mostrou que a gestão do governador Cláudio Castro (PL) executou apenas metade do previsto no orçamento do ano passado em prevenção de catástrofes. "A população tem razão de criticar, mas aqui é uma região bastante acidentada. Infelizmente houve outras tragédias aqui. Pedimos a Deus que não ocorram mais e vamos fazer a nossa parte", afirmou ele.

O ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) também destacou o grande volume de chuvas que caiu na cidade, o maior em 90 anos segundo a Defesa Civil. Ele afirmou ainda que "nenhum meteorologista previu" o aumento das chuvas no verão, informação básica do regime de precipitações no país, intensificada pela crise do clima.

"Até agosto, a pauta era a falta de chuvas e a crise hídrica. Nenhum meteorologista no Brasil previu o que aconteceria no final do ano. Pelo contrário, falavam em falta de água e energia", afirmou o ministro.

Marinho afirmou que serão liberados R$ 1 bilhão de recursos emergenciais para Petrópolis e outras 50 cidades do país em situação de emergência ou calamidade pública em razão das chuvas, o que ele chamou de "catástrofes climáticas".

Castro defendeu o trabalho de resgate de vítimas na cidade. Muitas famílias têm se queixado da falta de bombeiros para o auxílio na localização de corpos. Há muitos casos de moradores trabalhando sozinhos cavando a lama em busca de amigos e parentes.

"Não adianta ter gente demais aqui. Há um problema sério de trânsito. O local ainda está instável. Não adianta botar 2, 3, 4.000 pessoas ali", afirmou o governador. "Quem manda é a técnica. Temos número suficiente de acordo com o que a técnica manda. Não adianta encher de gente, porque vai criar mais confusão e dificilmente vamos conseguir ajudar a população."

O ministro Braga Netto (Defesa) afirmou que há engenheiros e outros militares prontos para mobilização, aguardando a estabilização do terreno. "O terreno é de difícil estabilidade. Precisa-se de estudo geológico muito pesado para não corrermos mais risco. Temos mais gente em condição de vir para cá, mas temos que controlar a vinda desse pessoal", declarou o ministro.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, chegarão de outros estados 41 cães farejadores para auxiliar nas buscas. Atualmente são 16 animais, que precisam de 12 horas de descanso.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), anunciou uma série de medidas para ajudar moradores, comerciantes e empresários de Petrópolis, na região serrana do Rio. A cidade foi atingida na terça-feira (15) por um forte temporal, que provocou alagamentos, inundações e deslizamentos.

A primeira medida é estender o prazo para pagamento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e do IPVA. A medida foi pensada "para que as pessoas possam ter um respiro".

Além disso, o governador explicou que encaminhou um projeto para a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) para abertura de uma linha de crédito de R$ 200 milhões para apoiar todos os empresários de Petrópolis.

Segundo explicou, o empréstimo terá juro zero e carência de ate 12 meses para pagamento, em linhas que vão de R$ 5 mil a R$ 50 mil e de R$ 50 mil a R$ 500 mil.

"Começa amanhã o cadastro. Teremos dois pontos, aqui no CDL e lá no Quitandinha, para que os empresários possam fazer seu cadastro.

A intenção é que isso possa sair já na semana que vem. para que a gente possa, até o fim da próxima semana, ajudar a vida do empresário, do lojista", disse, em coletiva de imprensa na tarde desta quinta (17).

O governador defendeu que essa linha de credito seja "super facilitada, sem aquele monte de burocracias" e garantiu que mais de 90% das "dificuldades" já foram derrubadas.

Por: Idiana Tomazelli e Mateus Vargas

O governo Jair Bolsonaro (PL) deve liberar quase R$ 500 milhões para ações em locais atingidos por desastres, segundo fontes do governo informaram à Folha de S.Paulo. A verba deve ser direcionada principalmente a Petrópolis, município devastado por fortes tempestades na última terça-feira (15), resultando em inundações, enxurradas e deslizamentos que levaram à morte de ao menos 120 pessoas.

O presidente Bolsonaro sobrevoa o município na região Serrana do Rio de Janeiro nesta sexta-feira (18), depois de voltar de viagem à Rússia. O recurso deve ser liberado por meio de crédito extraordinário, instrumento previsto na Constituição para permitir o repasse rápido de verbas em situações de urgência e imprevisibilidade. O dinheiro será destinado a ações de defesa civil do Ministério do Desenvolvimento Regional, comandado por Rogério Marinho, que acompanha Bolsonaro na viagem a Petrópolis. A verba vai contemplar diversas cidades, mas o foco principal será atender Petrópolis.

O crédito extraordinário constará em MP (medida provisória), garantindo a liberação imediata da verba. Esse tipo de crédito fica fora do alcance de regras fiscais que limitam as despesas, como é o caso do teto de gastos.

A MP deve ser publicada em edição extra do DOU (Diário Oficial da União). Segundo integrantes do governo, o valor efetivo da liberação deve ficar próximo de R$ 480 milhões, mas os cálculos ainda estão sendo finalizados. Nos últimos dias, houve grande pressão de aliados do presidente para agilizar a edição do crédito extraordinário, sobretudo devido à proximidade do embarque de Bolsonaro para a cidade da região Serrana do Rio de Janeiro. Na quinta-feira (17), o MDR liberou R$ 2,33 milhões para Petrópolis.

Deste valor, R$ 1,67 milhão será utilizado na compra de cestas básicas, kits de higiene pessoal, colchões, materiais de limpeza, entre outros produtos. Já R$ 665 mil serão destinados à limpeza urbana e à desobstrução de canais.

No fim de dezembro, o presidente foi criticado por ficar de férias no litoral catarinense no momento em que a Bahia enfrentava forte crise gerada pelas chuvas. Além de aproveitar a praia, Bolsonaro visitou um parque de diversões. As cenas de momentos de folga constrangeram aliados do presidente. O governo liberou mais de R$ 200 milhões em dezembro para atender estados atingidos pela chuva, principalmente a Bahia. Posteriormente, mais recursos foram enviados aos estados para ajudar na reconstrução de estradas que ficaram destruídas pelas enchentes.

O governo federal reconheceu na quinta-feira (17) o estado de calamidade pública de Petrópolis. O Exército também atua na região com equipes, primeiros-socorros e maquinário para desobstrução de vias. A Caixa Econômica Federal liberou o saque calamidade do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para a população do município. O valor máximo para a retirada é de R$ 6.220.

Segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), continua alta a possibilidade de ocorrência de eventos hidrológicos na região serrana. Ao menos 120 pessoas, incluindo 13 menores de idade, morreram devido ao forte temporal que atingiu Petrópolis. A DDPA (Delegacia de Descoberta de Paradeiros) da Polícia Civil do Rio de Janeiro já registrou 116 desaparecimentos.

A prioridade na quinta-feira, além de localizar as vítimas, foi acelerar a identificação dos mortos, reconstruir a estrutura do município e garantir atendimento social aos moradores da cidade, destruída pelas inundações e deslizamentos.

As aulas estão suspensas para que as famílias possam ser atendidas por profissionais das secretarias de Assistência Social, Saúde e Educação. O Governo do Rio de Janeiro informou ter determinado urgência no cadastro de moradores que solicitam o aluguel social.

Por: Júlia Barbon

A voz de Márcio Luis Ferreira dos Santos, 45, até falha quando ele lembra o momento em que pulou a cachoeira e correu de uma casa para outra junto da mulher e cinco de seus filhos. A sexta, Taylane de Souza dos Santos, ficou.

Ela e a prima Ana Clara da Fonseca, ambas de 13 anos, filmavam a enxurrada que jorrava no terreno de cinco casas da família em Petrópolis. Não imaginavam que duas delas seriam arrastadas pela mesma lama, que encontrou passagem ali no quintal quando uma barreira caiu e vedou o curso natural da cachoeira.

"Mamãe, cadê a Tatá? Morreu?", pergunta à mãe a irmã mais nova, de dois anos. Era extrovertida e alta como a avó, conta o pai autônomo, que por poucos segundos não foi junto. Ele está entre as dezenas de parentes que, desolados, buscam filhos, irmãos, mães e primos em frente ao posto regional do IML (Instituto Médico Legal) de Petrópolis nesta quinta (17).

Assim como Tayane e Ana Clara, mulheres são a maioria das ao menos 110 vítimas do temporal que arrasou a cidade na Região Serrana do Rio de Janeiro na última terça (15). Até o fim da manhã, 101 haviam sido levadas para identificação: 65 mulheres e 36 homens –entre esses, 13 menores de idade.

Os nomes de cada um vão sendo anunciados a cada meia hora por uma funcionária da Sala Lilás, antes destinada a receber denúncias de violência contra a mulher na cidade. Um punhado de gente corre para a porta da unidade a cada vez que a mulher aparece.

É um processo que tem que ser feito com lisura, ela diz já rouca, portanto exige tempo apesar da dor das famílias. Ela afirma que há espaço dentro da sala se alguém precisar descansar ou passar mal debaixo do sol, que já começa a ser encoberto pelas nuvens anunciando mais chuva forte pela tarde.

Não é possível, grita um homem já quase urrando pela dor ao ouvir um dos nomes. Outra família chega e se abraça, pedindo privacidade a um fotógrafo que registrava o momento. Um terceiro homem briga ao ouvir um repórter falando para as câmeras sobre a atuação dos bombeiros. Quem tirou os corpos foram os moradores, critica.

Nem todos tiveram resposta ainda. A irmã de Maria das Graças Tomaz Coelho Vaz, 50, que não quis se identificar, esperava por notícias havia uma hora. Ela está desaparecida desde aquela tarde, quando foi ao dentista sozinha em Alto da Serra, umas das regiões mais atingidas pelas chuvas. Deixou uma filha de 24 anos.

Daniela da Silva Viana é outra das mulheres ainda não encontradas. Aos 30 anos, voltava do trabalho no supermercado quando a água começou a subir pelo degrau do ônibus. Avisou a mãe que a corrente já balançava o veículo para o lado do rio, mandando em seguida uma foto da porta. Estava com medo. Ficaram esperando ela voltar, mas não voltou.

No dia seguinte, surgiu o vídeo do mesmo ônibus sendo arrastado junto a um segundo, enquanto passageiros tentavam escalar as janelas. A gravação que ela postou nas redes sociais lá de dentro já sumiu, depois de 24 horas. O telefone chama, chama, mas ninguém atende.

O pai só soube "quando o dia já estava brotando", diz o pedreiro José Viana, 59. Procuraram em tudo quanto é unidade de saúde e deixaram o IML por último, onde ainda não conseguiram notícias. A mãe, Tânia Maria da Silva, 59, já avisou a perícia que ela usa aparelho e tem tatuagens. "Eu sinceramente já tô certa", fala a uma amiga no telefone.

Bem em frente ao ponto onde os ônibus tombaram estava a casa de João Carlos Castro de Oliveira, 55. Ele também conversava com a família naquela tarde, mas preocupado com os cinco irmãos, afinal sua casa ficava no centro da cidade e não tinha risco de cair. Só que caiu.

A última mensagem antes da tromba d'água descer foi às 18h08, dizendo para tomarem cuidado, conta uma das irmãs, que também não quis se identificar. Foi sozinho, porque a esposa estava no trabalho.

A poucos metros dali, o mecânico Emídio Júlio Vicente, 43, esperava para reconhecer o corpo da mãe, Maria de Fátima dos Anjos Vicente, 64.

"Ver se tem pelo menos enterro digno", espera. Ela estava em casa, em cima do Morro da Oficina, onde o maior deslizamento da cidade levou cerca de 80 casas.

Foram cinco ou seis pessoas de uma vez, ele conta: ela, o esposo, a sogra dela e três crianças. "Ali é uma lage de pedra, escorregou e desceu tudo. Já tinha caído outras coisas antes, mas coisas pequenas. Rolado pedra, barreirinha pequena, não imaginava que ia descer aquela coisa enorme."

Emídio diz que a sirene toca com frequência no morro. "Tocar até toca, mas até as pessoas saírem... Uns saem, outros não, uns não têm nem para onde ir", lamenta.