Por: Tatiana Campbell

Há 50 anos, um temporal em Petrópolis fez desabar a casa onde morava Cecília Eler, 55, matando a mulher na hora. A tragédia, que marcou a família, se repetiu nesta semana, quando a administradora Cecília Fioresi, 40, neta da matriarca e que foi batizada em sua homenagem, morreu soterrada após forte chuva que atingiu a cidade na Região Serrana do Rio de Janeiro.

Eram 20h da última terça-feira (15) quando o comerciante Alexandro de Araújo Dutra, 47, recebeu um telefonema de uma mulher procurando por Cecília, sua ex-mulher. A chuva caía desde as 16h em Petrópolis e a administradora ainda estava no trabalho –uma clínica médica que fica na rua Teresa, uma das ruas mais conhecidas do município. O prédio onde Cecília estava foi atingido por um deslizamento e desabou.

"Estávamos separados só no papel, porque éramos muito amigos. Eu fui o primeiro a chegar no local. A gente ainda teve um suspiro de esperança, porque, por volta das 23h, funcionários da clínica disseram que chamaram ela e ela respondeu dizendo que estava com a perna presa e pediu por ajuda, mas não deu tempo", disse.

Cecília estava no novo emprego havia apenas 23 dias. A irmã da administradora, Camila Fioresi, 37, veio de Brasília quando soube do ocorrido.

"A minha vontade hoje é tirar toda a minha família daqui. Cada chuva, cada relâmpago, o medo bate. Parece que o mundo vai acabar. Isso daqui não é vida", disse a servidora pública aos prantos.

Mãe de um menino de 6 anos, Cecília, que completaria 41 anos no dia 27 de março, estava feliz no novo emprego. "Era uma mulher maravilhosa, supermãe, excelente dona de casa, uma excelente mulher. Ela saiu para trabalhar às 7h, e, quando foi por volta das 20h, recebemos a ligação. Eu perdi o amor da minha vida", lamentou Alessandro, que foi consolado pela ex-cunhada.

A irmã de Cecília disse que a mãe, que completa 72 anos na próxima segunda (21), estava com o filho da mulher no momento em que soube da notícia. "Eu quero tirar minha mãe daqui. Ela perdeu a mãe e agora a filha, da mesma forma. Isso não é justo."

Por: Marianna Holanda

O Exército, por meio do Comando Conjunto Leste, passou a atuar na tragédia de Petrópolis (RJ), para ajudar as vítimas da tragédia causada pelas enchentes no município.

De acordo com a instituição, o apoio começou a partir de quarta-feira (16), com emprego de tropas, viaturas e equipamentos. Serão disponibilizados, por exemplo, ambulâncias e equipes de primeiros-socorros, além de maquinário para desobstrução de vias.

O município na região serrana do Rio de Janeiro foi atingido por fortes tempestades na última terça-feira (15), resultando inundações, enxurradas e deslizamentos que levaram à morte ao menos 104 pessoas.

"De imediato, por meio do 32º Batalhão de Infantaria Leve de Montanha (32º BIL Mth), sediado na região, foram disponibilizadas viaturas 5 Ton (caminhões), ambulâncias e equipes de primeiros socorros, estando a unidade militar em condições de ampliar o apoio, assim como auxiliar desabrigados em uma escola dentro da sua área, em estreita coordenação com a Defesa Civil Estadual", diz o comando em nota.

Além disso, o texto também afirma que as tropas da 4ª Brigada de Infantaria Leve de Montanha, sediada em Juiz de Fora (MG), também foram acionadas.

O Ministério da Defesa publicou no Diário Oficial da União desta quinta-feira portaria que determina emprego temporário das Forças Armadas em ações de apoio à Defesa Civil na região.

O ministro Walter Braga Netto está em missão oficial à Europa, acompanhando o presidente Jair Bolsonaro (PL). Assim, a portaria foi assinada pelo substituto, general Paulo Sérgio Nogueira, comandante do Exército.

Entre outras coisas, a portaria define que o Exército deve empregar "os recursos operacionais necessários para atuar em apoio à Defesa Civil, em coordenação com os órgãos municipais, estaduais e federais, a fim de contribuir para a mitigação dos efeitos das chuvas na região".

Até a tarde de quarta, a Defesa Civil Municipal contabilizou 325 ocorrências: 269 deslizamentos de terra e 56 desabamentos e quedas de muro e árvores. As equipes ainda trabalham nos resgates, pois há grande dificuldade de acesso em alguns locais.

O Ministério da Saúde disse, em nota, que enviou 500 kg de medicamentos para auxílio de vítimas das chuvas. Além de equipes para fortalecer os atendimentos. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, esteve na cidade nesta quinta-feira (17).

"[Estamos aqui] para nos comprometermos em trazer apoio aqueles que precisam de assistência em saúde. O Ministério da Saúde já enviou equipes da vigilância em saúde, da Força Nacional e da atenção primária para oferecer suporte necessário para aqueles que estão desabrigados e desalojados. Nós sabemos que numa situação como essa os problemas de saúde vêm, diarreias agudas, muitos problemas", disse em um vídeo publicado nas redes sociais.

Jair Bolsonaro chegará no Brasil na sexta-feira (18) e deve seguir direto para Petrópolis, onde sobrevoará a região.

O chefe do Executivo, cujo domicílio eleitoral é no estado, afirmou ter feito "várias ligações" para os ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Paulo Guedes (Economia) para que prestassem auxílio imediato às vítimas, e ao governador Cláudio Castro (PL).

"De Moscou tomei conhecimento sobre a tragédia que se abateu em Petrópolis/RJ", disse. "Bem como conversei com o @DefesaGovBr , General Braga Neto, que me acompanha na Rússia", afirmou no Twitter.

O mandatário viajou para o país europeu na noite de segunda-feira (14), para encontro que aconteceu nesta manhã com Vladimir Putin.

"Retorno na próxima sexta-feira e, mesmo distante, continuamos empenhados em ajudar ao próximo", concluiu. Horas mais tarde, em Moscou, ele reafirmou: "Lamentamos as dezenas de mortos. Vamos falar sobre a liberação do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, no caso dos afetados) e de verbas para obras de recuperação".

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), anunciou uma série de medidas para ajudar moradores, comerciantes e empresários de Petrópolis, na região serrana do Rio. A cidade foi atingida na terça-feira (15) por um forte temporal, que provocou alagamentos, inundações e deslizamentos.

A primeira medida é estender o prazo para pagamento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e do IPVA. A medida foi pensada "para que as pessoas possam ter um respiro".

Além disso, o governador explicou que encaminhou um projeto para a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) para abertura de uma linha de crédito de R$ 200 milhões para apoiar todos os empresários de Petrópolis.

Segundo explicou, o empréstimo terá juro zero e carência de ate 12 meses para pagamento, em linhas que vão de R$ 5 mil a R$ 50 mil e de R$ 50 mil a R$ 500 mil.

"Começa amanhã o cadastro. Teremos dois pontos, aqui no CDL e lá no Quitandinha, para que os empresários possam fazer seu cadastro.

A intenção é que isso possa sair já na semana que vem. para que a gente possa, até o fim da próxima semana, ajudar a vida do empresário, do lojista", disse, em coletiva de imprensa na tarde desta quinta (17).

O governador defendeu que essa linha de credito seja "super facilitada, sem aquele monte de burocracias" e garantiu que mais de 90% das "dificuldades" já foram derrubadas.

Quase dois dias após o temporal que devastou Petrópolis, as vítimas das enchentes e deslizamentos começam a ser identificadas.

Segundo as autoridades, choveu em apenas seis horas (260 mm) o equivalente aos últimos 30 dias (272 mm). A Defesa Civil enviou à população de Petrópolis mensagens dizendo que ainda há previsão de chuva forte na tarde e na noite desta quinta (17). O órgão orienta que a população fique atenta aos informes e que, em caso de emergência, ligue para o número 199.

A Polícia Civil diz que há 101 corpos no IML (Instituto Médico Legal) de Petrópolis, sendo que 33 foram identificados até o momento.

No total de pessoas mortas, 65 são mulheres, 36, homens, e 13, menores de idade. Alguns corpos estão sendo armazenados em um caminhão frigorífico instalado no PRPTC (Posto Regional de Polícia Técnica Científica), no bairro Corrêas.

Os corpos de pelo menos 11 pessoas foram liberados para sepultamento. São eles os de Evelyn Luiza Netto da Silva, 11, Pablo Nunes Carvalho, Fábio Aniceto da Costa, Yasmin Eliseu Alves, Zilmar Batista Ramos, João Carlos de Melo Montes, Maria Clara Martins de Castro Souza, Heloise Listenberg Rodrigues, 2, Gustavo Listenberg Rodrigues, 5, Debora Listenberg Moreira, 22, e Eva Afonso da Silva.
Nem todos tiveram a idade divulgada.

A Delegacia de Descoberta de Paradeiros também atua na cidade para atender quem buscam informações sobre desaparecidos. A Polícia Civil diz que há pelo menos 134 registros de desaparecimentos em razão das chuvas.

Na noite de quarta-feira, o Ministério Público do Rio de Janeiro cadastrou 35 pessoas desaparecidas no Plid/MPRJ (Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos). O órgão diz ainda que informações sobre desaparecidos são recebidas pelo telefone (21) 2262-1049 ou pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Até o fim da manhã desta quinta (17), a Defesa

Civil contabilizou 399 ocorrências em Petrópolis, das 323 por deslizamentos. ​Além disso, 705 pessoas precisaram ser encaminhadas para os 33 pontos de apoio montados em escolas da rede pública. As aulas estão suspensas para que as famílias possam ser atendidas por profissionais das secretarias de Assistência Social, Saúde e Educação.

Na madrugada desta quinta-feira, agentes da Defesa Civil em conjunto com o Corpo de Bombeiros retiraram dois corpos no Caxambu. Eles regataram também outras seis vítimas, que foram retiradas dos escombros na rua Santa Teresa.

O governo do estado informou na quarta-feira (16) que 24 pessoas foram salvas com vida e que um hospital de campanha com dez leitos foi montado para oferecer os primeiros atendimentos.

Petrópolis tem 234 locais considerados de risco alto ou muito alto para deslizamentos, enchentes e inundações, o que equivale a 18% do território e a aproximadamente 12 mil moradias, segundo o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR) de 2018.

As regiões do primeiro distrito foram as mais afetadas, sendo as ocorrências mais graves registradas nos locais Morro da Oficina, 24 de Maio, Caxambu, Sargento Boening, Moinho Preto, rua Uruguai, rua Washington Luiz, Coronel Veiga, Vila Militar, Vila Felipe, avenida Portugal e rua Honorato Pereira.

Moradora da Vila Felipe, Elenir de Souza diz que o bairro foi destruído pela força das águas. "Foi uma luta muito grande para eu construir minha casa e perder tudo assim tão de repente, é muito doloroso. É uma tragédia. O meu bairro acabou", diz ela, que conseguiu sair de casa apenas com roupa do corpo. "Só saí com documento de casa e mais nada. Nós chegamos ao abrigo completamente enlameadas."

Por: Júlia Barbon

A voz de Márcio Luis Ferreira dos Santos, 45, até falha quando ele lembra o momento em que pulou a cachoeira e correu de uma casa para outra junto da mulher e cinco de seus filhos. A sexta, Taylane de Souza dos Santos, ficou.

Ela e a prima Ana Clara da Fonseca, ambas de 13 anos, filmavam a enxurrada que jorrava no terreno de cinco casas da família em Petrópolis. Não imaginavam que duas delas seriam arrastadas pela mesma lama, que encontrou passagem ali no quintal quando uma barreira caiu e vedou o curso natural da cachoeira.

"Mamãe, cadê a Tatá? Morreu?", pergunta à mãe a irmã mais nova, de dois anos. Era extrovertida e alta como a avó, conta o pai autônomo, que por poucos segundos não foi junto. Ele está entre as dezenas de parentes que, desolados, buscam filhos, irmãos, mães e primos em frente ao posto regional do IML (Instituto Médico Legal) de Petrópolis nesta quinta (17).

Assim como Tayane e Ana Clara, mulheres são a maioria das ao menos 110 vítimas do temporal que arrasou a cidade na Região Serrana do Rio de Janeiro na última terça (15). Até o fim da manhã, 101 haviam sido levadas para identificação: 65 mulheres e 36 homens –entre esses, 13 menores de idade.

Os nomes de cada um vão sendo anunciados a cada meia hora por uma funcionária da Sala Lilás, antes destinada a receber denúncias de violência contra a mulher na cidade. Um punhado de gente corre para a porta da unidade a cada vez que a mulher aparece.

É um processo que tem que ser feito com lisura, ela diz já rouca, portanto exige tempo apesar da dor das famílias. Ela afirma que há espaço dentro da sala se alguém precisar descansar ou passar mal debaixo do sol, que já começa a ser encoberto pelas nuvens anunciando mais chuva forte pela tarde.

Não é possível, grita um homem já quase urrando pela dor ao ouvir um dos nomes. Outra família chega e se abraça, pedindo privacidade a um fotógrafo que registrava o momento. Um terceiro homem briga ao ouvir um repórter falando para as câmeras sobre a atuação dos bombeiros. Quem tirou os corpos foram os moradores, critica.

Nem todos tiveram resposta ainda. A irmã de Maria das Graças Tomaz Coelho Vaz, 50, que não quis se identificar, esperava por notícias havia uma hora. Ela está desaparecida desde aquela tarde, quando foi ao dentista sozinha em Alto da Serra, umas das regiões mais atingidas pelas chuvas. Deixou uma filha de 24 anos.

Daniela da Silva Viana é outra das mulheres ainda não encontradas. Aos 30 anos, voltava do trabalho no supermercado quando a água começou a subir pelo degrau do ônibus. Avisou a mãe que a corrente já balançava o veículo para o lado do rio, mandando em seguida uma foto da porta. Estava com medo. Ficaram esperando ela voltar, mas não voltou.

No dia seguinte, surgiu o vídeo do mesmo ônibus sendo arrastado junto a um segundo, enquanto passageiros tentavam escalar as janelas. A gravação que ela postou nas redes sociais lá de dentro já sumiu, depois de 24 horas. O telefone chama, chama, mas ninguém atende.

O pai só soube "quando o dia já estava brotando", diz o pedreiro José Viana, 59. Procuraram em tudo quanto é unidade de saúde e deixaram o IML por último, onde ainda não conseguiram notícias. A mãe, Tânia Maria da Silva, 59, já avisou a perícia que ela usa aparelho e tem tatuagens. "Eu sinceramente já tô certa", fala a uma amiga no telefone.

Bem em frente ao ponto onde os ônibus tombaram estava a casa de João Carlos Castro de Oliveira, 55. Ele também conversava com a família naquela tarde, mas preocupado com os cinco irmãos, afinal sua casa ficava no centro da cidade e não tinha risco de cair. Só que caiu.

A última mensagem antes da tromba d'água descer foi às 18h08, dizendo para tomarem cuidado, conta uma das irmãs, que também não quis se identificar. Foi sozinho, porque a esposa estava no trabalho.

A poucos metros dali, o mecânico Emídio Júlio Vicente, 43, esperava para reconhecer o corpo da mãe, Maria de Fátima dos Anjos Vicente, 64.

"Ver se tem pelo menos enterro digno", espera. Ela estava em casa, em cima do Morro da Oficina, onde o maior deslizamento da cidade levou cerca de 80 casas.

Foram cinco ou seis pessoas de uma vez, ele conta: ela, o esposo, a sogra dela e três crianças. "Ali é uma lage de pedra, escorregou e desceu tudo. Já tinha caído outras coisas antes, mas coisas pequenas. Rolado pedra, barreirinha pequena, não imaginava que ia descer aquela coisa enorme."

Emídio diz que a sirene toca com frequência no morro. "Tocar até toca, mas até as pessoas saírem... Uns saem, outros não, uns não têm nem para onde ir", lamenta.

Por: Matheus Moreira

No dia anterior aos temporais que já deixaram ao menos 66 mortos em Petrópolis (RJ), a Defesa Civil do Rio de Janeiro recebeu um alerta de possibilidade de "chuvas isoladas ao longo do dia, podendo deflagrar deslizamentos pontuais, especialmente nas regiões de serra e/ou densamente urbanizadas" na região Serrana do Rio de Janeiro, onde fica a cidade.

O aviso foi dado na segunda-feira (14) pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais) e deveria ter levado as autoridades a retirarem os moradores do local, diz Paulo Artaxo, professor titular do Instituto de Física da USP e vice-presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo.

"O governo do Rio de Janeiro deveria ter evacuado Petrópolis quando recebeu o alerta de risco de desastre. Isso é óbvio", afirma.

Choveu na região em poucas horas mais do que era esperado para todo o mês de fevereiro. Foram 258 mm, e a previsão é de mais chuva forte na quinta (17) e sexta (18).

"Se há um alerta de chuva forte em uma região sabidamente de risco, a primeiríssima coisa a se fazer é retirar todo mundo desse local", disse Artaxo.

Para o físico, não houve evacuação porque a Defesa Civil do Rio de Janeiro não está preparada para lidar com uma situação como essa. "Uma década depois do desastre de 2011 e isso volta a acontecer. O contexto climático, chuva e região de risco, é similar ao de dez anos atrás e ainda assim vivemos mais um desastre."

Artaxo avalia que, apesar de ter havido avanços, como a instalação de sirenes na região e o monitoramento de áreas de risco após a criação do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais), "de nada adianta monitorar o risco se a Defesa Civil não for capaz de atuar. As defesas civis brasileiras precisam quadruplicar de tamanho urgentemente", afirma.

Os deslizamentos foram previstos e notificados à Defesa Civil do estado, mas a magnitude pegou a todos de surpresa, diz José Marengo, meteorologista e coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden.

A violência e intensidade dos deslizamentos remetem à tragédia de 2011 na região serrana do Rio. Na ocasião, mais de 900 pessoas morreram. O caso foi classificado pela ONU como um dos dez piores deslizamentos do mundo em 111 anos.

Para Marengo, não há dúvida de que os eventos climáticos estão cada vez mais extremos, mesmo em comparação à tragédia de 2011.

"Menos pessoas morrem hoje porque se criou uma cultura de monitoramento de desastres com a criação do Cemaden. Até 2011, os alertas tratavam apenas da chuva e não de movimentação de massa [deslizamentos, escorregamentos e correlatos]."

O meteorologista reflete sobre a importância do monitoramento para evitar mortes -uma vez que, apesar de ser possível gerar alertas, é praticamente impossível evitar os deslizamentos-, e compara a tragédia de 2011 à da Bahia em dezembro de 2021. "As chuvas na Bahia foram piores do que as de Petrópolis, mas morreram menos pessoas do que em 2011."

Alguns pontos da região serrana do Rio de Janeiro registraram cerca de 200 mm de chuva em um dos dias mais chuvosos de janeiro de 2011. Em 24 de janeiro, as prefeituras já haviam resgatado mais de 800 corpos. Em Itamaraju, no sul da Bahia, uma década mais tarde, em um único dia foram registrados cerca de 324 mm de chuva. No fim do mês, o número de mortos chegava a 24 e pelo menos 58 cidades haviam sido afetadas. Ainda assim, o país não aprendeu o que deveria, diz Artaxo.

"Escolas foram varridas do mapa ontem em Petrópolis. Essas crianças vão perder um ano de suas vidas por causa de um desastre que poderia ter sido evitado se o Brasil tivesse aprendido a lição após 2011. O Cemaden precisa crescer e receber verba."

O Cemaden foi criado em julho de 2011 por decreto da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) menos de seis meses após o maior desastre na região Serrana.

A Defesa Civil não respondeu aos emails e mensagens da reportagem com pedidos de informação e posicionamento enviados às 8h25 e às 11h02 desta quarta (16).