Por: Marianna Holanda

O Exército, por meio do Comando Conjunto Leste, passou a atuar na tragédia de Petrópolis (RJ), para ajudar as vítimas da tragédia causada pelas enchentes no município.

De acordo com a instituição, o apoio começou a partir de quarta-feira (16), com emprego de tropas, viaturas e equipamentos. Serão disponibilizados, por exemplo, ambulâncias e equipes de primeiros-socorros, além de maquinário para desobstrução de vias.

O município na região serrana do Rio de Janeiro foi atingido por fortes tempestades na última terça-feira (15), resultando inundações, enxurradas e deslizamentos que levaram à morte ao menos 104 pessoas.

"De imediato, por meio do 32º Batalhão de Infantaria Leve de Montanha (32º BIL Mth), sediado na região, foram disponibilizadas viaturas 5 Ton (caminhões), ambulâncias e equipes de primeiros socorros, estando a unidade militar em condições de ampliar o apoio, assim como auxiliar desabrigados em uma escola dentro da sua área, em estreita coordenação com a Defesa Civil Estadual", diz o comando em nota.

Além disso, o texto também afirma que as tropas da 4ª Brigada de Infantaria Leve de Montanha, sediada em Juiz de Fora (MG), também foram acionadas.

O Ministério da Defesa publicou no Diário Oficial da União desta quinta-feira portaria que determina emprego temporário das Forças Armadas em ações de apoio à Defesa Civil na região.

O ministro Walter Braga Netto está em missão oficial à Europa, acompanhando o presidente Jair Bolsonaro (PL). Assim, a portaria foi assinada pelo substituto, general Paulo Sérgio Nogueira, comandante do Exército.

Entre outras coisas, a portaria define que o Exército deve empregar "os recursos operacionais necessários para atuar em apoio à Defesa Civil, em coordenação com os órgãos municipais, estaduais e federais, a fim de contribuir para a mitigação dos efeitos das chuvas na região".

Até a tarde de quarta, a Defesa Civil Municipal contabilizou 325 ocorrências: 269 deslizamentos de terra e 56 desabamentos e quedas de muro e árvores. As equipes ainda trabalham nos resgates, pois há grande dificuldade de acesso em alguns locais.

O Ministério da Saúde disse, em nota, que enviou 500 kg de medicamentos para auxílio de vítimas das chuvas. Além de equipes para fortalecer os atendimentos. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, esteve na cidade nesta quinta-feira (17).

"[Estamos aqui] para nos comprometermos em trazer apoio aqueles que precisam de assistência em saúde. O Ministério da Saúde já enviou equipes da vigilância em saúde, da Força Nacional e da atenção primária para oferecer suporte necessário para aqueles que estão desabrigados e desalojados. Nós sabemos que numa situação como essa os problemas de saúde vêm, diarreias agudas, muitos problemas", disse em um vídeo publicado nas redes sociais.

Jair Bolsonaro chegará no Brasil na sexta-feira (18) e deve seguir direto para Petrópolis, onde sobrevoará a região.

O chefe do Executivo, cujo domicílio eleitoral é no estado, afirmou ter feito "várias ligações" para os ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Paulo Guedes (Economia) para que prestassem auxílio imediato às vítimas, e ao governador Cláudio Castro (PL).

"De Moscou tomei conhecimento sobre a tragédia que se abateu em Petrópolis/RJ", disse. "Bem como conversei com o @DefesaGovBr , General Braga Neto, que me acompanha na Rússia", afirmou no Twitter.

O mandatário viajou para o país europeu na noite de segunda-feira (14), para encontro que aconteceu nesta manhã com Vladimir Putin.

"Retorno na próxima sexta-feira e, mesmo distante, continuamos empenhados em ajudar ao próximo", concluiu. Horas mais tarde, em Moscou, ele reafirmou: "Lamentamos as dezenas de mortos. Vamos falar sobre a liberação do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, no caso dos afetados) e de verbas para obras de recuperação".

Por: Matheus Rocha

Em meio à destruição causada pelos temporais que devastaram Petrópolis, o despachante Samuel de Oliveira conseguiu salvar um casal que estava preso dentro de um carro que foi invadido pelas águas. O veículo ficou praticamente destruído dentro de um canal, dentro do qual ele caiu nesta terça-feira (15), quando uma forte chuva afetou a região.

"Eu comecei a escutar gritos de socorro. Pulei em cima do carro e vi que tinha gente dentro dele. Começamos então a quebrar a traseira do carro e puxamos o casal. Eles gritavam por socorro, e a gente pedia para eles terem calma, que logo mais conseguiríamos tirá-los", diz Oliveira. Testemunhas afirmam que o casal estava dentro do carro inundado havia pelo menos duas horas.


Segundo Oliveira, o casal ainda conseguia respirar em razão de um bolsão de ar dentro do veículo. "Tivemos que pensar muito rápido para resgatá-los, porque ficamos com medo de voltar a chover e entrar mais água no carro. Mas, graças a Deus, conseguimos tirar eles sem nenhum arranhão", diz o despachante.

Ele afirma ainda que nunca viu em Petrópolis uma chuva com tamanha intensidade quanto a que caiu ontem. De acordo com as autoridades, choveu em apenas seis horas (260 mm) o equivalente aos últimos 30 dias (272 mm) –e ainda deve chover mais. A previsão para o município é de pancadas moderadas isoladas durante a tarde e à noite, e de chuva forte na quinta (17) e na sexta (18).

Marcelo Soares, 52, também diz que nunca viu uma chuva com essa intensidade na cidade imperial. Na manhã desta quarta-feira (16), ele seguia com a família para a casa de um parente após o temporal ter destruído o imóvel onde morava.

"A casa caiu e não restou nada. Acabou tudo. Agora é esperar e ver o que o poder público pode fazer pela gente. Eu sei que está difícil para todo mundo, mas que a gente não seja esquecido", diz ele.

Segundo o governador Cláudio Castro (PL), as secretarias de desenvolvimento social do estado e do município estão cadastrando os afetados pela chuva para que possam receber assistência.

Já as câmaras de Petrópolis e do Rio de Janeiro estão recebendo donativos para as vítimas das chuvas. Podem ser doados alimentos não perecíveis, água potável, itens de limpeza, de higiene pessoal, máscaras e álcool em gel.

A expectativa de Soares agora é conseguir reconstruir a própria vida. "Nós vamos tocar a nossa vidinha e ver o que vai acontecer, porque isso é muito sério. Nunca vi acontecer algo dessa intensidade em Petrópolis."

Quase dois dias após o temporal que devastou Petrópolis, as vítimas das enchentes e deslizamentos começam a ser identificadas.

Segundo as autoridades, choveu em apenas seis horas (260 mm) o equivalente aos últimos 30 dias (272 mm). A Defesa Civil enviou à população de Petrópolis mensagens dizendo que ainda há previsão de chuva forte na tarde e na noite desta quinta (17). O órgão orienta que a população fique atenta aos informes e que, em caso de emergência, ligue para o número 199.

A Polícia Civil diz que há 101 corpos no IML (Instituto Médico Legal) de Petrópolis, sendo que 33 foram identificados até o momento.

No total de pessoas mortas, 65 são mulheres, 36, homens, e 13, menores de idade. Alguns corpos estão sendo armazenados em um caminhão frigorífico instalado no PRPTC (Posto Regional de Polícia Técnica Científica), no bairro Corrêas.

Os corpos de pelo menos 11 pessoas foram liberados para sepultamento. São eles os de Evelyn Luiza Netto da Silva, 11, Pablo Nunes Carvalho, Fábio Aniceto da Costa, Yasmin Eliseu Alves, Zilmar Batista Ramos, João Carlos de Melo Montes, Maria Clara Martins de Castro Souza, Heloise Listenberg Rodrigues, 2, Gustavo Listenberg Rodrigues, 5, Debora Listenberg Moreira, 22, e Eva Afonso da Silva.
Nem todos tiveram a idade divulgada.

A Delegacia de Descoberta de Paradeiros também atua na cidade para atender quem buscam informações sobre desaparecidos. A Polícia Civil diz que há pelo menos 134 registros de desaparecimentos em razão das chuvas.

Na noite de quarta-feira, o Ministério Público do Rio de Janeiro cadastrou 35 pessoas desaparecidas no Plid/MPRJ (Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos). O órgão diz ainda que informações sobre desaparecidos são recebidas pelo telefone (21) 2262-1049 ou pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Até o fim da manhã desta quinta (17), a Defesa

Civil contabilizou 399 ocorrências em Petrópolis, das 323 por deslizamentos. ​Além disso, 705 pessoas precisaram ser encaminhadas para os 33 pontos de apoio montados em escolas da rede pública. As aulas estão suspensas para que as famílias possam ser atendidas por profissionais das secretarias de Assistência Social, Saúde e Educação.

Na madrugada desta quinta-feira, agentes da Defesa Civil em conjunto com o Corpo de Bombeiros retiraram dois corpos no Caxambu. Eles regataram também outras seis vítimas, que foram retiradas dos escombros na rua Santa Teresa.

O governo do estado informou na quarta-feira (16) que 24 pessoas foram salvas com vida e que um hospital de campanha com dez leitos foi montado para oferecer os primeiros atendimentos.

Petrópolis tem 234 locais considerados de risco alto ou muito alto para deslizamentos, enchentes e inundações, o que equivale a 18% do território e a aproximadamente 12 mil moradias, segundo o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR) de 2018.

As regiões do primeiro distrito foram as mais afetadas, sendo as ocorrências mais graves registradas nos locais Morro da Oficina, 24 de Maio, Caxambu, Sargento Boening, Moinho Preto, rua Uruguai, rua Washington Luiz, Coronel Veiga, Vila Militar, Vila Felipe, avenida Portugal e rua Honorato Pereira.

Moradora da Vila Felipe, Elenir de Souza diz que o bairro foi destruído pela força das águas. "Foi uma luta muito grande para eu construir minha casa e perder tudo assim tão de repente, é muito doloroso. É uma tragédia. O meu bairro acabou", diz ela, que conseguiu sair de casa apenas com roupa do corpo. "Só saí com documento de casa e mais nada. Nós chegamos ao abrigo completamente enlameadas."

Por: Matheus Moreira

A cidade de Petrópolis registrou nesta terça (15) o maior volume de chuva em 24 horas desde 1952, segundo informações da repartição do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) no Rio de Janeiro. Dezenas de pessoas morreram em decorrência de deslizamentos de terra.

A soma de 259,8 mm de chuva nesta terça só perde em volume para a de 20 de agosto de 1952, ocasião em que foram registrados 168,2 mm acumulados em 24h. De acordo com Marlene Leal, meteorologista do Inmet do Rio, as condições climáticas que causaram o desastre em Petrópolis são muito parecidas com as que causaram o desastre de 2011 na região serrana do Rio de Janeiro, atingindo Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo.

Leal explica que, assim como em 2011, as fortes chuvas se devem à mistura da alta umidade relativa do ar com alta temperatura, somada à frente fria instalada sobre o mar do litoral fluminense e à ocorrência do La Niña. "A diferença entre 2011 e agora é que desta vez as nuvens de chuva ficaram muito concentradas sobre Petrópolis. A abrangência foi muito menor do que na década passada", afirma a meteorologista.

Para Leal, mesmo com os alertas emitidos pelo Inmet e Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), a intensidade da chuva concentrada sobre Petrópolis surpreendeu.

Os primeiros alertas eram amarelos, ou seja, indicavam risco potencial de tempestade com possibilidade de chuva de até 50 mm por dia, segundo o sistema Alert-As do instituto.
Para o intervalo de 24h de 11h desta quarta (16) até 11h desta quinta-feira (17), o alerta se mantém amarelo e soma-se a ele um alerta laranja, mais grave, de chuvas intensas e cujo grau de severidade adotado pelo instituto é de perigo, podendo chegar a 100 mm acumulados em 24h.

Por: Matheus Moreira

No dia anterior aos temporais que já deixaram ao menos 66 mortos em Petrópolis (RJ), a Defesa Civil do Rio de Janeiro recebeu um alerta de possibilidade de "chuvas isoladas ao longo do dia, podendo deflagrar deslizamentos pontuais, especialmente nas regiões de serra e/ou densamente urbanizadas" na região Serrana do Rio de Janeiro, onde fica a cidade.

O aviso foi dado na segunda-feira (14) pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais) e deveria ter levado as autoridades a retirarem os moradores do local, diz Paulo Artaxo, professor titular do Instituto de Física da USP e vice-presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo.

"O governo do Rio de Janeiro deveria ter evacuado Petrópolis quando recebeu o alerta de risco de desastre. Isso é óbvio", afirma.

Choveu na região em poucas horas mais do que era esperado para todo o mês de fevereiro. Foram 258 mm, e a previsão é de mais chuva forte na quinta (17) e sexta (18).

"Se há um alerta de chuva forte em uma região sabidamente de risco, a primeiríssima coisa a se fazer é retirar todo mundo desse local", disse Artaxo.

Para o físico, não houve evacuação porque a Defesa Civil do Rio de Janeiro não está preparada para lidar com uma situação como essa. "Uma década depois do desastre de 2011 e isso volta a acontecer. O contexto climático, chuva e região de risco, é similar ao de dez anos atrás e ainda assim vivemos mais um desastre."

Artaxo avalia que, apesar de ter havido avanços, como a instalação de sirenes na região e o monitoramento de áreas de risco após a criação do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais), "de nada adianta monitorar o risco se a Defesa Civil não for capaz de atuar. As defesas civis brasileiras precisam quadruplicar de tamanho urgentemente", afirma.

Os deslizamentos foram previstos e notificados à Defesa Civil do estado, mas a magnitude pegou a todos de surpresa, diz José Marengo, meteorologista e coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden.

A violência e intensidade dos deslizamentos remetem à tragédia de 2011 na região serrana do Rio. Na ocasião, mais de 900 pessoas morreram. O caso foi classificado pela ONU como um dos dez piores deslizamentos do mundo em 111 anos.

Para Marengo, não há dúvida de que os eventos climáticos estão cada vez mais extremos, mesmo em comparação à tragédia de 2011.

"Menos pessoas morrem hoje porque se criou uma cultura de monitoramento de desastres com a criação do Cemaden. Até 2011, os alertas tratavam apenas da chuva e não de movimentação de massa [deslizamentos, escorregamentos e correlatos]."

O meteorologista reflete sobre a importância do monitoramento para evitar mortes -uma vez que, apesar de ser possível gerar alertas, é praticamente impossível evitar os deslizamentos-, e compara a tragédia de 2011 à da Bahia em dezembro de 2021. "As chuvas na Bahia foram piores do que as de Petrópolis, mas morreram menos pessoas do que em 2011."

Alguns pontos da região serrana do Rio de Janeiro registraram cerca de 200 mm de chuva em um dos dias mais chuvosos de janeiro de 2011. Em 24 de janeiro, as prefeituras já haviam resgatado mais de 800 corpos. Em Itamaraju, no sul da Bahia, uma década mais tarde, em um único dia foram registrados cerca de 324 mm de chuva. No fim do mês, o número de mortos chegava a 24 e pelo menos 58 cidades haviam sido afetadas. Ainda assim, o país não aprendeu o que deveria, diz Artaxo.

"Escolas foram varridas do mapa ontem em Petrópolis. Essas crianças vão perder um ano de suas vidas por causa de um desastre que poderia ter sido evitado se o Brasil tivesse aprendido a lição após 2011. O Cemaden precisa crescer e receber verba."

O Cemaden foi criado em julho de 2011 por decreto da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) menos de seis meses após o maior desastre na região Serrana.

A Defesa Civil não respondeu aos emails e mensagens da reportagem com pedidos de informação e posicionamento enviados às 8h25 e às 11h02 desta quarta (16).

Por: Matheus Rocha

Em poucos minutos, Elenir de Souza viu ruir o que levou 38 anos para construir. Moradora da Vila Felipe, bairro de Petrópolis (RJ), ela precisou sair de casa às pressas porque parte do imóvel desabou em razão das fortes chuvas que castigaram a cidade nesta terça-feira (15), matando pelo menos 66 pessoas e deixando mais de 300 desabrigados.
"Foi uma luta muito grande para eu construir minha casa e perder tudo assim tão de repente, é muito doloroso. É uma tragédia. O meu bairro acabou. Eu moro na Vila Felipe há 38 anos. São 38 anos de muita história, mas a vila acabou", disse ela, enquanto outros desabrigados procuravam roupa em uma igreja batista localizada no bairro de Alto da Serra, uma das áreas mais afetadas pelos temporais.

"Só saí com documento de casa e mais nada. Nós chegamos ao abrigo completamente enlameadas", conta Elenir, acrescentando que perdeu no temporal muitos vizinhos. "Casas desceram morro abaixo. Várias amigas morreram. Filhos, maridos e netos morreram", diz ela, contando nos dedos os amigos e vizinhos que perderam a vida.

A estudante Emily dos Santos,15, também perdeu pessoas próximas. "A minha avó está soterrada. O meu primo de quatro aninhos está com ela. É realmente muito triste. Não tem o que falar nessas horas", diz a jovem, cuja prima e o filho dela de dois anos também estão desaparecidos. Ela conta não ter ouvido o momento em que as casas começaram a desabar e diz que a família foi alertada por sua avó paterna. "Foi tudo muito de repetente. A minha mãe estava cozinhando feijão e não escutamos as casas do lado caindo. A minha outra avó conseguiu ver e começou a gritar. Quando a gente saiu, a casa desabou. Foi realmente Deus protegendo a gente. Mais um minuto e não ia dar, porque não sobrou nada."

Sentada com a família em uma praça de Alto da Serra, ela diz que os abrigos lotaram e que, por isso, não conseguiu vaga nas unidades. "A gente só quer um abrigo ou algum lugar para ficar. Estamos cheios de crianças, sem comida e sem água", diz ela, que estava na praça com a família desde as primeiras horas da manhã.

Ali ao lado, Carla dos Santos, 35, mãe da jovem, segurava uma criança no colo sem saber como iria fazer para o almoço. Ela só tinha comido um pedaço de pão, entregue por uma pessoa que mora no entorno da praça. Já a água que eles tinham para beber havia sido dada por um bombeiro. "A gente não sabe o que fazer. A gente não sabe para onde ir. Estamos ao Deus dará, esperando para ver o que vai acontecer. Só que estou mais interessada em saber notícias da minha mãe, que está desaparecida", diz ela.

A alguns metros dali, Carlos Alberto, 56, conta que uma amiga morreu nesta terça-feira, quando o ônibus em que estava caiu dentro de um rio durante o temporal. "Ela estava desaparecida e, quando fui ver no Whatsapp, descobri que ela tinha morrido. Nós tínhamos esperança de encontrá-la com vida. É a mesma esperança que temos agora de encontrar com vida amigas nossas que estão desaparecidas aqui", disse ele, apontando direção a um morro enquanto outros desabrigados desciam com trouxas de roupas sobre os ombros. "Não existe outro sentimento que não seja de tristeza."