Por: Matheus Rocha

Em meio à destruição causada pelos temporais que devastaram Petrópolis, o despachante Samuel de Oliveira conseguiu salvar um casal que estava preso dentro de um carro que foi invadido pelas águas. O veículo ficou praticamente destruído dentro de um canal, dentro do qual ele caiu nesta terça-feira (15), quando uma forte chuva afetou a região.

"Eu comecei a escutar gritos de socorro. Pulei em cima do carro e vi que tinha gente dentro dele. Começamos então a quebrar a traseira do carro e puxamos o casal. Eles gritavam por socorro, e a gente pedia para eles terem calma, que logo mais conseguiríamos tirá-los", diz Oliveira. Testemunhas afirmam que o casal estava dentro do carro inundado havia pelo menos duas horas.


Segundo Oliveira, o casal ainda conseguia respirar em razão de um bolsão de ar dentro do veículo. "Tivemos que pensar muito rápido para resgatá-los, porque ficamos com medo de voltar a chover e entrar mais água no carro. Mas, graças a Deus, conseguimos tirar eles sem nenhum arranhão", diz o despachante.

Ele afirma ainda que nunca viu em Petrópolis uma chuva com tamanha intensidade quanto a que caiu ontem. De acordo com as autoridades, choveu em apenas seis horas (260 mm) o equivalente aos últimos 30 dias (272 mm) –e ainda deve chover mais. A previsão para o município é de pancadas moderadas isoladas durante a tarde e à noite, e de chuva forte na quinta (17) e na sexta (18).

Marcelo Soares, 52, também diz que nunca viu uma chuva com essa intensidade na cidade imperial. Na manhã desta quarta-feira (16), ele seguia com a família para a casa de um parente após o temporal ter destruído o imóvel onde morava.

"A casa caiu e não restou nada. Acabou tudo. Agora é esperar e ver o que o poder público pode fazer pela gente. Eu sei que está difícil para todo mundo, mas que a gente não seja esquecido", diz ele.

Segundo o governador Cláudio Castro (PL), as secretarias de desenvolvimento social do estado e do município estão cadastrando os afetados pela chuva para que possam receber assistência.

Já as câmaras de Petrópolis e do Rio de Janeiro estão recebendo donativos para as vítimas das chuvas. Podem ser doados alimentos não perecíveis, água potável, itens de limpeza, de higiene pessoal, máscaras e álcool em gel.

A expectativa de Soares agora é conseguir reconstruir a própria vida. "Nós vamos tocar a nossa vidinha e ver o que vai acontecer, porque isso é muito sério. Nunca vi acontecer algo dessa intensidade em Petrópolis."

Um forte temporal atingiu Petrópolis, cidade da região serrana do Rio de Janeiro, na tarde desta terça-feira (15), causando inundações, enxurradas e deslizamentos. Ao menos 38 pessoas morreram, segundo o Corpo de Bombeiros.

A Defesa Civil atua para consolidar o número de vítimas e regiões atendidas, pois há grande dificuldade de acesso em parte da cidade. A previsão é de mais chuva nos próximos dias.

Os bombeiros foram chamados para dezenas de atendimentos no município, e ao menos 180 militares estão no local. Foram seis horas de chuva. Há áreas em que o socorro ainda não conseguiu chegar, devido à situação caótica da cidade. A Defesa Civil Estadual também está trabalhando em apoio às vítimas.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram carros sendo arrastados pela correnteza e grandes deslizamentos. Na região do Morro da Oficina, onde ocorreram desmoronamentos, crianças foram retiradas sujas de lama de uma escola, parcialmente destruída.

A prefeitura decretou estado de calamidade pública. Até o meio da madrugada, haviam sido registradas 207 ocorrências, sendo 171 deslizamentos. Também ocorreram alagamentos e quedas de árvores. Os bairros mais atingidos são Centro, Quitandinha, Caxambu, Alto da Serra, Coronel Veiga, Duarte da Silveira, Floresta, Caxambu e Chácara Flora.

Até o momento, no Morro da Oficina, no Alto da Serra, a informação é que 80 casas foram afetadas. Em outras regiões, como 24 de Maio, Caxambu, Sargento Boening, Moinho Preto, Vila Felipe, Vila Militar e as ruas Uruguai, Whashington Luiz e Coronel Veiga também há registros.

Moradores relatam que, após o temporal, encontraram um cenário de guerra nas ruas de Petrópolis, com muita lama, casas destruídas ou alagadas, ferro retorcido e carros amontoados e destruídos. Corpos foram retirados das ruas durante a madrugada desta quarta-feira (16), na região central, depois que o nível da água baixou.

Ainda não há certeza sobre o número de desaparecidos. Moradores procuram familiares nas ruas, hospitais e divulgam fotos nas redes sociais.

Durante a tarde houve um registro de acumulado pluviométrico de 258 milímetros, um valor acima da média esperada para todo o mês, que seria de 238,2 mm. Há previsão de chuva nos próximos três dias, com possibilidade de ser forte na quinta (17) e na sexta (18).

Segundo a Defesa Civil, há 184 pessoas acolhidas em pontos de apoio que funcionam em escolas da cidade. Os postos de saúde e hospitais estão lotados de pessoas feridas. O Hospital da Unimed suspendeu as cirurgias eletivas e o atendimento ao público, nesta quarta, para atender os pacientes transportados pelo Samu e Corpo de Bombeiros.

As aulas da rede municipal de ensino estão suspensas nesta quarta-feira. Serviços administrativos da prefeitura também não vão funcionar.

O governo informou que oito ambulâncias estão sendo enviadas para a cidade para atuar no socorro às vítimas. Dez aeronaves foram disponibilizadas para chegar à cidade na manhã desta quarta.

Já no município, o governador Cláudio Castro (PL) participou de uma reunião com secretários estaduais e com o comandante-geral dos Bombeiros. "Os maquinários das secretarias de Infraestrutura e Obras, das Cidades, do Ambiente e de Agricultura, além de equipamentos usados pela Cedae, estarão rumo ao município para ajudar na limpeza das ruas e vias atingidas pelas chuvas", afirmou o governo fluminense em nota.

"Estou pessoalmente aqui e só sairei daqui depois que estivermos com o trabalho 100% organizado e pronto para atender melhor ainda a população", disse Castro, em suas redes sociais.

O 26º BPM (Petrópolis) atua em apoio na operação na cidade em auxílio a órgãos municipais. A polícia desmentiu a informação de que ocorreram arrastões e tiroteios após o temporal.

O prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), afirmou que pôs toda a estrutura do município à disposição do prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo, para auxiliar nas operações.

Nas redes sociais, Bomtempo disse que tinha acabado de chegar a Brasília quando ficou sabendo das chuvas e que por volta das 22h já estaria de volta a Petrópolis.

"Estamos passando por uma situação de extrema gravidade e direcionamos todos os esforços para garantir o socorro da população", disse o prefeito.

Ele afirmou que ligou para empresas e empreiteiros pedindo máquinas, caminhões e pessoal para auxiliar na recuperação da cidade.

"Quero dizer para o nosso povo aguentar firme, que se Deus quiser essa chuva vai passar, a gente vai conseguir dar uma resposta", disse.

O presidente Jair Bolsonaro (PL), em visita à Rússia, afirmou em suas redes sociais que contatou os ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Paulo Guedes (Economia) para auxiliar imediatamente as vítimas das fortes chuvas.

Por: Matheus Moreira

A cidade de Petrópolis registrou nesta terça (15) o maior volume de chuva em 24 horas desde 1952, segundo informações da repartição do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) no Rio de Janeiro. Dezenas de pessoas morreram em decorrência de deslizamentos de terra.

A soma de 259,8 mm de chuva nesta terça só perde em volume para a de 20 de agosto de 1952, ocasião em que foram registrados 168,2 mm acumulados em 24h. De acordo com Marlene Leal, meteorologista do Inmet do Rio, as condições climáticas que causaram o desastre em Petrópolis são muito parecidas com as que causaram o desastre de 2011 na região serrana do Rio de Janeiro, atingindo Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo.

Leal explica que, assim como em 2011, as fortes chuvas se devem à mistura da alta umidade relativa do ar com alta temperatura, somada à frente fria instalada sobre o mar do litoral fluminense e à ocorrência do La Niña. "A diferença entre 2011 e agora é que desta vez as nuvens de chuva ficaram muito concentradas sobre Petrópolis. A abrangência foi muito menor do que na década passada", afirma a meteorologista.

Para Leal, mesmo com os alertas emitidos pelo Inmet e Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), a intensidade da chuva concentrada sobre Petrópolis surpreendeu.

Os primeiros alertas eram amarelos, ou seja, indicavam risco potencial de tempestade com possibilidade de chuva de até 50 mm por dia, segundo o sistema Alert-As do instituto.
Para o intervalo de 24h de 11h desta quarta (16) até 11h desta quinta-feira (17), o alerta se mantém amarelo e soma-se a ele um alerta laranja, mais grave, de chuvas intensas e cujo grau de severidade adotado pelo instituto é de perigo, podendo chegar a 100 mm acumulados em 24h.

Diferentes campanhas buscam arrecadar doações para as vítimas da forte chuva que atingiu Petrópolis, cidade da região serrana do Rio de Janeiro, na tarde desta terça-feira (15).

As doações podem ser feitas por transferências de dinheiro até itens básicos, como alimentos e produtos de higiene.

Na manhã desta quarta (16), a demanda mais urgente era por água mineral.

A chuva provocou inundações, enxurradas e deslizamentos, deixando dezenas de mortos e muitos desabrigados, segundo o Corpo de Bombeiros.

A prefeitura decretou estado de calamidade pública. Até o meio da madrugada, haviam sido registradas 207 ocorrências, sendo 171 deslizamentos. Também ocorreram alagamentos e quedas de árvores. Os bairros mais atingidos são Centro, Quitandinha, Caxambu, Alto da Serra, Coronel Veiga, Duarte da Silveira, Floresta, Caxambu e Chácara Flora.
Saiba como doar:

O CDDH Petrópolis (Centro de Defesa dos Direitos Humanos) está arrecadando alimentos, cobertores, água potável, itens de higiene pessoal e de limpeza e roupas. As doações podem ser entregues na rua Monsenhor Bacelar, 400, centro (subida do relógio das flores em frente).

A doação pode ser feita também em dinheiro na conta do Banco do Brasil do Centro de Defesa dos Direitos Humanos (agência 2885-1 e conta corrente 127599-2). O CNPJ é 27.219.757/0001-27.

A organização comunitária SOSerra também está recebendo doações via Pix (24) 99303-8885

A Cáritas Arquidiocesana de Petrópolis está aceitando doações em dinheiro. A transferência pode ser feita para o Banco Bradesco (agência 0814-1 e conta corrente 48500-4).

O clube Botafogo colocou à disposição o estádio Nilton Santos para doações de mantimentos. As entregas podem ser feitas na rua José dos Reis, 425 - Engenho de Dentro, no portão Norte 2.

Por: Matheus Rocha

Em poucos minutos, Elenir de Souza viu ruir o que levou 38 anos para construir. Moradora da Vila Felipe, bairro de Petrópolis (RJ), ela precisou sair de casa às pressas porque parte do imóvel desabou em razão das fortes chuvas que castigaram a cidade nesta terça-feira (15), matando pelo menos 66 pessoas e deixando mais de 300 desabrigados.
"Foi uma luta muito grande para eu construir minha casa e perder tudo assim tão de repente, é muito doloroso. É uma tragédia. O meu bairro acabou. Eu moro na Vila Felipe há 38 anos. São 38 anos de muita história, mas a vila acabou", disse ela, enquanto outros desabrigados procuravam roupa em uma igreja batista localizada no bairro de Alto da Serra, uma das áreas mais afetadas pelos temporais.

"Só saí com documento de casa e mais nada. Nós chegamos ao abrigo completamente enlameadas", conta Elenir, acrescentando que perdeu no temporal muitos vizinhos. "Casas desceram morro abaixo. Várias amigas morreram. Filhos, maridos e netos morreram", diz ela, contando nos dedos os amigos e vizinhos que perderam a vida.

A estudante Emily dos Santos,15, também perdeu pessoas próximas. "A minha avó está soterrada. O meu primo de quatro aninhos está com ela. É realmente muito triste. Não tem o que falar nessas horas", diz a jovem, cuja prima e o filho dela de dois anos também estão desaparecidos. Ela conta não ter ouvido o momento em que as casas começaram a desabar e diz que a família foi alertada por sua avó paterna. "Foi tudo muito de repetente. A minha mãe estava cozinhando feijão e não escutamos as casas do lado caindo. A minha outra avó conseguiu ver e começou a gritar. Quando a gente saiu, a casa desabou. Foi realmente Deus protegendo a gente. Mais um minuto e não ia dar, porque não sobrou nada."

Sentada com a família em uma praça de Alto da Serra, ela diz que os abrigos lotaram e que, por isso, não conseguiu vaga nas unidades. "A gente só quer um abrigo ou algum lugar para ficar. Estamos cheios de crianças, sem comida e sem água", diz ela, que estava na praça com a família desde as primeiras horas da manhã.

Ali ao lado, Carla dos Santos, 35, mãe da jovem, segurava uma criança no colo sem saber como iria fazer para o almoço. Ela só tinha comido um pedaço de pão, entregue por uma pessoa que mora no entorno da praça. Já a água que eles tinham para beber havia sido dada por um bombeiro. "A gente não sabe o que fazer. A gente não sabe para onde ir. Estamos ao Deus dará, esperando para ver o que vai acontecer. Só que estou mais interessada em saber notícias da minha mãe, que está desaparecida", diz ela.

A alguns metros dali, Carlos Alberto, 56, conta que uma amiga morreu nesta terça-feira, quando o ônibus em que estava caiu dentro de um rio durante o temporal. "Ela estava desaparecida e, quando fui ver no Whatsapp, descobri que ela tinha morrido. Nós tínhamos esperança de encontrá-la com vida. É a mesma esperança que temos agora de encontrar com vida amigas nossas que estão desaparecidas aqui", disse ele, apontando direção a um morro enquanto outros desabrigados desciam com trouxas de roupas sobre os ombros. "Não existe outro sentimento que não seja de tristeza."

A Polícia Militar prendeu no último domingo (13) a blogueira Rayane Figliuzzi, acusada de integrar uma quadrilha de estelionatários. A jovem foi presa em um restaurante no centro de Areal, município localizado no centro-sul do Rio de Janeiro, após ser monitorada por agentes durante quatro horas.

Segundo as investigações, ela é suspeita de fazer parte da Família Errejota, grupo especializado no chamado golpe do motoboy.

Nesse crime, os estelionatários se fazem passar por funcionários de bancos e dizem que o cartão da vítima está com problemas. Os criminosos falam, então, que um motoboy vai buscar o cartão para levá-lo a uma agência e resolver o problema.

Segundo o portal G1, Rayane é noiva de Alexandre Navarro Junior, o Juninho, líder da quadrilha. Em julho do ano passado, a Polícia Civil já havia prendido membros do grupo em um apartamento no Recreio dos Bandeirantes, bairro na zona oeste do Rio de Janeiro.

Segundo a corporação, cinco mulheres foram presas em flagrante durante ação no imóvel, onde os agentes encontraram uma espécie de central de telemarketing montada pelos golpistas.

Os policiais apreenderam telefones celulares, anotações, máquinas de cartão de crédito e outros objetos usados para aplicar o golpe.

De acordo com as investigações, os criminosos obtinham os dados bancários das vítimas e, por meio dessas informações, entravam em contato com elas fingindo serem funcionários da empresa dona do cartão de crédito.

Na ligação, eles informavam que havia irregularidades em compras e pediam senhas e dados pessoais para resolver o suposto problema. Quando conseguiam essas informações, eles enviavam à casa da pessoa um motoboy para pegar o cartão que seria fraudado.

Com ele, a quadrilha efetuava transações financeiras como saques, transferências por meio de PIX, empréstimos e compras. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Rayane Figliuzzi.